sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Estado e moral hazard (2) – A corrupção do cientista


Imagine-se que o Estado chama a si, tornando-a pois (mais) uma Função de Estado, a produção científica. A grande inspiração proveio do tristemente célebre projecto Manhattan. Fá-lo através de um sistema de bolsas (= subsídios) com o qual arregimenta toda uma comunidade que dele tende a ficar brutalmente dependente. Os (múltiplos) doutoramentos sucedem-se, os pós-doutoramentos também. As empresas privadas ganham um forte incentivo em diminuírem as suas actividades de produção científica.

Neste processo, as universidades dependem crucialmente do financiamento estatal para a produção científica, nomeadamente aquela de que se esperam as soluções para os problemas fundamentais que se julga estarem a assolar o planeta (v.g. “aquecimento global”). Os governos, por sua vez, demonstram efusivamente a sua prodigalidade tanto mais que a opinião publicada exige respostas “firmes” por parte dos governos. E assim se fecha o círculo. Mas atenção: as verbas para a investigação que não se insira na linha “politicamente correcta” e, pior, que se atreva a questionar a ortodoxia vigente, são exíguas se é que, sequer, existentes.

O establishment, por sua vez, vive no terror de que a opinião publicada se altere o que aliás é muito difícil pois os media têm horror à trivialidade, vivendo antes do alarmismo cataclísmico. Tal significaria, se não o fim, pelo menos uma acentuada míngua relativamente à prodigalidade de fundos públicos de que têm usufruído. Por essa razão, os “guardiões do templo” tudo fazem e a tudo recorrem para que tal não aconteça: tomando emprestada a máxima de que “notícia que não passe na televisão, não aconteceu”, a palavra de ordem é suprimir a expressão das opiniões dissonantes nas publicações científicas. Este é um superlativo exemplo do que mantenho.

Se Kuhn explicou o processo de formação de novos “paradigmas” científicos, isto é, a substituição das velhas por novas ortodoxias, o cientista das ciências naturais não se atreve, pelo menos publicamente, a contestar o falsificacionismo empírico popperiano. Assim, os guardiões do templo ortodoxo necessitam de uns compagnons de route que, usando a sua condição de leigos, podem dizer e escrever aquilo que a cientistas não seria admissível. É aos compagnons de route que cabe erigir o discurso da futilidade de qualquer tentativa de enfrentar a ortodoxia uma vez que, claro está, existe um largo “consenso”.  “Science is settled” e, provavelmente, “talvez já não tenhamos tempo suficiente para agir”.
A Universidade, no concubinato em que se deixou enlear, transformou-se num dos grandes focos de moral hazard contemporâneos. É preciso que reganhe a sua independência face ao Estado.

É preciso regressar à verdadeira atitude científica. Como nos lembra Fred Singer, “Scientists should all be skeptical" e “You don’t vote in science”.

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