terça-feira, 19 de novembro de 2013

Por que o establishment tudo faz e fará por ignorar os austríacos

Chris Rossini é um dos meus bloggers preferidos. Neste seu artigo, ilustra com clareza e acutilância que, ao contrário da narrativa única convencional veiculada pelos media de "referência", existe de facto uma escola de pensamento económico alternativa à amálgama indiferenciadora como os "economistas" são frequentemente apresentados. De facto, a Escola Austríaca, porque explicitadora de relações de causa e efeito fundadas no estudo da acção humana, é capaz de fornecer explicações ricas e intelegíveis (não fundadas em animal spirits nem apelar à providencial acção de alienígenas) e, centralmente, porque está dotada de uma capacidade preditiva que será surpreendente para muitos. Para os "austríacos", por exemplo, a ocorrência de "consequências não intencionais", na sequência de práticas intervencionistas governamentais, nada tem de misterioso sendo tudo menos surpreendentes (porque são previsíveis). E, sobretudo, mercê da designada teoria austríaca dos ciclos económicos, antecipar a eclosão de bolhas e subsequentes e inevitáveis estouros. Numa altura em que se sucedem os recordes bolsistas (nos EUA, de todos os tempos apesar, por exemplo, disto e disto) e sem que se observem nas economias sinais reais de pujança económica (muito pelo contrário), seria bom atender ao que vozes como Marc Faber, Jim Rogers ou Peter Schiff vêm insistentemente chamando a atenção. Para que não voltemos a assistir a coisas como esta. A tradução, como habitualmente, é da minha responsabilidade.
Sábado, 16 de Novembro de 2013

Da Bloomberg View:
Os economistas há muito que sustentam não se dever esperar deles que prevejam crises, como a que quase afundou a economia global, há cinco anos atrás.
Será que todos os "economistas" pensam em uníssono? Claro que não. Os economistas "austríacos" previram os estouros dos mercados imobiliários e bolsistas mas, infelizmente, [os media] fizeram orelhas moucas às suas previsões. Quando não foram ridicularizados.

Depois das bolhas terem rebentado, aos economistas austríacos não lhes foram solicitados conselhos quanto à forma de evitar situações semelhantes no futuro. Pelo menos por parte dos media do mainstream [de "referência"]. Inversamente, o interesse público pela escola austríaca tem vindo a explodir na internet.

Deve sublinhar-se que os economistas austríacos não caíram agora das nuvens para prever a eclosão das bolhas mais recentes. Dois austríacos muito bem conhecidos (Ludwig Von Mises e F. A. Hayek) alertaram para o crash de 1929, aviso que também à época caiu em saco roto.

F. A. Hayek e Ludwig von Mises
Usando como guia a Teoria Austríaca dos Ciclos Económicos [ABCT, na sigla anglo-saxónica], é certamente possível "prever crises". Porém, não se espere por previsões exactas do género de que "a recessão irá ocorrer em Maio de 2013". Haverá sempre que olhar para tais previsões com um olhar vigilante. Isto porque o mundo é demasiado complexo para que se possa [seriamente] emitir tão "exactas" previsões.

A Bloomberg View mostra até que ponto os economistas da corrente dominante  podem ir para evitar o confronto com a Escola Austríaca:
Muitos, incluindo alguns vencedores do Prémio Nobel, sustentam que as crises são, pela sua própria natureza, imprevisíveis. Ao mesmo tempo, outros - auxiliados por engenheiros, físicos, ecologistas e cientistas da computação - estão a desenvolver formas de detectar e quantificar riscos sistémicos, incluindo medidas a que os reguladores poderiam recorrer para identificar desequilíbrios ou vulnerabilidades que viessem a resultar numa crise.
Eles estão a recorrer a engenheiros, físicos, ecologistas e cientistas da computação!!!

Uma vez mais, a economia está erroneamente a ser tratada como uma ciência física. Este é um erro monumental de que os economistas do mainstream muito simplesmente não podem (nem vão) abdicar.

A economia é uma ciência dedutiva As pessoas não são rochas, árvores, ou máquinas. Ao contrário destas, somos todos indivíduos que pensam, que fazem escolhas baseadas nas nossas próprias escalas de valores escolhidas individualmente.

Os economistas do mainstream prefeririam perecer a admitir o óbvio. Há várias razões que explicam por que é este o caso.

A primeira razão é porque o governo deixaria de os ouvir. A actividade dos governos gira à volta da tomada de poder e do seu controlo. Eles pretendem que os economistas lhes apresentem "modelos" para reforçar o controlo. Não importa que os "modelos" não possam de todo fazer o que os seus autores reclamam. O governo não precisa de "modelos" para conseguir o que pretende. Ele apenas precisa de uma desculpa a que possa apontar, de modo a agir. Os economistas da ortodoxia dominante estão lá para fornecer o pretexto e... ponto.

Isso leva à segunda razão pela qual os economistas convencionais preferem morrer a admitir a verdade. Há recompensas para quem proporcionar pretextos ao governo. Quem o conseguir será alvo de pompa e circunstância incríveis e nunca mais terá que se preocupar com o seu bem-estar material. Prémios Nobel da Paz e posições em universidade de prestígio serão outorgadas sob estrondosos aplausos.

Tais recompensas são bem dignas destes "economistas". Os únicos requisitos adicionais são o de jamais mencionar a Escola Austríaca, senão para a classificarem de marginal, lunática e de um qualquer outro nome depreciativo que ocorra no momento. Por outras palavras, manter a verdade à distância e ausente do discurso público.

Felizmente, a informação deixou de estar sob o domínio dos governos e dos seus "meios de comunicação". Ron Paul contrariou o sistema e trouxe a Escola Austríaca para o discurso público. Como resultado desse esforço, esta escola de pensamento está hoje a espalhar-se entre a população a uma velocidades incrível.

Do lado negro da "força", o único controlo que o governo e os seus economistas-criadores-de-modelos estão a exercer é uma destruição controlada da economia.

7 comentários:

Floribundus disse...

passei 10 anos da minha reforma
na Áustria (com excepção do inverno).
confundiam sempre com a Austrália.

la solita cagata

Floribundus disse...

o seu blogue é o 1º que leio

depois de recusada a merda duma cátedra de química
fiz matérias-primas de síntese a trabalhar com 'o zé da enxada' e terminei a minha carreira profissional no sector de marketing 'a vender merda com sabor a merda'.

impressionou-me muito o livro 'the road to serfdom' lido no final dos anos 50.

se bem me lembro encontrei o seu nome no átrio da universidade no Ringstrasse quando procurava o de Schrödinger

Eduardo Freitas disse...

Caro Floribundus,

Muito me honra com a escolha que fez para a sua estreia pela blogosfera esperando poder continuar a fornecer-lhe razões para que continue a aparecer por este despretencioso EI.

Já afastado da vida activa convencional por motivos de saúde, a minha franca disponibilidade para o estudo dos "austríacos" ocorreu já na era da maturidade da internet. Na universidade (?) foi-me ministrada uma dose maciça da ortodoxia então dominante (e que em larguíssima medida se mantém), onde não havia espaço para a heresia. Nenhum dos austríacos, e apesar do Nobel de Hayek em 1974, foi sequer mencionado à parte uma nota de pé de página para o oitocentista Carl Menger, fundador da Escola.

Floribundus disse...

Caro Eduardo

votos pela suas melhoras.
aos 82 o débil sobreviveu aos fortes e a 4 erros médicos graves.

publiquei uns livros esgotados num reduzido nicho de mercado.

se aprecia pintura clássica pode ver
'viático de vagamundo'
onde diariamente apresento um tema com 5 pinturas

'quem para é atropelado por trás'

Saúde e Fraternidade

Eduardo Freitas disse...

Caro Floribundus,

Grato pelas suas simpáticas palavras.

Não sendo um conhecedor, aprecio muito a pintura, pelo que não deixarei de tirar partido da sugestão que gentilmente me deu.

Saudações

Filipe Silva disse...


A internet é uma coisa maravilhosa.

Na Universidade a única menção da escola austríaca foram 30minutos, numa aula de revisão da cadeira História do pensamento económico, a qual não participei, portanto podemos dizer que nunca tinha ouvido falar.

Desde há 2anos para cá tenho aprofundado o estudo desta.

Tenho aprendido mais nestes anos do que aprendi na universidade.

E todos os dias passo aqui no EI, continuação de excelente trabalho


PS- as melhoras

Eduardo Freitas disse...

Caro Filipe,

Obrigado pela simpática referência e pela regularidade das suas visitas a este quintal.

Saudações