quarta-feira, 30 de abril de 2014

Os Recursos Naturais do Mundo Não Estão a Esgotar-se (Matt Ridley)

No seu estilo inconfundível, o autor do "Optimista Racional" reitera as razões, num artigo no Wall Street Journal de sábado passado, pelas quais acredita não haver oposição entre crescimento económico e defesa e preservação do ambiente. A serenidade que a leitura dos seus escritos induz é, como sempre, admirável. É pois num registo positivo - Maio é já amanhã - que me propus traduzir o seu artigo (minha inteira responsabilidade). Apenas lamento que Matt Ridley não tenha invocado o grande "economista dos recursos" que foi Julian Simon, num artigo onde subscreve os pontos de vista deste último que, quase sozinho, travou este debate intelectual contra os catastrofistas, à cabeça dos quais continua a estar Paul Ehrlich (esse sim citado no artigo).
25 de Abril de 2014
Por Matt Ridley

Os Recursos Naturais do Mundo Não Estão a Esgotar-se

Quantas vezes já ouvimos dizer que os humanos estão a "delapidar" os recursos do mundo, a "esgotar as reservas de petróleo, a "atingir os limites" da capacidade da atmosfera para absorver a poluição ou a “aproximar-se da capacidade de carga” das terras aráveis para sustentar uma maior população? O pressuposto por trás de todas essas declarações é que há uma quantidade fixa de coisas - metais, petróleo, ar puro, terra - e que corremos o risco de as esgotar através do nosso consumo.

Matt Ridley
"Estamos a utilizar 50% mais recursos do que a Terra pode produzir de forma sustentável. Se não mudarmos de rumo, esse número crescerá rapidamente - em 2030, até mesmo dois planetas não serão suficientes", alerta Jim Leape, director-geral do World Wide Fund for Nature International (o antigo World Wildlife Fund).

Mas eis aqui uma característica peculiar da história humana: estouramos sucessivamente com estes limites. Afinal de contas, como disse uma vez um ministro do petróleo saudita, a Idade da Pedra não acabou por falta de pedra. Os ecologistas chamam isso de "construção de nicho", que as pessoas (e mesmo alguns outros animais) conseguem criar novas oportunidades para si próprias encontrando formas de tornar os seus habitats mais produtivos. A agricultura é o exemplo clássico de construção de nicho: deixámos de confiar na recompensa da natureza substituindo-a por uma recompensa artificial e muito maior.

Os economistas designam o mesmo fenómeno por inovação. O que os frustra relativamente aos ecologistas é a tendência destes últimos para pensar em termos de limites estáticos. Os ecologistas parecem não conseguir dar-se conta que quando o óleo de baleia se começa a esgotar, descobre-se o petróleo, ou que quando os rendimentos agrícolas estagnam, surgem os fertilizantes, ou que quando a fibra de vidro é inventada, diminui a procura de cobre.

Citação do dia (161)

"Na zona euro, o governador do Banco Central Europeu Mario Draghi - com o apoio inesperado dos colegas alemães do Bundesbank - está finalmente a dar sinais de que mais intervenções no mercado (facilitamento quantitativo - nt) podem estar a caminho. Por um lado, para baixar as altas taxas de câmbio monetário que têm limitado a competitividade e, por outro, para aumentar as taxas de inflação. O que, por sua vez, me parece precipitar uma crise de dívida pelo aumento abrupto das trajectórias de dívida face ao crescimento. Esta manobra será disfarçada como luta à inflação, e todos os eufemismos serão aplicados. No fim de contas, a Europa terá entrado numa declarada guerra monetária global"

John Mauldin, "Thoughts from the Frontline"

terça-feira, 29 de abril de 2014

Em defesa da internet e da liberdade

Uma entrevista (legendada em português do Brasil) centrada na substância das revelações da espionagem maciça e ilegal por parte de agências de informações governamentais, entre as quais a NSA, que as acções de Edward Snowden já permitiram documentar (e irá haver ainda mais segundo o próprio). Que, após Manning (condenado a 35 anos de cadeia num processo de que se não conhecem vítimas), e Assange (há quase dois anos confinado à embaixada do Equador em Londres), só em Moscovo Snowden tenha encontrado um lugar de fuga ao braço policial americano é algo, a meu ver, terrivelmente revelador. (Filmado em Março passado talvez já antevendo o merecido Pulitzer)


Transcrição da entrevista: aqui

sábado, 26 de abril de 2014

Liberdade e ordem social

Uma proposta de reflexão serena para o fim-de-semana após mais um aniversário do "25 de Abril" a partir de uma palestra (legendada em português do Brasil) que Jörg Guido Hülsmann proferiu em 2011, em terras de Vera Cruz. Um tema fundamental que Hulsmann percorre, da Antiguidade até aos dias de hoje, e que constitui exemplo de que o conhecimento não apenas não evolui de forma linear no tempo como é ainda susceptível de terríveis recuos (dando razão ao título do livro de um bom amigo).


quinta-feira, 24 de abril de 2014

25.4.1792 - Inicia-se o humanitarismo da guilhotina

Em data homóloga à índígena, celebram-se (?) amanhã 222 anos da entrada em funcionamento da "machine" cujo epónimo, o dr. Joseph Ignace Guillotin, propusera à Constituinte, em 9 de Outubro de 1789. Por razões de estrita equanimidade igualitária aliadas a uma generosa dose humanitária. Sabemos o que se lhe seguiu. (Apontamento inspirado no comentário do nosso leitor floribundus no post anterior.)

Citação do dia (160)

"A liberdade é, essencialmente, uma condição de desigualdade, não de igualdade. Ela reconhece como um facto da natureza as diferenças estruturais inerentes ao homem - de temperamento, carácter e capacidade - e respeita essas diferenças. Nós não somos iguais e lei alguma poderá fazer com que venhamos a sê-lo."
Frank Chodorov

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Manipulação e Incerteza


Da inércia à aventura

Fernando Gil, “Os inventores do futuro”, 1998

“A previsão impede então a abertura e passa apenas a recobrir uma aspiração à recondução de situações conhecidas, a antecipação consistirá no voto que nada mude e tudo permaneça ´como dantes`. A noção de progresso amputa-se da aventura que representa, para se confinar na dimensão do seguro de vida.
Em vez de gerar este reflexo de angústia, senão de pânico, e portanto comportamentos defensivos ou desesperados, a ideia de risco deve tornar-se uma oportunidade. (...) A incerteza como dimensão existencial fornece à humanidade um trunfo de peso pois permite-lhe recobrar o seu próprio. A verdadeira conduta racional consiste em integrar o risco para além da antecipação prospectiva.”

terça-feira, 22 de abril de 2014

Dormindo com o inimigo (ou a corrupção da ciência)

4000 anos de evidência empírica continuam a não ser suficientes para impedir o recurso dos governos aos controlos administrativos dos preços e salários. E todavia, mesmo sob a ameaça de aplicação de sanções severas – incluindo tantas vezes a pena de morte –, a persistência dos efeitos da fixação administrativa de preços é algo de notável – indução da escassez (com a fixação de “preços máximos” abaixo dos que o mercado, deixado a si próprio, determinaria) ou de “subprocura” (resultantes do estabelecimento de “preços mínimos” acima dos de mercado). Não há nada de estranho ou de sobrenatural nisto – trata-se apenas do mero funcionamento das leis da procura e da oferta.

Claro que, em períodos de agitação política, e para tentar enganar acalmar o povoléu, é usual que o poder aponte o dedo aos “especuladores”, “açambarcadores” ou a uma “5ª coluna” ao serviço do “inimigo externo” atribuindo-lhes a culpa seja da escassez, seja dos aumentos de preços generalizados (que aliás estiveram normalmente na origem do tabelamento de preços). Enfim, o dia-a-dia por que passam venezuelanos e argentinos nos dias que correm. (Entre nós, agora que nos aproximamos da comemoração dos 40 anos sobre o 25 de Abril de 1974, ainda haverá muitos que se recordarão desse linguajar tão comum na década subsequente.)

Mas se as leis da oferta e da procura são até facilmente intuídas pela generalidade das pessoas, há um caso muito particular em que seria possível e desejável suspender ou "comandar" o seu funcionamento. Refiro-me, claro, à existência de um salário mínimo nacional que, para além de considerações morais atinentes à “dignidade”, até teria consequências positivas sobre a economia (pela via do aumento do consumo proporcionado àqueles abrangidos pela sua criação ou pelo seu aumento). É muito triste que hoje haja muitos economistas (?) (Gary North fala em metade) que sustentem, com base empírica inteiramente desassociada da teoria económica (os famigerados “estudos”), tomar os desejos por realidades. É sobre este estado de degradação científica que o artigo de Frank Hollenbeck se debruça e que me levou a partilhar uma sua tradução (de minha responsabilidade) com os leitores do EI.
17 de Abril de 2014
Por Frank Hollenbeck

O triste estado da profissão de economista

Não é um exagero afirmar-se que a reputação actual dos economistas está, provavelmente, logo abaixo da de um vendedor de carros usados. Os recentes falhanços das políticas económicas de estímulo ao crescimento e ao emprego mancharam ainda mais esta imagem. Isto, porém, contrasta de modo nítido com o que sucedia no passado, quando os economistas eram vistos como o obstáculo intelectual a populares mas erróneas concepções, más ideias, ou, e o mais importante, a políticas governamentais vendidas ao público baseadas em falsas premissas. Slogans populares como "proteger os empregos americanos" apostam no nacionalismo, mas, na realidade, apenas servem interesses especiais. O economista de antigamente nunca teria hesitado em expor as falácias que um tal argumento encerra.

Frank Hollenbeck
Hoje, no entanto, a maioria dos economistas vendeu-se ao inimigo. Eles trabalham para organismos governamentais como o FMI, a OCDE, o Banco Mundial, os bancos centrais ou instituições académicas onde a sua investigação é fortemente subsidiada por agências governamentais. Para terem êxito, têm que "andar na linha" - não se morde a mão a quem lhe dá de comer.

Hoje, esses economistas e jornalistas arregimentados informam-nos dos perigos da deflação e dos riscos da "baixaflação", e de como as impressoras nos irão proteger dessa catástrofe. E contudo não há qualquer justificação teórica ou empírica para este medo. Pelo contrário, uma oferta monetária estável permitiria que os preços desempenhassem melhor a função crítica de afectar os recursos [às actividades – N.T.] onde são mais necessários. O crescimento resultante de uma moeda estável estaria normalmente associado à rápida queda dos preços como sucedeu na maior parte do século XIX.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

A arte de governar com medo




Reveladores são os sinais de quem procura fazer-se forte a partir de uma posição moral cada vez mais fraca.
Valha-nos a ironia.


quarta-feira, 16 de abril de 2014

Planeamento central ou a exuberância de uma adivinha

Imagem daqui

Quando nos perguntamos em que circunstâncias económicas nos encontramos, como podem ser entendidas as políticas impostas ou, simplesmente, para onde caminhamos, hesitamos em aceitar as respostas que gravitam no nosso espaço político e comunicacional. Por isso é útil ouvir os verdadeiros protagonistas, sempre que eles facilitam o acesso aos seus momentos de sinceridade. Ainda que tenhamos de usar de cautela face a ela, aproveitemos o que há de revelador nas palavras e nos discursos.
A seguir apresentam-se partes de um discurso de Richard W. Fischer, que é governador do Banco da Reserva Federal de Dallas (rede de bancos que compõem a FED – nt), numa cerimónia em Hong Kong no início deste mês. Dêmos, então, espaço aos excertos que traduzi, a que acrescentei alguns sublinhados e pequenas observações.

Planeamento central”, discurso de Richard W. Fischer perante a Sociedade Ásia - delegação de Hong Kong

“Quando a FED compra obrigações do Tesouro americanas ou outros produtos financeiros complexos como MBS (Mortgage-Backed Securities), pagamos por isso injectando moeda na economia, com a expectativa de que essa liquidez seja usada pelos bancos e outros investidores para financiar investimentos que criem emprego, a compra de casas e outras actividades económicas expansivas. Até agora, muita dessa liquidez injectada na economia tem estado a ser retida em vez de ser gasta no grau desejado.

A fraude da discriminação de género no trabalho

Um dos filões, aparentemente inesgotável, que vem alimentando o intervencionismo estatal é o de uma espécie de meta-guerra perpétua à discriminação onde têm cabido as “causas fracturantes” (muito caras à esquerda caviar e às franjas chiques dos partidos do poder) e, muito em especial, a vastíssima discriminação pelo sexo de género. O recurso ao vocábulário bélico não é em vão. Usando por aferidor o Google, até aqui têm sido pouco mais que esporádicas entre nós as referências à “guerra contra as mulheres”; mas talvez não esteja enganado em antever uma próxima vaga de fundo no Rectângulo. É que do outro lado do Atlântico uma busca por “war on women” devolveu-me 29,8 milhões de resultados. E este resultado não é alheio – é mesmo um dos temas que está a dar nos dias de hoje na América - o apadrinhamento que tem recebido do inquilino da Casa Branca.

O Prof. Mark Perry – que aborda regularmente este tema - há um par de semanas que se vem dedicando a desmontar com denodo uma suposta discriminação salarial de género contra a qual Obama se insurge e pretende combater (o seu post de ontem é particularmente revelador). Tal como Perry, também Thomas Sowell acusa Obama de fraude estatística nesta "guerra". Daí o título do seu artigo de ontem – Statistical Frauds. A mim, confesso, interessa-me bem mais a componente lógica da sua argumentação resumida no convite com que termina o seu artigo e que me motivou a publicar uma sua tradução de minha exclusiva responsabilidade.
15 de Abril de 2014
Por Thomas Sowell

Fraudes estatísticas

A "guerra contra as mulheres" é um slogan político que, na realidade, é uma guerra contra o senso comum.

É a uma fraude estatística que Barack Obama e outros políticos recorrem quando afirmam que as mulheres ganham apenas 77% do que os homens auferem - e que isso se deve à discriminação.

Thomas Sowell
Tratar-se-ia certamente de discriminação se as mulheres fizessem o mesmo trabalho que os homens, durante o mesmo número de horas, com a mesma formação e experiência, e se fossem também iguais nas restantes coisas. Porém, ao longo das últimas décadas, estudos sucessivos têm repetidamente mostrado que não são iguais nessas coisas.

A repetição constante da estatística dos "77%" não altera essa realidade. Apenas tira partido da ignorância de muitas pessoas - algo em que Barack Obama tem sido muito bom em muitos outros temas.

E se se comparassem as mulheres e os homens que são iguais em todas as características relevantes?

Em primeiro lugar, isso raramente é possível porque as estatísticas necessárias nem sempre estão disponíveis para todo o leque de actividades profissionais e para a gama completa de diferenças entre os padrões das mulheres e dos homens no mercado de trabalho.

sábado, 12 de abril de 2014

Suplantados

Os pessimistas Ocidentais pelos entusiastas Asiáticos

Nos meios de comunicação convencionais ocidentais não há referência aos extraordinários números e dinâmicas relativas ao mercado do ouro físico na Ásia. Não há notícia daquela suplantação entusiástica. A procura pelo dinheiro verdadeiro e sólido para os lados do oriente parece não interessar às centrais de informação na Europa ou nos EUA. Isto não pode ser um acaso. Se tivermos em consideração o que a seguir se apresenta, mais óbvio esse facto se torna. Não pode ser por acaso.
No final apresenta-se uma pequena entrevista para demonstrar como é possível compreender o que se passa na Índia e na China, no que diz respeito à moeda, ao ouro, à economia e à política. Convido os leitores a considerem o que poderá ser diferente, aqui no ocidente, face aos tópicos abordados nessa entrevista.
Nas últimas semanas têm-se tornado públicas análises dos números do mercado dos metais preciosos na Ásia. Para podermos compreender um pouco do que se está a passar, consideremos os seguintes dados:


sexta-feira, 11 de abril de 2014

Livremo-nos de Bismarck de uma vez por todas

Em complemento ao aqui já abordado, José Piñera, agora num vídeo de pouco mais de 15 minutos, explica porquê.
"A minha ideia [da criação do estado providência] era a de subornar as classes trabalhadoras, ou, se preferir, persuadi-las de que o Estado é uma instituição social que existe para se preocupar com os interesses delas e o seu bem-estar."
Otto von Bismarck

terça-feira, 8 de abril de 2014

A sustentabilidade das pensões: a experiência chilena

Depois de três anos de "austeridade draconiana" e de sucessivos "cortes selvagens" (não obstante um défice sem receitas extraordinárias de mais de 5% do PIB em 2013), eis-nos perante um novo passo na inevitável e sucessiva redefinição do "contrato intergeracional" por via do alargamento da orwelliana "Contribuição Extraordinária de Solidariedade" agora também dirigida às pensões entre 1000 e 1350 euros mensais. Quanto tempo até que ocorra o próximo passo? Provavelmente logo que a força da realidade imponha tornar "ordinário" o "extraordinário" e o "temporário" em "permanente" e o calendário eleitoral assim o permita.

Mas não será verdade que o "quadro macroeconómico" está a melhorar? Afinal, não estão as taxas de juro das obrigações do Tesouro em mínimos de 4 anos, o que certamente denota o regresso da "confiança dos mercados"? Não mostra o Governo sinais de que chegou o tempo de gastar investir em ainda mais betão e aço (com 59 projectos todos eles prioritários)? Acaso não é o próprio Governo que agora entusiasmadamente pondera aumentar o salário mínimo e, consequentemente, "promover" o desemprego? Não temos, enfim, um "excedente" nas contas externas? Não acenam as previsões económicas "números encorajadores"?

A esperança em repor a funcionar, através do "ajustamento", uma espécie de máquina de movimento perpétuo - o famoso "crescimento" - que voltaria a garantir o retorno ao remanso da tranquilidade próspera (e aos défices também eles perpétuos) é, pedindo emprestado um aforismo brasileiro, conversa para boi dormir. Não, caro leitor, não estou a admitir que gostaria de ter subscrito um certo manifesto que por aí andou. Estou apenas a reafirmar que um menor grau de despautério financeiro por parte do Estado não constitui reforma alguma digna desse nome, nem nada tem a ver com "austeridade" real - a que resultaria de uma entidade viver de acordo com as suas possibilidades.

O verdadeiro e único caminho para o real regresso à prosperidade passa por permitir mais liberdade, isto é, mais mercado. Mais de 30 anos após a reforma do sistema previdencial no Chile é tempo de se perceber que há outros caminhos para garantir a sua sustentabilidade e premiar o aforro (sacrifício do consumo presente). Foi essa a motivação que me levou a traduzir o artigo de Juan Ramón Rallo que se segue.
4 de Abril de 2014
Por Juan Ramón Rallo

Chile: trabalhadores transformados em capitalistas

É sempre um prazer contar em Espanha com a presença de José Piñera, o artífice da mais revolucionária reforma no sistema de pensões de reforma a que o mundo assistiu no século XX: a privatização e capitalização do sistema previdencial chileno em 1981. Neste sentido, Piñera é o anti-Bismarck do século XX, o economista reformista que desmantelou a fraude piramidal que o Chanceler de Ferro implantou na Prússia para, como confessara ao jornalista William Harbutt Dawson, "subornar as classes trabalhadoras, ou, se preferir, persuadi-las de que o Estado é uma instituição social que existe para se preocupar com os interesses delas e o seu bem-estar".

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Quem vê de fora

O que será que vê?
Por cá ouve-se dizer que há “sinais encorajadores”, que existe a possibilidade “de uma saída limpa” do programa de ajustamento, mas não se chega à contemplação e discussão dos fundamentos dessa crença. Simultaneamente emergem indicações provocadoras de que há mais ajustamento para fazer. Não é arriscado alargar esta descrição ao espaço europeu. Em Itália, em Espanha ou França estas mensagens mistas devem fazer parte do tecido comunicacional. Elas permitem vislumbrar uma espécie de infecção que alastra inexoravelmente. Uma trama que se adensa constantemente. Como veremos nos trechos seguintes, as relações endogâmicas entre partes da economia (banca) e o estado são cada vez mais intensas, sendo que um lado da mesa “está a acumular todas as fichas”. Ainda se proclama o modelo de estado social, sublinhando a sua vocação redistributiva, como paradigma moral, mas o que esse modelo mostra é, cada vez mais (não poderia ser de outra forma), uma preferência que choca, seguramente, os seus mais intensos defensores. Consideremos, em primeiro lugar:
Os reais factores de melhoria” por Pater Tenebrarum

“Registou-se um importante aumento na compra de dívida soberana por parte dos bancos ao nível dos diferentes estados europeus. O truque parece funcionar como a seguir se elenca (considere-se o caso da Itália):
a) Os bancos compram propriedades que pertencem ao estado (instalações militares obsoletas, edifícios de escritórios, entre outras), pagando com títulos (bonds) do próprio estado.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Complicada Teia

Depois de ter lido um comentário de um dos nossos leitores relativamente à administração americana (e aos seus erros), recuperei duas entrevistas realizadas por Bill Moyers. Uma a David Stockman e outra a Mike Lofgren. Muito frontais e incisivas, as entrevistas cruzam vários tópicos, mas concentram-se nos seguintes:
- o que é o capitalismo-para-amigos (crony capitalism) e as suas consequências;
- as ligações entre as administrações americanas e as esferas da finança mundial - as mesmas caras e os mesmos nomes;
- as políticas públicas como instrumentos para a repressão financeira (e não o apregoado esforço redistributivo) e o desenvolvimento de uma economia corporativa;
- o estado profundo (deep state), as obscuras funções e razões de estado;
- o financiamento barato e acessível a alguns agentes e as consequências para o sistema económico;

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Esvaziando o mito da deflação

A uma mentira que mil vezes se repete só resta contrapor, com uma frequência equivalente, o seu rebatimento. Assim, face a múltiplas notícias que dão conta do papão deflacionista (por exemplo, Vítor Constâncio terá ainda ontem afirmado que (meu realce) “[e]speramos [no BCE] que o valor baixo de Março seja corrigido para um registo mais elevado em Abril”), volto a insistir no combate ao endeusamento da inflação como fenómeno essencialmente benévolo (se contido num valor "baixo") acompanhado do esconjurar da autêntica peste negra que a deflação representaria. Têm sido múltiplos os meus posts sobre o tema. Mas julgo ser preciso insistir. Primeiro, evocando Mises:
"O mais importante a recordar é que a inflação não é um acto de Deus, que a inflação não é uma catástrofe dos elementos ou uma doença que surge como uma praga. A inflação é uma política."
Depois, procurando contribuir para a desmistificação do fenómeno deflacionário pela via de uma tradução, da minha responsabilidade (notas do texto original substituídas por links), de um texto de Chris Casey ontem publicado cujo título roubei para encimar o presente post.
2 de Abril de 2014
Por Chris Casey
Esvaziando o mito da deflação

O temor da deflação funciona como a justificação teórica para todas as acções inflacionistas levadas a cabo pela Reserva Federal e pelos bancos centrais em todo o mundo. É por isso que a Reserva Federal tem por objectivo uma taxa de inflação de preços de 2% e não de 0%. Em larga medida, esta é a razão que levou a Reserva Federal a mais do que quadruplicar a base monetária de Agosto de 2008 até hoje. E é, de forma notável, um enorme mito, pois não há nada de intrinsecamente perigoso ou prejudicial na deflação.

A deflação é temida não apenas pelos seguidores de Milton Friedman (os designados monetaristas ou membros da Escola de Chicago), mas também pelos economistas keynesianos. Um dos mais destacados keynesianos, Paul Krugman, num artigo do New York Times de 2010 intitulado "Por que é a deflação uma coisa má", apontou a deflação como a causa da contracção da procura agregada uma vez que "quando as pessoas têm a expectativa de que os preços vão baixar, elas tornam-se menos propensas a consumir, e, em especial, menos dispostas a contrair empréstimos".

Presumivelmente, ele acredita que este diferimento na despesa durará para todo o sempre. Mas sabemos por experiência própria que, mesmo em presença de uma descida de preços, os indivíduos e as empresas acabarão por, num dado momento, vir a comprar o bem ou serviço em questão. Não é possível renunciar eternamente ao consumo. Vemos isto suceder todos os dias na indústria da informática / electrónica: o valor da utilização de um iPhone ao longo dos próximos seis meses é superior ao da poupança que resultaria do adiar da sua compra.