segunda-feira, 6 de agosto de 2012

E não é outra coisa

Pedro Santos Guerreiro (PSG), hoje no Jornal de Negócios (realce meu), denota, também ele, sofrer da síndrome da epifania serôdia:
A RTP finalmente contratou os seus assessores para a reestruturação que há-de levar à privatização. O projecto, diz o Governo, há-de fazer-se nem que a vaca tussa. E a vaca agora está a tossir a ideia peregrina de vender uma licença. Repete-se: isso não é privatizar a RTP. É o contrário: é manter a RTP no Estado e criar o famigerado quinto canal.
Mais à frente, e depois de fazer a sua (higiénica, diga-se) declaração de interesses, PSG insurge-se conta a "perfídia" governamental:
Se o Estado alienar a licença da 2 e mantiver a 1, o que está a fazer é a criar mais um canal comercial. Em vez de dois canais e meio (a RTP tem metade do espaço publicitário dos canais privados), passará a haver três canais e meio. Para o Estado, o interesse desta operação só surge do eventual encaixe com a venda da licença. Os custos da RTP não reduzirão substancialmente em relação ao trabalho que já está a ser feito hoje. E a tentação política de lá mandar mantém-se intacta. Genial, não é?
Entendamo-nos. Estou-me borrifando para as dificuldades, actuais ou futuras, dos accionistas dos canais generalistas privados. Não entendo sequer, ainda por cima depois de a TDT ter chegado, por que razão é necessária uma licença para que possa surgir um, dois, dez novos canais generalistas. É mau para os que já estão no mercado? Talvez. Mas é a vida.

O que é realmente inadmissível, do ponto de vista moral e político é a manutenção da RTP no perímetro estatal e que todos sejamos obrigados a manter essa estrutura que nada tem para oferecer senão, em última instância, propaganda ao governo da Situação e venda de favores ao autoproclamado "ecossistema cultural" e seus directos beneficiários. Marcelo Rebelo de Sousa, o talking head dominical, foi ontem claríssimo: "[P]oliticamente é muito útil para todos os governos manter a RTP1, tem um peso que não tem a RTP2.” E não é outra coisa.

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois é meu caro...

Parece que PSG gosta muito de pregar a livre concorrência e os benefícios do mercado para os outros sectores, mas quando chega aos Media...ai já temos que ter muito cuidadinho.

Hipocrisias...será que esta gente se leva a sério?

Cumps,
J. Ramos

RioD'oiro disse...

Os aventais estão a mexer-se.