sábado, 22 de junho de 2013

Eis os economistas que explicaram cada uma das crises no último século (não, Krugman não é um deles)

Pierre-Guy Veer assina Meet the Economists Who Have Explained Every Crisis Of the Last Century (No, Krugman Isn't One Of Them), um despretensioso mas a meu ver bem elegante e conciso artigo sobre a interpretação "austríaca" da crise que que se iniciou em 2008 (e que ainda persiste) bem como as crises precedentes dos últimos cem anos. O foco de atenção dirige-se, naturalmente, para o sistema monetário fiat em que vivemos, manipulado a bel-prazer por governos e bancos centrais, bem como para o vigente sistema bancário de reservas fraccionárias.

Uma das críticas recorrentes aos economistas do mainstream é que eles estão permanentemente a "errar as previsões" (e não é só Vítor Gaspar, ou o FMI...). Claro que erram, mas não porque não saibam fazer contas. Essa é uma crítica que passa muito longe do alvo. O que na realidade se passa é que os "erros" são inevitáveis pois é impossível subsumir os milhões de milhões de decisões que todos os dias são tomadas pelas pessoas, seja no plano individual seja nos diferentes planos de interacção humana (família, emprego, amigos, vizinhança, etc.), e que a única coisa certa é que elas serão diferentes das do dia seguinte (ad infinitum). Por definição, o ser humano é imprevisível. As pessoas não são pedras. Nem, felizmente, robots. Por isso, todos aqueles que reclamam o estatuto de ciência para a disciplina de Economia, tendo a Física por referência - onde, aí sim, os fenómenos se podem prever - estão destinados a um inapelável e rotundo fracasso. Isso não significa que não possa haver, como há, a identificação de padrões que possibilitem maiores ou menores graus de previsibilidade. (Peter Schiff, um "austríaco" com um excelente registo preditivo, faz aqui o que é a meu ver um excelente exercício. A conclusão a que chega, que subscrevo, leva-o a aconselhar os seus leitores a "pôr o cinto" - a turbulência que aí vem vai ser muito severa.)

A tradução é da minha responsabilidade como é minha a autoria do roubo do título do post.
Muitas pessoas ainda acreditam que o lamaçal económico em que estamos atolados era imprevisível ou, então, causada pela desregulamentação massiva - apesar do facto de que a actividade estatal nunca ter realmente diminuído. São falsas ambas as afirmações. Cada uma das crises económicas dos últimos 100 anos era previsível (por vezes também prevista) foi causada pela intervenção estatal na economia.

Ludwig von Mises
Na verdade, parece que algumas pessoas, em 2013, começaram a compreendê-lo. O Dr. Emanuele Canegrati, economista sénior junto do Parlamento italiano, foi mesmo ao ponto de dizer que Ludwig von Mises, o já falecido economista americano natural da Áustria, e a sua Escola Austríaca de economia tinham razão quando defendiam a sua teoria sobre os ciclos económicos e a inflação.

Que teoria é essa? Apesar do que os keynesianos como Paul Krugman afirmam, a escola austríaca de economia não é um culto. É uma ciência séria que se baseia na praxeologia, ou seja, no estudo da acção humana e da escolha. Ao contrário dos átomos ou dos animais em laboratórios, é quase impossível estudar as acções dos seres humanos num ambiente experimental, uma vez que é quase impossível observar condições ceteris paribus (mantendo tudo o resto constante). Consequentemente, a praxeologia só pode analisar os efeitos, não as motivações, do comportamento humano. Não obstante, ela vai bem longe na explicação das teorias da Escola Austríaca.



Por exemplo, num nível pessoal, Mises disse em Socialismo, Uma Análise Sociológica e Económica que se considerarmos o álcool ou outras drogas como sendo perigosas, não as iremos usar. E se as acharmos prejudiciais para os outros, só podemos tentar convencê-los disso mesmo porque, "numa sociedade capitalista cujo princípio básico é o da auto-determinação e da auto-responsabilização de cada indivíduo, [ninguém pode] forçá-los contra a sua vontade a renunciar ao álcool". Se esse é o seu caminho para a felicidade, pois que o seja.

No que concerne à economia, a praxeologia ensina-nos acerca dos meios sustentáveis ​​para enriquecer, principalmente através de um sistema monetário forte (sustentado numa commodity como o ouro ou a prata, que seja rara e difícil de reproduzir) e em bancos cuja única regulação seja a de respeitar as suas obrigações contratuais, ou seja, de serem capazes de devolver aos seus clientes todo o seu dinheiro a qualquer momento (isto é, ter todos os depósitos como reservas). Mesmo monetaristas como Milton Friedman concordam com isto.

Neste quadro mental, pode-se facilmente perceber o que conduziu à crise económica de 2008 e o que impediu a economia de recuperar totalmente. O nosso sistema monetário é fiduciário [fiat]. O que de outra forma não passariam de inúteis pedaços de papel torna-se "curso legal" porque o governo e/ou o banco central dizem que tem valor. Uma vez que a moeda fiat não está ligada a nenhuma commodity, nada impede os criadores de moeda de a imprimir nas quantidades que quiserem, o que ocorreu [e continua a ocorrer] com o infame programa de flexibilização quantitativa [QE - quantitative easing]). Imprimir dinheiro mantém as taxas de juros baixas, o que significa que as empresas têm um incentivo para contrair empréstimos e criar empregos.

Infelizmente, essa política monetária expansionista [de dinheiro fácil - easy money] não é de todo sustentável. Os empréstimos são supostos ser suportados pela [prévia constituição de] poupança, não por dinheiro criado a partir do nada. Este tipo de moeda, como os economistas Richard Cantillon, Jean-Baptiste Say, Adam Smith, Murray Rothbard e tantos outros deram conta, acaba por diminuir o valor do dinheiro, ou seja, leva a que sejam necessárias mais notas para comprar os mesmos produtos. Isto é a inflação, e isto é o que destruiu as economias de muitos países no passado. Em síntese, ou a economia entra em colapso porque o dinheiro se tornou inútil [por ter perdido o seu valor, como recentemente aconteceu no Zimbabwe] ou, então, o banco central pára a impressora [ou diminui a velocidade da sua rotação], o que provocará uma recessão/depressão (quanto maior o período de dinheiro fácil, mais grave será a crise subsequente).

Agora, note-se que as depressões em si são vitais. Elas constituem uma ocasião para a economia se rejuvenescer livrando-se dos seus elementos não sustentáveis que foram criados pela política do dinheiro fácil. Tudo funcionou muito bem em 1920 sob Harding [a depressão de 1920, de que muito raramente nunca se fala, foi violenta mas durou apenas um ano, seguida de uma vigorosa retoma]. Mas a depressão de 2008, não tem de todo sido capaz de rejuvenescer a economia uma vez que os sucessivos governos têm optado por resgatar empresas incompetentes, como a GM e a Chrysler, que não têm sido capazes de acompanhar a procura [ou seja, o que os clientes de automóveis pretendem].

Os bancos também têm sido resgatados com o dinheiro dos nossos impostos. Embora os seus actos tenham sido de facto desprezíveis - emprestar dinheiro a pessoas que tinham muito pouca probabilidade de os reembolsar - eles podem ser explicados através da praxeologia. Normalmente, um banco opera para obter lucro por um serviço que proporciona a outrem. O banco empresta dinheiro (se assim o decidir) à taxa de juro apropriada, de acordo com o que o banco acredita ser o risco de incumprimento do mutuário. Pode suceder que alguns mutuários entrem em incumprimento, mas nada que provoque uma corrida aos bancos, quando todos querem o seu dinheiro de volta antes que lá não haja nenhum.

Todavia, com a moderna regulação bancária, os bancos perderam o incentivo para agir de forma responsável. Assim, regulamentos como o Equal Credit Opportunity [Igual Oportunidade de Crédto], que proíbe os bancos de fazer perguntas sobre o estado civil ou sobre a origem de rendimentos, a Community Reinvestment Act [Lei do Reinvestimento Comunitário], que força os bancos a conceder empréstimos às famílias mais pobres, a Fannie Mae, que aumentou os empréstimos hipotecários às famílias de baixo rendimento, e o Federal Deposit Insurance Corporation [link], que garante que a maioria dos depósitos até 250 mil dólares está a salvo de falências bancárias, tudo isto encoraja os bancos a agir no seu melhor interesse, ou seja, de forma imprudente. Quando as taxas de juros estavam (artificialmente) baixas, como estiveram sob George W. Bush tal como estão agora, é possível manter o controlo. Porém, logo que as taxas de juro aumentem, aumentarão os incumprimentos, e o esquema de Ponzi (neste caso, a alegação do banco de ter mais dinheiro do que na realidade tem) entra em colapso, como sucedeu em 2008.

O que pode ser então feito para resolver os actuais problemas económicos? Exactamente o que os Austríacos sugerem que façamos: parar com a política de dinheiro fácil (o que em última análise significa abolir a Fed e voltar no padrão-ouro/prata), parar com as distorções estatais no mercado, e deixar que as pessoas ajam de acordo com os seus próprios interesses desde que não ponham em perigo a vida ou a propriedade dos outros. Não há outra maneira.

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