73 implicações estonteantes
"As empresas de tecnologia e programação dominarão, cada vez mais, a economia mundial à medida que empresas como a Uber, a Google ou a Amazon alterem o sector dos transportes como o conhecemos para um serviço pago enquanto use.
O software vai devorar este mundo (sic), de facto.
Ao longo do tempo, aquelas empresas terão tantos dados acerca das pessoas, dos seus padrões de consumo e de eventuais obstáculos que será muito difícil a entrada de novos agentes nesses mercados.
Sem intervenção estatal (ou de qualquer iniciativa concertada), haverá uma tremenda transferência de riqueza para um pequeno número de pessoas que sejam proprietárias de programas específicos, de soluções de produção de energia, dos veículos de serviço ou da infraestrutura de manutenção.
Haverá uma grande consolidação das empresas que sirvam estes mercados à medida que a eficiência e a escala se tornem mais interessantes."
Geoff Nesnow, "73 implicações estonteantes dos carros e camiões autónomos", 9 de Fevereiro de 2018.
Anexo aqui algumas observações críticas relativamente ao artigo (versão completa na ligação colocada acima). Traduziu-se uma pequena, mas relevante julgamos, parte do artigo para destacar dois aspectos:
Por um lado, o optimismo evangélico destes promotores das tecnologias digitais. Optimismo que rapidamente esmorece quando contempla objecto tão complexo como o mercado ou a economia real (muito mais complexo do que as novíssimas tecnologias que pregam!). E esse esmorecimento conduz sempre à sacra visão de que o estado tem de intervir para regular, para salvar, para melhorar (acrescentar o que se quiser) ou para afinar os detalhes éticos de certos negócios.
Esta ingenuidade (evito outra expressão, note-se) é historicamente conhecida e não é produto deste tempo novo. E o que destaco aqui é a incapacidade de compreender que as actuais configurações dos mercados (neste caso das tecnologias digitais) dependem, justamente, das directrizes que os estados terão dado aos respectivos sectores anteriormente. Quantas vezes essas directrizes não são, precisamente, resultado do conluio entre agentes políticos e agentes económicos? Naturalmente, estes inocentes-pseudo-criativos não têm capacidade para reconhecer este facto. Ou têm?
Por outro lado, note-se a confusão que estes inocentes-pseudo-criativos (adorei e agora abuso, que me desculpem os leitores) fazem entre dados e informação.
Por aqui partilhamos a preocupação com a recolha e utilização de dados pessoais por parte de empresas e estados, mas não confundimos dados com informação significativa, que possa ter uma aplicação económica (ou outra) que seja viável e sustentada. E é, julgamos, esta confusão que tem sustentado grande parte do entusiasmo e do crescimento do sector das tecnologias digitais. Que depois não sobrevive ao teste do tempo.
O futuro pode ser promissor, mas exige-nos menos a disposição de acreditar do que a capacidade de questionar a qualidade dos desafios e soluções que cada um enfrenta para responder às suas necessidades. Favorecer o desenvolvimento de uma visão verdadeiramente criativa do futuro é assumir aquela responsabilidade crítica, é aprender com o passado e ancorar o caminho em fundamentos menos circulares e mais esclarecidos. Dispensando, por exemplo, a ideia do estado paternalista. Isso sim seria original.
Serão capazes, os inocentes?
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