terça-feira, 19 de julho de 2011

Em defesa da discriminação (corrig.)

Ramiro Marques, no Profblog:

A Universidade Católica aprovou um código de vestuário que proíbe o uso de chinelos e calções. O código é válido para docentes e alunos.

A Católica tem todo o direito de criar um código de vestuário que seja apropriado ao projeto educativo, missão e filosofia da instituição.

Mas é uma iniciativa lamentável e que vai ao arrepio das melhores práticas das melhores universidades norte-americanas e inglesas.
Como o fac-simile abaixo evidencia e o reitor esclarece, não existe na UCP um código de conduta no sentido da proibição disto ou daquilo e da adopção de aqueloutro.

E embora Ramiro Marques reconheça (mas reconhecerá mesmo?) o direito da UC em o estabelecer, classifica a decisão, inexistente, da adopção de um código de vestuário como algo "lamentável" e, supostamente, ao arrepio do "melhor que se faz lá fora".

Manifestando a minha declaração de interesses como ex-aluno da UCP embora ateu (hoje e então), defendo ferreamente como inalienável o direito de, num espaço privado, os seus detentores exigirem a observação das regras que eles próprios entendam dever ser observadas, tal como sucede na casa de cada um de nós relativamente aos que lá vivem e aos que nos visitam. E não me venham falar no tempo da outra senhora e da proibição de as raparigas usarem calças nas escolas públicas. Vivi esses tempos e recordo-os bem. Mas há uma diferença fundamental: essas regras eram impostas em escolas públicas...

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7 comentários:

john disse...

Bom dia!
E se a UCP tivesse uma escola ou departamento de desporto? Como era? Os professores e alunos também não podiam usar fato de treino nem sapatilhas?

Reconheço leitimidade ao CA da UCP fazer aquelas recomendações. O que quis fazer foi comparar o excesso de formalidade recomendado na UCP com o liberalismo e informalidade existente nas melhores universidades do Mundo: Harvard e MIT, por exemplo.

john disse...

Corrijo:
reconheço legitimidade para o CA da UCP fazer aquelas recomendações.

Eduardo Freitas disse...

Caro Ramiro Marques,

Daí a apelidar-se a questão de "lamentável", "ridícul[a]" ou "pior que isso"... irá uma distância assinalável, não acha?

Julie D´aiglemont disse...

Também sou ex-aluna da UCP (do Porto) e sou agnóstica, de forma que a parte relativa à Igreja não me diz nada. Mas acho que deve haver algum decoro na forma como as pessoas se apresentam em locais públicos. Em minha opinião, o local apropriado para usar chinelos é a praia. Mas se calhar, sou só eu, que sou uma reaccionária...

Eduardo Freitas disse...

Transcrevo comentário que deixei no Profblog:

Caro Ramiro Marques,

Agradecendo a interlocução no meu "território", regresso aqui para voltar a sublinhar que um perímetro privado deve ser capaz de reger-se, sem interferências, pelas regras que bem entende definir. Como a frequência do perímetro é facultativa, nada há de "lamentável", "ridículo" ou "pior que isso".

Os adjectivos a que recorreria para fustigar quem ataque esse direito seriam bem mais eloquentes que os que usou.

25 anos depois de ter completado cinco anos lectivos como professor no secundário em escolas públicas, confesso, retroactivamente, que estabelecia limites para a informalidade na sala de aula. Até porque havia, e deve haver, uma distinção muito simples dentro de uma sala de aula: há o professor e há os alunos pois não estão ambos no mesmo plano (apesar da abolição (idiota quanto a mim)) dos estrados...

john disse...

É uma questão de gosto. Prefiro a informalidade, pluralismo e ausência de código de vestuário de Harvard e do MIT.
Acho que os portugueses têm excesso de "cagança" e isso até se vê nas formas de tratamento. Qualquer indivíduo com um PHD exige que o tratem por senhor prof e assina Prof.Doutor. Ridículo, é o que é. Nos EUA, as pessoas tratam-se pelo nome próprio. Acho esteticamente mais bonito.
A Católica é uma boa escola de gestão e de economia. Mas quanto à investigação científica pura e dura, daquela que é feita em laboratório, estamos conversados. É cara de mais. Visite os grandes institutos de investigação científica, os que produzem prémios nóbeis e publicam na Nature e na Science, e veja como eles se vestem e calçam.

Eduardo Freitas disse...

Caro Prof. Ramiro Marques,

Voltemos ao seu post original.

1) Nele afirmava que a UCP tinha aprovado um "código de vestuário" que proibia o "uso de chinelos e calções". Como é bem de ver, essa afirmação não é, no todo ou em parte, verdadeira.

2) Qualificava depois esse (inexistente) "código" como "lamentável" e "ridículo, para não dizer pior" e que ia "ao arrepio das melhores práticas[!] das melhores universidades norte-americanas e inglesas".
Não sei se por "melhores práticas" entende um conjunto de comportamentos e códigos que conduzam à excelência de resultados (excelência de alunos e/ou excelência de produção científica). Se essa é a sua intenção, então devo dizer-lhe que as minhas visitas a centros de excelência científica, no âmbito escolar ou para-escolar, não têm coincidido com as suas no que ao código (formal ou informal) de vestuário diz respeito (sendo verdade, porém, que nunca as fiz durante o Verão). No mínimo, antes, o que há a assinalar é a enorme diversidade de padrões consoante a instituição em causa, que pessoalmente saúdo.

3) O que precede, do meu ponto de vista, nada tem a ver com "cagança" ou "andança", antes com a adaptação a um dado meio ambiente que, nas instituições privadas, é de todo legítimo que seja forçada (não é o caso da UCP de que escrevia, repare).

4) A UCP, pelo menos no tempo em que lá andei (finais de 70), era, de longe, a melhor universidade do país no âmbito das Ciências Humanas e do Direito. Hoje, porém, e falando de ciência, a Escola Superior de Biotecnologia no Porto é incontornável no panorama português pelo que a UCP não é apenas "uma boa escola de gestão e economia".

5) Continuando a falar de ciência em Portugal, o Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras, não se caracteriza propriamente por ser frequentado por doutorandos vestidos de freiras e frades matizados pelas cores das diferentes proveniências dos investigadores que o frequentam. Tão pouco se caracteriza pela quantidade de cientistas femininas de peito decotado (+ ou ++) ou de indivíduos vestindo calças a meia perna e consequentes cuecas "à vela".

6) Entrevejo na sua argumentação a propensão para um discurso igualitário onde a descoberta científica melhor se fundaria na informalidade entre aluno e professor, entre doutorando e doutor. Tenho muitas dúvidas que assim seja. Tem algum estudo à mão que possa partilhar onde se defenda tal tese?

7) Apesar de usar gravata de 2ª a 5ª feira e descansar à 6ª (no casual day) não me considero, de todo, um bota-de-elástico. Acho simplesmente um tremendo disparate que um ministro (ex-futuro-blogger que aprendi a admirar) vindo do Canadá, convide os jornalistas - logo eles! – a que o tratem por Álvaro!

8) Nos primórdios do exército comunista de Mao, houve um entendimento inicial que as fardas não deveriam identificar as patentes dos diferentes indivíduos. A coisa não deu bom resultado nas primeiras refregas com o Kuomintang e muito rapidamente "as massas" foram instruídas a olhar para os ombros uns dos outros e a agir em conformidade.

Repito, aclaro e alargo a declaração de interesses: fui aluno de Economia da UCP; não sou nem nunca fui crente ou agnóstico; não tenho qualquer interesse de nenhum tipo em nenhuma das muitas instituições da UCP.