quinta-feira, 17 de maio de 2012

Uma bela teoria

é o título do post de rui a. onde zurze - merecidamente, de resto - na exótica tese da esquerda: "os empregos, tal como os dinossauros pré-históricos, terão desaparecido, quase até à extinção, por factores politicamente exógenos, isto é, pelos quais ninguém é responsável na política nacional". Nada a opor a esta leitura, à excepção do escopo da crítica.

A meu ver o post falha metade do alvo ao fustigar em exclusivo a esquerda quando a direita em Portugal só em grau difere daquela no domínio económico. No essencial, todos querem mais despesa pública (é só pensar no TGV de Barroso e Sócrates). Hoje, a esquerda prefere que ela aumente já e em grande volume para “promover” o "crescimento" (na realidade, mais défice, mais dívida e um maior ritmo na criação de moeda  -“liquidez” - que inevitavelmente desembocarão amanhã num ainda maior descalabro económico e pior desemprego); já a direita, a título da manutenção de um "estado social" compassivo e “mais justo”, apenas pretende tornar os níveis de despesa pública "sustentáveis", para isso contando com a continuação de uma pressão fiscal asfixiante (e só aí reside a austeridade, reservada ao sector privado) e uma eventual retoma económica no futuro que permita, sem recorrer a novos agravamentos das taxas de imposto, que a receita fiscal aumente sem dor imediata assim possibilitando novos aumentos da despesa pública.

As metas que o actual governo estabelece não passam por uma aposta estratégica na redução nominal da despesa pública, mas apenas por um objectivo de redução do peso relativo da despesa pública no PIB sem qualquer intenção de discutir sequer as funções do Estado. Se dúvidas houvesse, bastaria o triste mas definitivo episódio do Pingo Doce no 1º de Maio para evidenciar que, também à direita, subsiste o horror (o à esquerda o ódio) à liberdade de actuação dos agentes económicos. Se bem que, pelo menos por ora e à excepção da banca, esteja arredada a "solução" do recurso às nacionalizações (reservada hoje para os regimes cleptocratas, teocratas e populistas), a verdade é que os empresários são apenas tolerados excepto quando se conformam aos interesses do Estado, nessa altura adquirindo o estatuto de bem-vindos, estatuto que manterão enquanto se mantiver essa conformidade, se necessário for, à custa da extracção das tais "rendas excessivas", claro.

Sem comentários: