domingo, 28 de agosto de 2011

A verdade a que temos direito (*)

Como Jon Stewart, de todo insuspeito do "pecado" libertário, fazia notar aqui até aos limites do ridículo, o establishment, através dos mainstream media ao seu serviço, e apesar de todas as evidências empíricas, pretende fazer de conta que Ron Paul não existe e não é um actor relevante na corrida à candidatura presidencial americana do próximo ano.

Por cá, então, o silêncio é sepulcral. À excepção de uns quantos - poucos - blogues, a operação de supressão tem tido um sucesso a 100%.

Vejamos, por exemplo, o Público de hoje. Kathleen Gomes, correspondente do jornal em Washington (!), assina um dossier sobre a "Direita americana", nas páginas 24 e 25, cujo artigo principal está titulado "Um estrondo chamado Rick Perry, mais perto do duelo com Obama", sendo indicados como os três favoritos à nomeação republicana, para além de Rick Perry, Mitt Romney e Michele Bachmann.

Para credibilizar o tom geral do dossier, Gomes refere a certa altura:
"Uma sondagem da Gallup divulgada esta semana [26 de Agosto] revela que Rick Perry é o candidato republicano que mais agrada aos eleitores que se identificam com o Tea Party, recolhendo 35 por cento dos votos. A sua rival Michele Bachmann, tida como a madrinha do Tea Party, só obtém 14 por cento".
É falsa a afirmação? Não, não é, como o seguimento do link o demonstra (Ron Paul aparece em 4º...). Mas reparem: será que esta é a sondagem mais adequada para antecipar, pelo menos por agora, quem vai ser o próximo candidato republicano? Parece-me bem que não uma vez que o campo republicano não se resume ao Tea Party e seus simpatizantes e, quando se tem isso em conta (sondagem da Gallup publicada a 24 de Agosto), os números são diferentes (Paul passa a 3º, três pontos à frente de Bachmann...);


por outro lado, à escolha do candidato republicano não será com certeza indiferente o posicionamento estratégico de, em confronto directo com Obama, o candidato republicano o poder vir a derrotar (sondagem da Gallup publicada a 22 de Agosto): 


Ou seja, na hipótese de o frente a frente ser Mitt Romney /Obama, Romney venceria com uma margem de dois pontos; caso fosse Rick Perry o candidato, verificar-se-ia um "empate técnico"; frente a Ron Paul, a sondagem indica que Obama venceria por dois pontos que se transformariam em quatro se quem enfrentasse Obama fosse Michele Bachmann...

Restará registar que não há nenhuma referência a Ron Paul no dossier que Kathleen Gomes assina. Ela, que vive em Washington. Concluindo: o Público é, sem dúvida, parte integrante do establishment.
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(*) Sim, eu sei que o título tem direitos de autor. Fartei-me aliás de procurar a fonte original e quando me aprestava para desistir eis que aqui, encontrei o que andava à procura. Reproduzo-o agora  com a devida vénia ao Pedro Rolo Duarte. Para os mais jovens, atenção especial ao quadrante inferior esquerdo da capa da 1ª edição d'o diário.

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Actualização: lembrei-me entretanto de Ephemera, o serviço público que Pacheco Pereira nos proporciona.

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