segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Coincidências, mistificações e um pouco de história

Foi notícia, no dia de ontem, a declaração de John Kerry, Secretário de Estado de Obama, quando afirmou que "Assad has now joined Hitler and [Saddam] Hussein" pelo facto de, alegadamente, Bashar al-Assad ser o responsável pelo incidente com armas químicas (provavelmente gás sarin) que levou à morte de centenas de pessoas no passado dia 21 de Agosto.

Embora não haja notícia de que Hitler, nem outro qualquer beligerante, tenha usado armas químicas durante os combates na II Grande Guerra, no plano estratégico ou táctico, todos sabemos que quer o lado "bom" quer o "mau" não fez outra coisa na I GG. Mas o que talvez poucos saibam é que em 1920, e exactamente a propósito do Iraque, um dos que veio a ganhar o epíteto de "grande homem" propusesse coisas como esta: 
"I am strongly in favor of using poisoned gas against uncivilized tribes"

Tendo ontem decorrido o 74º aniversário do início da II Grande Guerra, com a invasão da Polónia por parte dos exércitos nazis, é talvez oportuno que nos perguntemos por que razão a utilização de armas químicas (ausentes, repito, da II GG) é moralmente mais repugnante que aquelas outras de fósforo branco ou de napalm que nela foram extensa e intensivamente utilizadas, na Europa e no Japão (já não falando das duas bombas atómicas detonadas), para arrasar cidades inteiras e exterminar, às dezenas de milhar, os seus habitantes civis (Hamburgo, Dresden, Tóquio, etc.). É aliás muito curioso que o morticínio sistemático, a uma escala anteriormente desconhecida de populações civis através de bombardeamentos, não tenha sido considerado crime de guerra durante os julgamentos em Nuremberga.

Certas indignações selectivas que por aí se ouvem, particularmente as que ocorrem nos meios tidos por "progressistas", deveriam ser contrastadas com o que os EUA, com presidentes democratas e republicanos, fizeram na Indochina durante a guerra do Vietname com o "agente laranja", com os efeitos conhecidos em número de vítimas mortais, incontáveis estropiados e centenas de monstruosidades geneticamente induzidas pelos químicos. Ou na aplicação intensiva e extensiva de uma das inovações dos finais da II Grande Guerra que ficou imortalizada na famosa fala de Robert Duvall no filme de Francis Ford Coppola, Apolypse Now: "I love the smell of napalm inthe morning".

2 comentários:

OCTÁVIO DOS SANTOS disse...

«Não haja notícia de que Hitler, nem outro qualquer beligerante, tenha usado armas químicas durante os combates na II Grande Guerra...»

John Kerry estava a referir-se a civis vítimas de armas químicas. E os nazis utilizaram-nas... nos campos de concentração.

Eduardo Freitas disse...

Fico na dúvida. John Kerry já disse tudo e o seu contrário ao longo da sua vida política. De resto, dever-se-ia lembrar da mãozinha que deu a Saddam Hussein na guerra contra o Irão (ver, por exemplo, aqui e, também, pelo menos a certa altura, na guerra contra os curdos no norte do Iraque.