quarta-feira, 25 de abril de 2012

Em defesa da deflação

Com o anúncio do lançamento no mercado da primeira geração de processadores com transístores 3D, dei-me conta que passaram 30 anos (no dia 23 deste mês) sobre o lançamento do ZX Spectrum, máquina que desencadeou uma revolução – a da massificação e ubiquidade do computador tornas possíveis pelo  preço relativamente acessível com que foi lançado no mercado, assim se juntando às "linhas" branca e castanha existentes no lar (o modelo que comprei em 1984, o de 48K, custou-me cerca de 35 contos1).

Sete anos depois do Spectrum, comprei nos finais de 1990 o meu primeiro PC, um 286, com 20 Mb de disco duro e 2 Mb de RAM. Custou-me 450 contos (monitor de 14" incluído)2 a que houve que juntar mais 50 contos para a impressora de agulhas.

Nos dias que correm é possível comprar equipamento incomensuravelmente mais poderoso pelos mesmos montantes. Só que a unidade, em vez do "conto", passou entretanto a ser o euro (1/5 daquela). Pelo meio, reduziu-se imenso o número de construtores, mas nem por isso a concorrência tem sido menos "feroz" o que tem proporcionando, aos consumidores e às empresas, num contínuo incessante, cada vez melhores produtos cada vez mais baratos (em termos reais e até nominais). Para aqueles que ostentam credenciais académicas nominalmente respeitáveis e que têm um medo terrível da deflação, há aqui um fenómeno que deveria merecer uma explicação de sua parte ainda por cima tratando-se de um mercado onde a regulação tem estado, no essencial, arredada. 

Ouve-se mesmo, de boa parte do establishment, a defesa de uma maior inflação como veículo instrumental para "resolver a crise da dívida". O facto de a inflação corroer destruir as poupanças acumuladas e atingir em cheio os que vivem apenas de salários e pensões não lhes oferece, sequer, uma objecção ética. O que o establishment sabe - e aí não se engana - é que a inflação beneficia directamente os devedores em prejuízo dos credores e, sendo os estados os principais devedores, lógico é que os defensores do intervencionismo nas economias a favoreçam.

Em defesa da deflação, pois. Em defesa do movimento natural e não manipulado dos preços como consequência do aumento da produtividade e das inovações tecnológicas.
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1Usando os dados disponibilizados pelo PORDATA, utilizando como deflator o IPC (sem habitação) e tomando 1984 como ano base, tal significaria que um custo, actualizado aos preços de hoje, 4,5 vezes maior, ou seja, 790 euros.

2Consultando a mesma fonte, isso equivaleria hoje a 972 contos, o mesmo é dizer, uns portentosos 4860 euros!

3 comentários:

RioD'oiro disse...

No sótão tenho um que deve funcionar. Entretanto há, na Internet, simuladores de Spectrum que lêem a cassete se o respectivo 'som' for transferido para o PC.

Eduardo Freitas disse...

Sim, o meu ainda funcionava há um par de anos quando o dei. Despedi-me dele dando uma última voltinha no "Manic Miner"!

Pedro Mendonça disse...

1913 foi a data de criação do Fed nos EUA, até lá os EUA experienciaram um período constante de deflação, cerca de 100 anos com os preços gerais dos produtos sempre a descer. Ora foi precisamente nessa época que os EUA cresceram mais.

Deflação é a resposta normal para uma economia em crescimento, o que não faz sentido é o contrário. Ora se existe mais riqueza (bens e serviços) para a mesma moeda, esta vai ter que valer mais, e portanto, os preços vão baixar. Há um problema nisto, é que os ordenados das pessoas obviamente que tb vão decrescer (tal como outro qq "agente" da economia) e isso as pessoas já n conseguem perceber mto bem, o q até é compreensível à primeira vista, na verdade nenhum patrão gosta de baixar os ordenados das pessoas q já lá têm empregadas, esse ajuste lógico daria a ideia q estão a trabalhar menos e na verdade n se trata disso.

Depois há o mito de que com deflação as pessoas deixam de consumir pq mais vale guardar o dinheiro do que gastá-lo ou investi-lo, daí a um tmpo vai valer mais. O que é falso, pq só está a haver deflação precisamente pq alguém (mtos alguéns) anda a investi-lo bem e a fazer crescer a economia (e não!! a economia n é só dinheiro é tdo o q as pessoas valorizam), se as pessoas deixassem de consumir e/ou investir pelo pressuposto de cima, então o que aconteceria era precisamente redução da deflação e tlvz msmo passar para inflação, e portanto n é preciso agente reguladorzinho a decidir o q se deve fazer ou n.

O que na verdade acontece é que os governos usam a inflação para roubar mais um pouco que os impostos dão e dessa forma poder gastar onde quiserem.

cumps
Pedro Mendonça

PS: vejam as declarações do Peter Schiff sobre os preços da gasolina (parece que nca estiveram tão baixos como nos últimos 100 anos)