quarta-feira, 22 de maio de 2013

Mais perigoso que a derrocada de um edifício

Ao contrário das catástrofes de origem natural (que os eco-teócratas continuam a insistir na sua associação à actividade humana apesar das evidências), a catástrofe de 24 de Abril passado no Bangladesh, ocorrida com o desabamento de um prédio de oito andares onde estavam instaladas cinco fábricas têxteis, poderia - e deveria - ter sido evitada. Ninguém, suponho, disputará esta asserção. Já quanto ao que deve ser feito para melhor prevenir a perda de milhares de vidas, as opiniões dividem-se. E muito. No seu artigo More Dangerous than the Factory Building Collapse, George Reisman afasta as considerações de ordem emocional e ideológica para deixar fluir o raciocínio económico, preocupando-se assim com acções, causas e consequências, com "o que se vê e o que não se vê" (Bastiat). Como o provérbio refere, "O Inferno está cheio de boas intenções". A tradução do artigo é da minha responsabilidade.
O recente desmoronamento no Bangladesh de um edifício onde estavam instaladas fábricas têxteis e que resultou na morte, até ao momento [link], de mais de 1100 pessoas das que lá trabalhavam, fez brotar uma onda internacional de indignação não apenas contra o proprietário do edifício, mas também contra diferentes cadeias de lojas nos Estados Unidos e na Europa, muitos delas de renome, que venderam roupa produzida naquele prédio. Exige-se-lhes que assumam a responsabilidade pelas condições de trabalho nas fábricas que as abastecem e que deixem de trabalhar com fábricas que não ofereçam condições humanas e seguras nem paguem salários justos.

George Reisman
Tais exigências assentam na crença segundo a qual, na ausência de intervenção governamental, a lógica do lucro dos empresários ou capitalistas levá-los-ia a pagar salários de subsistência a trabalhadores obrigados a trabalhar um número intolerável de horas em condições sub-humanas. E mais: que os lucros alegadamente assim extorquidos aos trabalhadores estão à disposição dos capitalistas sob uma espécie de saco azul como se, pelo menos numa parte mais ou menos substancial, pudessem ser devolvidos aos trabalhadores de quem foram levados), ou utilizados em benefício desses trabalhadores, sem nenhum efeito negativo para além de privar os capitalistas de alguns dos seus lucros imorais. É geralmente dado como certo que a razão pela qual o tipo de condições prevalecentes no Bangladesh e no resto do Terceiro Mundo, não existe nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, se deve ao advento da legislação laboral e social e que o que é necessário é estender tal legislação aos países onde ela ainda não vigora.



Todo e cada um dos aspectos deste conjunto de crenças está errado e as suas consequências são altamente destrutivas, sobretudo para as massas de trabalhadores do Terceiro Mundo que já vivem próximos da fome e que estão em perigo de nela caírem por, desnecessariamente, se aumentar o custo de os empregar quer aumentando arbitrariamente os seus salários quer exigindo que lhes sejam proporcionadas melhores condições de trabalho que terão de ser obtidas à sua própria custa e que eles não podem pagar.

Uma das proposições mais elementares da ciência económica é que, quanto maior for o preço de algo, menor será a quantidade que irá ser adquirida [observada a condição ceteris paribus]. Isto aplica-se tanto à mão-de-obra como aos bens e serviços. Se os salários no Bangladesh forem arbitrariamente aumentados, haverá menos trabalhadores empregados no Bangladesh. Nesse caso, os trabalhadores que caso contrário ganhariam salários mais baixos não irão ganhar salário algum. Eles irão passar fome. Se os empregadores no Bangladesh forem obrigados a introduzir melhorias nas condições de trabalho que não se paguem por si mesmas [por aumentarem a produtividade dos trabalhadores], o custo dessas melhorias será equivalente a um aumento nos salários. Uma vez mais, daí resultará desemprego. O desemprego apenas poderia ser evitado se os salários que os trabalhadores levam para casa pudessem cair o suficiente para compensar o custo das melhorias. Nesse caso, a situação seria comparável a fazer com que os trabalhadores usassem os seus já parcos salários para custear as melhorias que eles muito simplesmente não podem pagar.

O que permitirá alcançar esses resultados será a não interferência nas empresas no Bangladesh e em todo o Terceiro Mundo , de modo a que elas sejam tão rentáveis quanto possível. (Deveria ser óbvio que a perda de um edifício e das máquinas das empresas lá instaladas não foi algo de lucrativo e que, embora possa ser legítimo denunciar o proprietário do edifício por imprudência criminosa e negligência, é simplesmente absurdo denunciá-lo por perseguir o lucro, quando o que ele realmente alcançou, e só poderia alcançar através de tal conduta, foi o prejuízo total.)

Os elevados lucros que possam ser obtidos num país do Terceiro Mundo - caso não sejam impossibilitados por demasiados obstáculos - serão na sua maior parte poupados e investidos, sobretudo nesse país do Terceiro Mundo. Como a experiência de Taiwan, da Coreia do Sul, e agora até mesmo da China continental evidencia , é suficiente pouco mais de uma geração de um processo desta natureza para conduzir a uma vasta acumulação de meios de produção no país, ou seja, numerosas novas fábricas, com cada vez melhor equipamento. Isto resulta numa competição acrescida pela mão-de-obra e, por essa via, no aumento dos salários. E, à medida que os salários aumentem, os trabalhadores poderão, cada vez mais, aceitar menores aumentos salariais em conjunto com melhores condições de trabalho conseguidas justamente à sua custa [ou seja, por troca por um salário menor].

É a liberdade económica e não a intervenção governamental, que é a estrada que leva à riqueza das nações.

3 comentários:

BC disse...

A melhor forma de as empresas "ocidentais" garantirem melhores condições de trabalho a estas pessoas é continuar a fazer encomendas.

Claro que idealmente no Bangladesh existiria mais riqueza, leis de condições de trabalho mais exigentes e fiscalização mais apertada. Mas isso seria num mundo de fantasia que não existe.

As empresas clientes desta fábrica não têm as competências nem a vocação para pressionar as autoridades do Bangladesh para introduzir melhorias.

LV disse...

Permito-me recomendar o visionamento de um pequeno vídeo acerca desta temática.
O título - "Top 3 ways sweatshops help the poor escape poverty" encontra-se em learnliberty.com.

Saudações,
LV

Eduardo Freitas disse...

Caro Luís Vilela,

Grato pela boa indicação.