quinta-feira, 18 de julho de 2013

Paul Rosenberg: 5 razões principais porque me deixei de preocupar com a política

Não conhecia Paul Rosenberg. Mas, tendo-me deparado, via Mises Hispano, com este artigo (e mais uma mão-cheia de outros) já o incluí nas minhas deambulações virtuais. Revi-me em muitas das suas observações e subscrevo, sem pestanejar, boa parte delas. Também não me custa reconhecer que o meu minarquismo sofreu mais um sério embate. Em qualquer caso, parece-me constituir uma interessante proposta de reflexão, em tempos como os que correm em que a descrença democrática é crescente, como o Samuel Paiva Pires recente e desassombradamente "confessava". 
"Quando era jovem, senti uma necessidade de compreender a política, pelo que investi algum tempo no seu estudo. Mas à medida que esse tempo passava, ia obtendo rendimentos decrescentes desse investimento. E, nos últimos anos, desisti completamente.

Nos dias de hoje, a minha preocupação com a política limita-se a coisas como estas:
  • Quem está fazendo a guerra, e onde?
  • Em que zona na minha área [de residência, da escola dos meus filhos, do meu trabalho] estão ocorrendo crimes?
  • Existem leis que me obriguem a deslocar os meus negócios para outras paragens?
Para além disto, não estou realmente interessado. Vejo as manchetes, mas raramente leio os artigos. E sinto-me muito feliz ao dizer que "não me interessei especialmente por isso" quando as pessoas me perguntam a minha opinião sobre as "novidades" do dia.

Eis porquê:

Razão nº 5: Consome uma quantidade horrível de tempo e energia

A sério: comece a contar o número de horas que gasta nisto. Quantas horas despende a ouvir temas políticos na rádio, a assistir a programas políticos na TV e a ler artigos políticos nos jornais?

Em seguida, comece a pensar na intensa energia que gasta com isto. Todos nós temos reservas limitadas de energia; acreditará realmente o leitor que a política é a mais nobre e a de melhor utilização para a sua? Que tal usar a sua energia para construir o seu negócio? Ou para alimentar os seus filhos? Ou para ajudar um vizinho? Deve haver uma dúzia de coisas que sejam mais importantes do que ficar obcecado com os votos dos congressistas ou dos juízes do Supremo Tribunal.

Razão nº 4: É um vício

Se a mera imaginação de se desligar da política o faz sentir-se mal, provavelmente deve mesmo fazê-lo.

Experimente: imagine a sua vida, esvaziada de toda a política. Como é que isso o faz sentir-se? Vazio? Abandonado?

A verdade é que milhões de nós somos viciados em política. As pessoas não conseguem afastar-se para longe dela - é o guião que os seus subconscientes levam a cabo, 24 horas por dia, sete dias por semana.

O vício político é tão mau que até mesmo as pessoas firmemente religiosas gastam mais tempo com a política do que com Deus. A política é a obsessão da nossa era.


Razão nº 3: Não muda nada

Havia um popular autocolante na década de 60 em que se lia: "se o voto mudasse alguma coisa, seria ilegalizado".

Sejamos honestos e admitamos que o que se lia no autocolante era verdade. Até mesmo os melhores exemplos - como Reagan à direita ou Obama à esquerda - nada mudaram com significado. O estado está maior do que nunca, o governo dos EUA está envolvido em mais guerras que nunca, e a Constituição está sendo destruída como nunca. É isto o progresso?

E que dizer das alardeadas eleições regularmente promovidas? Pessoalmente, penso que Alvin Toffler tinha razão quando as designou por "rituais de consolação". Mas, à parte este aspecto, o certo é que as eleições são rigidamente controladas. Nos EUA, dois partidos controlam firmemente quem é eleito e quem o não é. Tudo está pré-estabelecido; tudo requer a aprovação do partido. (A situação é ligeiramente menos má na Europa.)

E, por favor, compreendam que "o governo" é muito mais do que as 600 faces em [Washington] DC - são milhões de pessoas em milhares de escritórios, todos pressionando em conjunto para sacar ainda mais algum do seu dinheiro para o gastar consigo mesmos e com os seus departamentos.

Mas, muito embora a política realmente não mude muito, ela mantém todo o mundo confinado dentro do sistema, ao serviço do mesmo. Para ilustrar isto, aqui está uma citação que eu nunca pude esquecer, e que espero que também o leitor nunca a esqueça:
"Eles que se manifestem tanto quanto quiserem, desde que continuem a pagar os seus impostos."
Alexander Haig, 1982
Desde que todos obedeçam ao governo, por que deveria o governo preocupar-se com as suas reclamações? Os americanos são praticamente 100% obedientes. Assim sendo, por que deveria o governo incomodar-se em mudar alguma coisa? Não há necessidade.

A política não muda nada porque o seu objectivo real é o de manter a população sossegada e obediente. E nisto ela tem conseguido um sucesso brilhante.

Razão nº 2: No final das contas, é de violência que se trata

Este é um trecho do meu romance, A Lodging of Wayfaring Men, que expressava essa ideia:
"A coerção é a condição sine qua non da política; a coisa sem a qual a política não seria política. Na verdade, se se remover a coerção, a política torna-se noutra coisa - na economia."
A política não pode existir sem o recurso à força. Na realidade, ela repousa sobre a violência. Não importa o quanto a pintem de cor vermelha, branca e azul, a violência ou a ameaça de violência está subjacente em tudo. Como Jim Rogers escreveu certa vez, "Em algum lugar, em todo o processo fiscal, está envolvida uma pistola".

A política - o estado - baseia-se numa única transacção: tirar dinheiro às pessoas contra a sua vontade. Tudo o que demais fazem se desmoronaria na sua ausência.

O leitor poderá tomar-me por indelicado por assinalar isto, ou poderá apresentar  justificações para isto ser assim, mas a afirmação permanece: os governos ficam com dinheiro que não ganharam mediante um ou outro tipo de coerção. Se assim não fosse, a tributação seria voluntária e o governo seria apenas mais um qualquer negócio.

Eu não gosto de lidar com empresas violentas.

Razão nº 1: A política é uma relíquia de um passado bárbaro

Tendo estudado o passado longínquo, pude localizar o rasto do homem governando os homens desde 6400 AC. Posso localizar um governo que se assemelha ao nosso por volta de 5000 AC.

Assim, que outra coisa continua a dominar a vida dos homens desde há mais de dois mil anos antes da construção das pirâmides?

Se existe algum exemplo na Terra de um falhanço na evolução dos seres humanos tem que ser este.

Os homens já não puxam os arados. Eles já não fazem fogo com uma pedreneira. Nem puxam trenós ou carros de madeira com rodas, nem dependem de animais para produzir energia. Aprendemos a escrever, a inventar, a navegar, a cobrir distâncias imensas, a conduzir, a voar, a chegar aos céus ...

E no entanto, esta relíquia de um passado primitivo permanece. E por favor não me digam que ela permaneça porque é boa - as pessoas queixam-se mais do governo do que se queixam do cancro.

Para ilustrar a natureza bárbara do governo, considere-se o seguinte: milhares de pessoas como eu gostariam de experimentar diferentes modos de vida, mas somos proibidos de o fazer. Ninguém está autorizado a sair do jogo. Se alguém o tentar, será assaltado por homens armados e trancado numa jaula, ou talvez apenas lhe roubem o dinheiro do banco em quem confiou. Mas, em ambos os casos, os sicofantas governamentais informarão solenemente o mundo que esse alguém se trata de um malfeitor.

Não é permitida qualquer saída e todas as tentativas de fuga enfrentarão a violência. Como é que isto não é uma barbárie primitiva?

A ESCOLHA É SUA.

De modo que é isto. Vocês são raparigas e rapazes crescidos capazes de tomar as suas próprias decisões mas eu tenho que vos dizer: eu estou muito feliz com a minha decisão. Estou menos stressado, mais produtivo e penso de modo mais claro.

De vez em quando um amigo pede-me para analisar uma questão política. E, quase sempre, eu educadamente recuso; faz-me sentir o mesmo de quando a minha mãe queria que eu comesse fígado."

2 comentários:

BC disse...

A política é nobre, interessante e fundamental. A politiquice, os jogos e as tricas não. Só que 98% do nosso debate político e dos comentários políticos nos media são politiquice.

Concordo com o autor em relação à politiquice. Assistir a debates políticos, ler 95% daquilo que se escreve sobre política é uma inútil e enfadonha perda de tempo e energia.

Anónimo disse...

E quem é que decide o que é politica e politiquice ?
Ora os políticos claro ...

Rui Silva