sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Quem nos deu o direito de refazer o mundo?

É o título de um notável artigo de Patrick J. Buchanan na The American Conservative. Por o achar tão importante para desmistificar o que a imprensa e a televisão, também em Portugal, classificam de postura isolacionista, traduziu-o na íntegra:
O embaixador dos EUA, Michael McFaul, o homem de Obama em Moscovo, que acaba de assumir o cargo, teve uma recepção rude. Compreensivelmente, de resto.

Em 1992, McFaul era o representante na Rússia do National Democratic Institute [NDI],  uma agência financiada pelo governo dos EUA, cuja missão é promover a democracia no exterior.

O NDI tem estado ligado às revoluções codificadas por cores como as Laranja nos regimes destronados na Sérvia, na Ucrânia, no Quirguistão, na Geórgia e no Líbano. O projecto fracassou na Bielorrússia.

O NDI é uma das várias agências, que datam da década de 1980, que foram criadas para subverter os regimes comunistas. Com o fim da Guerra Fria, no entanto, estas agências não foram desactivadas, mas antes recondicionadas para servir como uma espécie de Comintern americano.

Enquanto o velho Comintern de Lenine procurou instigar revoluções comunistas em todo o Ocidente e seus impérios, no pós-Guerra Fria a América decidiu promover revoluções democráticas para refazer o mundo à sua imagem do final do século 20.

Em 2002, McFaul escreveu um livro: "Revolução Inacabada da Rússia".

Os homens de Vladimir Putin não são irrazoáveis quando se perguntam se ele foi enviado para Moscovo para concluir essa revolução. Putin já acusou Hillary Clinton de emitir o sinal para começar manifestações de rua - para protestar contra as eleições de Dezembro da Rússia .

Nem é surpreendente que as gentes de Putin suspeitem de McFaul, o qual acrescentou aos seus problemas um encontro com dissidentes anti-Putin no dia seguinte ao da apresentação das suas credenciais.


McFaul diz que tal faz parte de seu "compromisso de duas vias" com a sociedade russa. Antes de partir para Moscovo, disse à NPR 'Morning Edition': "Nós não nos vamos intrometer ou ditar o caminho (da Rússia para a democracia) ... Iremos simplesmente apoiar o que gostamos de designar por 'valores universais' - não valores americanos, não valores ocidentais, valores universais".

E quem somos nós para os impor a outras nações? Ter-nos-á a Divina Providência atribuído essa missão? Quem é que nós, americanos, pensamos que somos?

Afinal de contas, nós nem sequer concordamos entre nós sobre o que é moral e imoral, o que é o bem e o mal. Na verdade, as nossas próprias profundas divergências sobre o que é moral e o que não é estão na raiz das guerras culturais que estão dilacerando este país.

Na América, as mulheres têm o direito constitucional ao aborto. Dezenas de milhões de pessoas recorreram a esse direito desde Roe v. Wade. Porém, tradicionalistas de muitos credos - católicos, protestantes, muçulmanos, ortodoxos e judeus - rejeitam um tal direito a qualquer mulher considerando-o como uma abominação moral.

Têm os homossexuais o direito de coabitar, formar uniões civis e casar?

Em alguns estados americanos, sim; noutros, não. Mas tente-se impor esses valores em nações muçulmanas e do Terceiro Mundo, onde a homossexualidade é um ultraje moral e até mesmo uma ofensa capital, e os nossos embaixadores encontrar-se-ão em perigo físico.

McFaul acredita que a democracia é um sistema universalmente superior de governo? No entanto, os nossos próprios pais fundadores detestavam uma democracia assente num homem, um voto. A democracia não tem sequer uma menção na Constituição, o Bill of Rights ou Federalist Papers.

O autor da Declaração de Independência, Thomas Jefferson, achava que a sociedade deveria ser governada por uma "aristocracia natural" da "virtude e talento."

Se a promoção da democracia é uma missão dos nossos diplomatas, quem somos nós para subverter as monarquias de Marrocos, da Jordânia, do Bahrein e da Arábia Saudita?

Quando vemos como a democracia habilitou a Irmandade Muçulmana e os Salafistas no Egito, o Hamas na Faixa de Gaza e o Hezbollah no Líbano, faz sequer algum sentido insistir que a mesma seja abraçada por nações onde as populações são profusamente anti-americanas?

Qual é a posição universalmente de direito quanto à pena capital - a posição de Rick Perry no Texas, ou a posição de Andrew Cuomo em Nova York?

Nos Estados Unidos, todas as religiões - Santeria, Wicca, Islamismo, Cristianismo - devem ser tratadas de forma igual e todas elas são mantidas fora da praça pública e das escolas públicas. Num mundo muçulmano contendo um quinto da humanidade, o Islão é a única fé verdadeira. Fés rivais têm poucos ou nenhuns direitos.

Será que vamos forçar o mundo islâmico a tratar da mesma forma todas as religiões?

Nós celebramos a diversidade religiosa, racial e étnica. Os chineses, que perseguem os Uigures, os Tibetanos, os Cristãos e os Falun Gong, detestam a diversidade e temem que ela destrua o seu país.

Nós acreditamos na liberdade de expressão e de imprensa.

No entanto, em França, se se negar que os Turcos cometeram genocídio contra os Arménios em 1915, é-se culpado de um crime, enquanto que na Turquia, se se afirmar que os Turcos cometeram tal genocídio, ter-se-á cometido um crime.

Deverão os diplomatas dos EUA lutar pela revogação das duas leis? Ou preocuparem-se antes com os nossos próprios assuntos?

Se a América quer liderar o mundo, então façamo-lo através do exemplo, como já o fizemos no passado, não por intimidação de cada nação na terra para adoptar o estilo americano já que o que agora fazemos não parece estar a funcionar assim tão bem para os americanos.

McFaul deve ater-se às suas funções diplomáticas.

Jefferson estava certo: "Nós não pretendemos intrometermo-nos nos assuntos internos de qualquer país."

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