segunda-feira, 14 de maio de 2012

A verdade do latim

De modo totalmente inesperado, este fim-de-semana significou um revisitar de um passado bem distante dos meus tempos de catraio. Voltei a ver e a tocar em objectos que julgava há muito terem desaparecido, restos de uma papelaria que não vingou: lápis, canetas, tinteiros, papel de lustro (liso e em relevo), blocos, envelopes, papel de carta, borrachas, réguas, esquadros, compassos, transferidores, etc. E livros escolares, claro. Folheei um - Elementos de Gramática Portuguesa (16ª edição, actualizada e de acordo com a última [de 1943] reforma ortográfica) de Adriano A. Gomes e José Nunes Figueiredo, impresso em 1954. Do prefácio à 14ª edição, incluído no pequeno volume, assinado por José Nunes Figueiredo, retive o seguinte excerto:
«Foi esta edição melhorada num ou outro ponto, foi mesmo ao encontro de sugestões postas, mas continua elaborada com base no latim, na convicção segura de que é essa a sua verdade. Mais uma vez se seguem os moldes tradicionais, sem inovações no plano geral, porque se preferem, à documentação de teorias novas, os conhecimentos advindos da experiência e da filosofia do bom senso. É que é sempre preferível fazer-se bem aquilo que costuma fazer-se e que  já passou por longo processo de elaboração e de adaptação. Para quê criar novas condições de adaptabilidade a uma população escolar, cujo ensino tem de ser, acima de tudo, elementar e prático?»
E eis que surge, sucintamente apresentada, a defesa do Conservadorismo. Para a 16ª edição, o prefácio, de tão exíguo, mereceu o título "Duas palavras apenas", igualmente assinado por José Nunes Figueiredo, em 28 de Setembro de 1952. Merece referência o 2º dos seus três curtos parágrafos:
«Continua a ter por base [este compêndio] o latim e em nada é alterada a sua feição anterior. É esta, como afirmámos na 14ª edição, a sua principal verdade e procedemos assim na esperança sempre viva de que melhores dias surjam no ensino da língua-mãe, única base sólida de tudo quanto possa ensinar-se e aprender-se da nossa língua.»
Impossível não estabelecer paralelos com o presente.

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