domingo, 31 de outubro de 2010

Carro eléctrico - a próxima hemorragia

Há tempos reflectia aqui sobre a aldrabice tecnológica fundamentalista de que José Sócrates tem sido um dos maiores promotores. À boleia do politicamente correcto em que se tornou, no mundo ocidental, a luta contra o "poluente" CO2, o governo português embalou na atribuição de toda uma série de subsídios escandalosos às novas energias renováveis sem qualquer critério económico-financeiro e que já estamos a pagar com língua de palmo.

Um dos primeiros carros eléctricos
O carro eléctrico é mais uma demonstração do deslumbramento tecnológico socratino. À custa de subsídios públicos, de que se desconhece o real montante, preparamo-nos para, ainda na fase piloto (a terminar em Julho de 2010), ter uma rede de 1300 pontos de alimentação em 25 cidades! Em cima disto mantém-se, para os primeiros 5000 veículos vendidos, o subsídio unitário de 5000 euros (que pode chegar a 6500€ em caso de troca de um veículo tradicional para abate) a que acresce ainda o benefício de dedução à colecta de 803€, em sede de IRS, pela aquisição de um veículo eléctrico.

Isto é: quando o país está numa situação de pré-catástrofe financeira como não se conhecia há 80 anos e a pedir sacrifícios gigantescos aos portugueses, o governo prepara-se para gastar, para os primeiros 5000 veículos eléctricos a quantia de 36,5 milhões de euros (para além do ISV e do IUC não cobrados caso esses veículos funcionassem a combustível fóssil)! Se a coisa é, já de si, escandalosa o que dizer quando se sabe que um carro como o o Nissan Leaf  (modelo com bateria incluída) custará, após subsídios, não menos de 30 mil euros? Ou seja, que quem poderá virá a usufruir desses subsídios são exactamente aqueles que mais capacidade económica detêm!

E para quê esta fogueira de vaidades quando estudo após estudo (saiu agora o da J.D. Power) se aponta para que, num horizonte de 10 anos, apenas 7% dos veículos vendidos no mundo sejam veículos eléctricos ou hibrídos/eléctricos("plug-in") como o Chevrolet Volt? E a razão dessa baixa estimativa radica na simples razão que, mesmo mantendo os enormes subsídios actuais o custo de aquisição e de operação, não se prevê que neste horizonte eles sejam competitivos com um carro de motor de combustão interna. E isto para não falar já do problema da sua baixa autonomia ligada à actual tecnologia das baterias e daquilo que a religião "verde" ominosamente "esquece" - o que fazer das baterias inutilizadas feitas de materiais altamente poluentes...

Ver artigo, a propósito, no Washington Post.

3 comentários:

RioD'oiro disse...

Suspeito bem que a coisa terá pinta de escapatória propagandística em relação às renováveis: ''energia verde [mais cara] aplicada aos carros eléctricos "poupa" dinheiro aos portugueses''.

Bastará aplicar o pior no pior e tudo ficará bem.

Eduardo Freitas disse...

Bem formulado.

Aliás, o recurso à mentira é, já hoje, completamente descarado. Veja-se, por exemplo, aqui onde se afirma, sem ponta de vergonha, que a rede Mobi.E é «uma rede de carregamento inteligente, que utiliza energia eléctrica proveniente essencialmente de fontes renováveis e que servirá para abastecer os veículos eléctricos».

Anónimo disse...

Esquecem-se que as importações de combustíveis são uma parte importante do nosso défice comercial! Não faz muito sentido continuar a defender os veículos a combustão. Defendo que, mais do que estimular o veículo eléctrico individual, é importante defender o transporte eléctrico colectivo. É necessário dinamizar o comboio, os trams, os eléctricos e outras soluções movidas a electricidade.