sábado, 30 de novembro de 2013

O salário mínimo é um exterminador de empregos; um crime, portanto

Ao longo destes últimos dias, o tema do salário mínimo voltou em força à ribalta pelos diferentes quadrantes políticos, incluindo do próprio governo (ou pelo menos parte dele, não fosse a troika...). Celeste Cardona, por exemplo, numa "comovente" crónica no DN, diz que "seria inteligente proceder, de imediato, ao seu aumento"; Patrick Monteiro de Barros, numa tirada à Warren Buffet à lusa escala, diz ter "vergonha" do seu valor ser tão baixo; para o PS (à boleia da "vitória" do SPD sobre Merkel) e a UGT, idem aspas e por aí adiante. Entretanto, quem ousa dizer a verdade em voz alta é alvo de um chorrilho inacreditável de insultos. Foi o que aconteceu ao prof. César das Neves quando afirmou, de resto correctissimamente, que aumentar o salário mínimo significaria a "estragar a vida dos [mais] pobres". Noutros tempos, talvez não escapasse à fogueira (literal) devido à "insensibilidade social" que as suas declarações veicularam.

Tinha prometido voltar a este assunto ainda que há pouco tenha aqui postado o artigo Salário mínimo, disparate máximo. Mas a indignação demonstrada pela generalidade dos media e das personalidades sobre este tema é tão despropositada (para usar um acentuado eufemismo) que tenho que voltar ao tema. De permeio, uma referência ao chavão, também largamente utilizado por quase toda a gente (incluindo Cavaco Silva), da rejeição de uma "estratégia de baixos salários" e da promoção de "políticas de crescimento". Mas acaso viveremos sob um regime estalinista em que a economia marcha ao ritmo dos planos quinquenais? Ou preferiremos emular Kirchner ou Maduro? Ou viveremos sob a nostalgia dos planos de fomento de Salazar?

Volto assim a socorrer-me de mais um excelente artigo de Dominick T. Armentano, Minimum Wages and Unemployment: Case Closed que arrasa a "argumentação" dos defensores do aumento do salário mínimo.
A única questão relevante no debate sobre um salário mínimo imposto pelo governo é: será que ele reduz as oportunidades de emprego? O debate não está em saber se alguns trabalhadores ficarão melhor depois dos mínimos legais aumentarem; tal acontecerá com alguns trabalhadores. O debate não está em saber se o "consumo" pode vir a aumentar quando forem pagos salários mais altos a alguns trabalhadores; isso poderá suceder, apesar de os trabalhadores desempregados passarem a consumir menos. E o debate não está em saber se os empregadores "ricos" têm condições para pagar salários mais altos; alguns certamente que têm, mas se eles devem ser obrigados a fazê-lo por força legal é uma outra questão completamente distinta.

Os defensores da lei do salário mínimo fazem duas afirmações gerais. A primeira é a de que o aumento do salário mínimo não aumenta o desemprego entre os jovens e os menos qualificados, o único segmento laboral relevante; e a segunda, é a de que existem estudos empíricos que suportam a conclusão de que aumentar o salário mínimo não prejudica o [nível de] emprego.

O senso comum, a lógica, e a lei da procura refutam facilmente a primeira alegação. Aumentar o preço de qualquer coisa, mantendo as outras variáveis ​​constantes, reduz sempre em alguma quantidade o consumo. Com rendimento fixo e substitutos disponíveis, os empregadores privados utilizarão marginalmente menos trabalhadores quando os seus salários são aumentados por via legal. Bastará exagerar o aumento salarial para tornar o ponto óbvio: se se dobrasse o salário mínimo e a produtividade permanecesse inalterada, haverá alguém no planeta que acredite que o emprego não iria diminuir drasticamente? Bem, pela mesma lógica, um aumento marginal no salário mínimo, digamos, de 8 para 10 dólares, como a Califórnia acaba de legislar, terá um efeito marginal negativo sobre o emprego dos jovens e dos pouco qualificados. Caso encerrado.

Mais devagar, dizem os defensores do salário mínimo. E quanto aos estudos (presumivelmente realizados por economistas de renome) que não identificaram perdas de emprego quando se aumentaram os mínimos legais? Bem, o problema aqui, claro, é que "testar" uma proposição em economia não é como testar uma teoria em física ou química.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Citação do dia (147)

Aqueles que querem "distribuir a riqueza" quase invariavelmente  procuram concentrar o poder. Isso acontece com demasiada frequência, e em demasiados países diferentes pelo mundo fora, para que seja uma coincidência. O que é mais perigoso? As desigualdades na distribuição da riqueza ou a concentração do poder?
Thomas Sowell (in Random Thoughts, minha tradução)

Rallo: "Pensões estatais: roubo, pobreza e fraude"

Juan Rámon Rallo aborda o problema da (in)sustentabilidade da Segurança Social em Espanha, sucessivamente agravada pela sistemática recusa, de décadas, em adoptar uma componente de capitalização no sistema, e dos consequentes reflexos na inevitável degradação das pensões nas próximas décadas. Não está com paninhos quentes, como o título do seu artigo publicado no el Economista da passada 4ª feira logo evidencia: Pensiones estatales: robo, pobreza y fraude. Sendo a situação em Portugal neste domínio praticamente coincidente à espanhola (inclusive no profundo iliberalismo dos governos de "direita" em exercício), achei interessante publicar uma tradução daquele artigo. 
Há mensagens que poucos ousam verbalizar mas isso não as torna menos certas nem menos prementes para o futuro das nossas sociedades. Um desses tabus, desastrosos no caso de Espanha, é o que respeita à matéria das pensões. São poucas as pessoas que desejam granjear a inimizade das massas repetindo algo tão directo e incontestável como isto: o nosso actual sistema de pensões é insustentável. Mas é preciso dizê-lo: o sistema é insustentável.

E não é porque ele seja extremamente generoso, apesar de ser grotescamente mesquinho; não porque as contribuições para a Segurança Social sejam baixas, apesar de estarem entre as mais elevadas da Europa; e não porque iremos continuar por várias décadas numa profunda crise económica, mas mesmo se dela pudéssemos sair em breve.

A razão para o colapso do fraudulento sistema de Segurança Social é que, como já aconteceu com o Fórum Filatélico [link], a Afinsa [link] ou com Bernie Madoff [link], a sua base piramidal de receitas está a estreitar-se.

Afinal de contas, o Fórum, a Afinsa e Madoff desmoronaram-se quando não conseguiram continuar a enganar novos clientes para angariar o novo capital necessário para pagar os prometidos rendimentos extraordinários aos antigos investidores; analogamente, a Segurança Social está a desmoronar-se quando deixa de se poder alimentar do espólio de quase 40% do salário dos novos trabalhadores que nem sequer existem e que, por conseguinte, não podem cobrir as pensões daqueles outros trabalhadores que foram previamente espoliados e que hoje atingiram a idade de reforma.

Bernie Madoff
A situação, como digo, pode ter sido agravada e acelerada pela crise económica, mas a questão de fundo é outra. Na semana passada, o Instituto Nacional de Estatística reviu as suas projecções demográficas para Espanha entre 2013 e 2023, avançando números altamente preocupantes: segundo o INE, no prazo de uma década a Espanha perderá 2,6 milhões de habitantes, tanto pelo efeito da emigração como da exígua natalidade; de facto, a expectativa é que em 2017 - daqui a apenas quatro anos - o crescimento vegetativo [ou natural] entre em território negativo, ou seja, o número de mortes supere o de nascimentos. A longo prazo, a perspectiva é ainda mais sinistra: em 2050, teremos apenas um trabalhador por cada pensionista, e isto sob a generosa suposição de que nos encontraremos em pleno emprego.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Walter Williams: "Mascarando o totalitarismo"

Minha tradução do mais recente texto de Walter Williams, "Masking Totalitarism", onde se aborda a distinção fundamental entre direitos negativos e positivos e a conexão dos segundos ao exercício do poder do estado, o mesmo é dizer, da coerção.
Uma das mais antigas noções da história da humanidade é a de que algumas pessoas dão ordens e as outras obedecem. Os membros da poderosa elite acreditam deter uma sabedoria superior à das massas e que foram predestinados a impor pela força essa sabedoria a todos os outros. A sua agenda inclui um ataque ao livre mercado e o que isso implica: a troca voluntária. Os tiranos não confiam que as pessoas, agindo de forma voluntária, façam aquilo que o tirano acha que elas deveriam fazer. Por conseguinte, o funcionamento livre do mercado é substituído pelo planeamento económico e pela regulação o que não é outra coisa senão a substituição forçada dos planos das outras pessoas pelos da poderosa elite.

Walter E. Williams
Porque os americanos ainda mantêm uma grande margem de liberdade, os tiranos têm que mascarar a sua agenda. No plano universitário, alguns professores conferem à tirania uma qualidade intelectual quando pregam não ser a liberdade negativa suficiente. Tem de haver liberdade positiva ou liberdades. Esta ideia está muito difundida no meio académico, mas a sua mais recente encarnação surgiu pela mão do professor David Coates, da Universidade Wake Forest, num artigo no Huffington Post, intitulado "Liberdade negativa ou liberdade positiva: tempo para escolher?" (artigo datado de 2013/11/13). Examinemos então a liberdade negativa contrastando-a à liberdade positiva.

A liberdade negativa (ou direito negativo) refere-se à ausência de constrangimento ou coerção quando as pessoas se envolvem em trocas voluntárias e pacíficas. Algumas dessas liberdades negativas estão enumeradas na Declaração dos Direitos dos Cidadãos da nossa Constituição. Em termos mais gerais, pelo menos na utilização histórica padrão, um direito é algo que existe em simultâneo entre as pessoas. Como tal, um direito não impõe nenhuma obrigação a outrem. Por exemplo, o direito à liberdade de expressão é algo que todos nós possuímos. O meu direito à liberdade de expressão não impõe nenhuma obrigação a outrem, excepto o da não-interferência. Da mesma forma, o meu direito a viajar não impõe nenhuma obrigação sobre ninguém.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Conspiracões versus coincidências

Sempre descartei com rapidez, fora das salas de cinema ou dos romances, as designadas teorias da conspiração, inclusive aquelas que me pareciam ultrapassar um limiar mínimo de credibilidade. Recentemente, várias leituras levaram-me por fim a aceitar perceber que, em certos casos (e não são tão poucos assim), a única alternativa a uma determinada "teoria da conspiração" é uma correspondente "teoria da coincidência".

Ontem, durante uma ida ao cinema para ver o último filme de Ridley Scott, “O Conselheiro” (fraquinho, fraquinho...), um dos personagens refere-se a um alguém (colectivo, creio) que não acreditava em coincidências pois nunca se tinha deparado com uma. Não chego tão longe, mas, sabendo-se que a probabilidade da ocorrência conjunta de muitos acontecimentos independentes entre si (só assim poderão ser considerados coincidências) é dada pelo produto das probabilidades de cada um deles, daí resulta necessariamente que o valor dessa probabilidade conjunta tende para algo próximo do infinitamente pequeno.

Deste modo, pelo menos em alguns casos, por baixa verosimilhança que se atribua a uma certa “teoria da conspiração” ela terá de ceder perante uma alternativa cuja probabilidade de ocorrência é infinitesimal (a correspondente “teoria da coincidência”). Assim, e pela aplicação cumulativa do princípio do terceiro excluído, só me resta adoptar o que antes descartava.

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Nota: a objecção mais eficaz contra a plausibilidade de uma qualquer vasta teoria da conspiração, talvez possa ser resumida numa pergunta: “Se ela fosse verdade, não surgiria necessariamente alguém que a denunciasse?”. No entanto, se nos lembrarmos, por exemplo, do Projecto Manhattan, iniciado em 1939, e onde estiveram envolvidas 130 mil pessoas, a resposta é: não necessariamente. Um outro exemplo que ocorre, que envolveu igualmente larguíssimas centenas de pessoas, foi o da decifração do principal código diplomático do Japão e de outros códigos militares navais ocorrida até ao final de 1940, e portanto disponíveis aquando do ataque a Pearl Harbor (7 de Dezembro de 1941), situação que se manteve até ao final da guerra no caso do código diplomático.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Contra-exegese do "ajustamento"

Envoltos num manto cada vez mais espesso de pensamento mágico/místico, enquanto constatamos a fragorosa queda daquele que se esperaria ser um dos seus mais fiéis Intérpretes na “Europa”, vimos assistindo, pelo Rectângulo e Adjacentes, à arregimentação nas hostes Crescimentistas de um conjunto de personalidades de “direita” mas indisputavelmente também do regime. Um grupo pequeno mas convenientemente mediatizado, que se insurge contra a “língua de pau” adoptada pelo poder vigente. A tarefa de proceder à sua exegese tem estado entregue a Pacheco Pereira (creio que por sua própria escolha). No essencial, ela consiste na “desmontagem” do eufemístico/“Gaspárico” vocábulo “ajustamento” para, de seguida, negar a inexistência de alternativas para o alcançar.

Quem por aqui passa com alguma regularidade, sabe bem que estou muito, muito longe de apoiar o governo em exercício, apesar do labéu neoliberal com que o carimbaram com tinta indelével, objectivo a que os media, sem uma única excepção assinalável, se têm dedicado com particular afinco. Não admirarei ninguém ao afirmar que não tenho nenhum tipo de reserva mental quanto à crítica ao formidável understatement contido no termo “ajustamento” (ou no binómio transitório/definitivo). Como não tenho nenhum problema em aceitar que existem de facto alternativas ao caminho adoptado por este governo (de resto com a prestimosa ajuda do Tribunal Constitucional, claro está).

A questão está em que a “alternativa” dos Crescimentistas não passa de mais uma perigosa ilusão que quanto mais tempo persistisse, mais agravaria a dor quando ela chegasse. Que acomodar o estilo de vida àquilo que se é capaz de produzir não é empobrecer mas sim, mais cedo ou mais tarde, percepcionar a realidade sem filtros ou palas. É acordar de um longo sonho entorpecedor para uma realidade que se pode tornar (tornou) um pesadelo. A alternativa, que a há, não passa por negar uma tão elementar mas crucial verdade.

De nada serve exorcizar a realidade. E se certamente seria útil identificar e culpar os principais responsáveis políticos que para aqui nos conduziram, creio não haver quaisquer ilusões que alguma vez tal se venha a verificar. A maioria dos portugueses continua convencida ser possível obter "algo a troco de nada". Não é. 

P.S. - Para aqueles que ficaram muito contentes com a "constitucional devolução" do subsídio de férias e 13º mês, atente-se que a receita do IRS está a crescer 30% face a 2012 pelo que cumprido foi o anunciado aumento "brutal" de impostos. E não obstante, vamos chegar ao final de 2013 com um défice orçamental a bordejar os 6% do PIB. Não há, mesmo, almoços grátis.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Consequências do axioma fundamental do estatismo (I)

Posto isto, temos:
Todo o indivíduo que esteja disposto a trabalhar por um salário inferior ao mínimo legalmente estabelecido, não passa de um pobre tolo. É, de longe, socialmente preferível que vá engrossar a geração dos "nem-nem", condição muito menos degradante do que a que decorreria de trabalhar a troco de uma miserável miséria. Por esse motivo, a lei proíbe-o de cometer um tal crime contra si próprio.

Paráfrase do axioma fundamental do estatismo

2500 anos depois, após Platão, Hobbes, Rousseau e Marx, talvez se possa hoje enunciar assim:
A pessoa humana, individualmente considerada, mesmo que adulta e mentalmente não inibida, é incapaz de decidir o que é melhor para si mesma e para os que de si dependem.

sábado, 23 de novembro de 2013

Fascismo sanitário em acção (act.)

Da edição do Expresso de hoje:


ACTUALIZAÇÃO: dou-me agora conta que o Ministério da Saúde  desmentiu "não se revê" nesta notícia e que os seus propósitos em matéria de "guerra" anti-tabágica se centram antes no pedagógico acto de "informar" e sempre no apelo ao "bom senso", pelo que a notícia do "Expresso" assentaria numa "interpretação abusiva e lesiva das palavras do Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde", Leal da Costa.

Por que razão será que este "desmentido" me deixa tão inquieto?

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

David Stockman: "voltámos à situação de 2007/2008"

Por cortesia do Fed. O entrevistador, Neil Cavuto, céptico do prognóstico de Stockman (tanto mais que, como afirma, "os tempos estão bons"), pergunta-lhe quanto vai o estouro ocorrer. A resposta de Stockman é a habitual nos "austríacos": reconhecer a impossibilidade de se saber quando algo irá ocorrer não é de todo incompatível com a validade do prognóstico do que irá suceder quando se está a aplicar uma framework teórica que se mostra válida desde os tempos que Hayek e Mises anteciparam o crash bolsista de 1929. Isto, quanto um dos grandes "monstros" do monetarismo, Irving Fisher, três (!) dias antes da Quinta-feira Negra, afirmava: "Os preços das acções alcançaram o que parece ser um patamar permanentemente alto".


(Via Circle Bastiat)

O Fed é o Robin Hood às avessas

De modo algum fico espantado pelo facto de não conseguir encontrar, em páginas portuguesas na internet, uma referência a esta confissão pública no Wall Street Journal (Andrew Huszar: Confessions of a Quantitative Easer), publicada no passado dia 11 de Novembro do corrente. Isto porque creio ser bem provável que tal "esquecimento" não seja alheio à visão hagiográfica dos nossos media relativamente aos banqueiros centrais, partilhada por todos aqueles (por exemplo, "Mario Draghi, uma vez mais, esteve à altura da situação") que acham têm fé em que uns adequados passes de alquimia possam substituir as dores próprias de enfrentar a realidade. Não surpreende pois que se procure evitar o que quer que seja que ponha em causa a imensa e inestimável sabedoria e compaixão dos pontífices em exercício (aqui bem patentes).

Ron Paul há décadas que vem dedicando boa parte da sua vida pública a desmontar esta tão idílica quanto falsa perspectiva da prestidigitação monetária dos supostos illuminati. Volta a fazê-lo em Federal Reserve Steals From the Poor and Gives to the Rich, texto de que achei útil proporcionar uma tradução.
18 de Novembro de 2013

Na quinta-feira passada, o Comité de Assuntos Bancários do Senado iniciou a audição de Janet Yellen no seguimento da sua indigitação para presidente da Reserva Federal. Como se esperaria, a Sra. Yellen referiu que iria continuar a política de "flexibilização quantitativa" do Fed (QE [Quantitative Easing]), apesar do fracasso da QE na melhoria da economia. Por coincidência, dois dias antes das audições a Yellen, Andrew Huszar, um ex-funcionário do Fed, pediu publicamente desculpas [link acrescentado] ao povo americano pelo seu papel na QE. O Sr. Huszar chamou à QE "o mais secreto resgate a Wall Street de todos os tempos".

Há não mais de cinco anos atrás [alusão à primeira candidatura de Ron Paul à presidência dos EUA, em 2008], teria sido inédito ouvir um conhecedor [do funcionamento por dentro] de Wall Street e ex-funcionário do Fed a falar tão abertamente do modo como o Fed age como um Robin Hood às avessas. Mas um rápido olhar para os números mais recentes do desemprego mostra que a QE não está a beneficiar o americano médio. É cada vez mais óbvio que a política de resgates do Fed pós-2008, a "impressão" de dinheiro [a partir do nada] e a compra de obrigações beneficiou os grandes bancos e as sociedades de investimento com [fortes] ligações políticas. A QE é um exemplo tão flagrante de capitalismo de compadrio [crony capitalism] que faz com que o caso Solyndra [link] pareça um luminoso exemplo de funcionamento de um puro e livre mercado!

Seria um erro pensar que com a QE seria a primeira vez que as políticas do Fed beneficiaram aqueles que vivem com desafogo à custa do americano médio. As políticas do Fed beneficiaram sempre os capitalistas de compadrio e os políticos defensores da grande despesa pública em prejuízo [e às expensas] do americano médio.

Através da manipulação da oferta monetária e da taxa de juro, as políticas da Reserva Federal criam inflação e desse modo corroem o valor da moeda. Desde que a Reserva Federal abriu as suas portas, há cem anos atrás, o dólar perdeu mais de 95% do seu poder aquisitivo - sim, é isso mesmo, hoje são necessários 23,70 dólares para comprar o que um dólar comprava em 1913!

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O estado vampiro

Por Gary Varvel

Citação do dia (146)

"No one ever went broke underestimating the taste of the American public."

H. L. Mencken
P.S. - Para que não me acusem injustamente de xenofobia, faço notar que esta máxima podia perfeitamente ser aplicada, por exemplo, ao "Portuguese public".

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O "perigo" alemão ou o mundo às avessas

A insanidade grassa e parece mesmo estar em crescendo. Títulos como Os portugueses estão a poupar demais? ou Bruxelas ameaça abrir investigação contra Alemanha devido a excedente externo elevado ou ainda o de hoje "A César o que é de César". E a César das Neves o que é seu e merece! (em defesa do aumento do salário mínimo) concorrem entre si pelo ceptro da mais surreal contribuição de política económica. Muito do que sempre foi virtude é visto agora como formidável vício e vice-versa sendo que, em qualquer caso, se pretende convocar o estado para intervir e "consertar a disfunção" e deste modo, inexoravelmente, para alimentar as sucessivas "correcções" das subsequentes consequências não intencionais que deixam tudo pior do que estava quando a poeira assenta. Há mesmo quem queira fazer passar a percepção que o mundo está às avessas.

Procurarei regressar brevemente ao tema do salário mínimo para voltar a tentar mostrar por que tem o Prof. César das Neves carradas de razão quando afirmou recentemente que "É criminoso aumentar o salário mínimo nacional", afirmação que, ela própria, constitui para Victor Baptista um crime (intelectual, presume-se).

De momento, porém, e socorrendo-me de mais um excelente texto de Frank Hollenbeck, Germany’s "Dangerous" Current Account Surplus (O "perigoso" excedente alemão das transacções correntes), hoje publicado pelo Mises Institute, propus-me tentar contrariar o ruído crescente relativamente ao "perigo" alemão por via da tradução que se segue, de minha responsabilidade, do texto de Hollenbeck. (Aqui um outro artigo igualmente bem interessante sobre o "perigo" alemão, numa óptica político-histórica.)
O governo dos EUA e a Comissão Europeia (CE) criticaram recentemente a Alemanha pelos seus grandes excedentes na balança de transacções correntes. Paul Krugman juntou-se-lhes com esta pérola:
O problema é que a Alemanha tem continuado a manter custos do trabalho altamente competitivos e a manter enormes superavits desde que a bolha estourou  e isso, numa economia mundial deprimida,  faz com que a Alemanha seja uma parte significativa do problema.
Só no mundo surreal da política económica de hoje seria possível considerar prejudicial o facto de se ser altamente competitivo. Esta crítica à Alemanha não é nova, mas já não estamos a viver na década de 1950. A Alemanha não tem moeda própria, e há pouca coisa que seja "alemã" nas suas exportações.

Um BMW produzido na Alemanha mas vendido na Espanha contém peças provenientes de todo o mundo. A maior parte, mas não toda, dos postos de trabalho será alemã, mas as inovações tecnológicas reduziram o custo do trabalho a cerca de 10 por cento do preço de um automóvel. O retorno do capital irá para os detentores de obrigações e accionistas que podem estar em qualquer lugar do mundo. A BMW pode distribuir um dividendo a um accionista espanhol que pode usar esses euros na compra de mercadorias espanholas. Dizer que a BMW é um produto apenas da Alemanha é um [enorme e enganador] exagero.

Imagem retirada daqui

A Alemanha também faz parte de uma moeda comum. Criticar um excedente da balança corrente de uma região dentro de uma zona monetária comum é como reclamar do superavit das transacções correntes da Florida ou, do superavit bilateral de Jacksonville [a cidade mais populosa da Florida] para com Miami [capital do estado].

Se nos colocarmos no plano do indivíduo, é possível tornar esta argumentação cristalinamente clara e evidenciar as tontarias inerentes. Temos um superavit de transacções correntes com o nosso empregador e um défice de transacções correntes relativamente ao nosso supermercado. O nosso empregador compra-nos mais do que nós lhe compramos a ele e o inverso é verdadeiro quanto à nossa relação com o supermercado. No entanto, não nos aprestamos a ir a correr para o supermercado para exigir do seu gerente que nos compre mais bens ou serviços por nós produzidos.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Por que o establishment tudo faz e fará por ignorar os austríacos

Chris Rossini é um dos meus bloggers preferidos. Neste seu artigo, ilustra com clareza e acutilância que, ao contrário da narrativa única convencional veiculada pelos media de "referência", existe de facto uma escola de pensamento económico alternativa à amálgama indiferenciadora como os "economistas" são frequentemente apresentados. De facto, a Escola Austríaca, porque explicitadora de relações de causa e efeito fundadas no estudo da acção humana, é capaz de fornecer explicações ricas e intelegíveis (não fundadas em animal spirits nem apelar à providencial acção de alienígenas) e, centralmente, porque está dotada de uma capacidade preditiva que será surpreendente para muitos. Para os "austríacos", por exemplo, a ocorrência de "consequências não intencionais", na sequência de práticas intervencionistas governamentais, nada tem de misterioso sendo tudo menos surpreendentes (porque são previsíveis). E, sobretudo, mercê da designada teoria austríaca dos ciclos económicos, antecipar a eclosão de bolhas e subsequentes e inevitáveis estouros. Numa altura em que se sucedem os recordes bolsistas (nos EUA, de todos os tempos apesar, por exemplo, disto e disto) e sem que se observem nas economias sinais reais de pujança económica (muito pelo contrário), seria bom atender ao que vozes como Marc Faber, Jim Rogers ou Peter Schiff vêm insistentemente chamando a atenção. Para que não voltemos a assistir a coisas como esta. A tradução, como habitualmente, é da minha responsabilidade.
Sábado, 16 de Novembro de 2013

Da Bloomberg View:
Os economistas há muito que sustentam não se dever esperar deles que prevejam crises, como a que quase afundou a economia global, há cinco anos atrás.
Será que todos os "economistas" pensam em uníssono? Claro que não. Os economistas "austríacos" previram os estouros dos mercados imobiliários e bolsistas mas, infelizmente, [os media] fizeram orelhas moucas às suas previsões. Quando não foram ridicularizados.

Depois das bolhas terem rebentado, aos economistas austríacos não lhes foram solicitados conselhos quanto à forma de evitar situações semelhantes no futuro. Pelo menos por parte dos media do mainstream [de "referência"]. Inversamente, o interesse público pela escola austríaca tem vindo a explodir na internet.

Deve sublinhar-se que os economistas austríacos não caíram agora das nuvens para prever a eclosão das bolhas mais recentes. Dois austríacos muito bem conhecidos (Ludwig Von Mises e F. A. Hayek) alertaram para o crash de 1929, aviso que também à época caiu em saco roto.

F. A. Hayek e Ludwig von Mises

Uma pergunta necessária

Vítor Cunha, no Blasfémias: Já se pode perguntar quanto custam os sindicatos das empresas do estado?(Que não se esqueça, porém, a verdadeira raiz do problema!)

(Actualizado)
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P.S.: por razões atinentes ao meu percurso profissional, há temas que me abstenho de comentar aqui, mesmo quando eles são bem relevantes como é este o caso, uma vez que, no meu estrito entender, o período de nojo a que me auto-impus ainda não foi ultrapassado.

Luísa Sobral - Wrecking Ball

Uma belíssima sugestão do CN que "apanhei" no facebook.




segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Prova provada do "benefício" dos estímulos estatais

ACTUALIZAÇÃO: e quando a realidade, teimosamente, insiste em não se comportar como devia, vale tudo para convencer os néscios.
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O gráfico abaixo foi apresentado pela administração Obama, em Janeiro de 2009, para ilustrar a imprescindibilidade e a racionalidade do pacote de "estímulos" aumento da despesa pública que viria a ser aprovado no Congresso no mês seguinte. No "boneco", figurava-se a evolução da taxa de desemprego que ocorreria caso não houvesse os tais "estímulos" (curva a cinzento claro) contrastando-a com aquela que se estimava vir a ocorrer na sua presença (curva de cor azul escura).

Imagem retirada daqui

Num simples exercício de fact-checking, ao gráfico original foi sobreposta a evolução real da taxa de desemprego (a vermelho) resultando de imediato a constatação de um "desvio colossal" entre os valores projectados (por via do recurso a um dado modelo econométrico (económico-matemático)) e os verificados. Como interpretar um tão colossal desvio? A típica explicação uberkeynesiana, o mesmo é dizer, krugmanita é a de que os "estímulos" (cerca de 800 mil milhões de dólares à altura, sem contar com os das vagas subsequentes) foram, claro está, insuficientes, explicação (?) cuja bondade, à partida, está completamente blindada quanto ao teste da sua eventual invalidade. Uma outra explicação, nas antípodas da krugmanita, é que a despesa pública injectada na economia, ao adiar o que seria o ajustamento natural da economia prolongou desnecessariamente a recuperação económica não sendo de excluir a hipótese de que a situação hoje (quase cinco anos depois, 7.3% em Outubro) poderia ser melhor caso não tivessem ocorrido quaisquer "estímulos"!
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Nota: ocorreu-me este pequeno apontamento após ter lido esta crónica de Rui Tavares (em plena "longa marcha" para o PS) que, evidentemente, também abraça a receita supostamente universal e infalível do caminho da "prosperidade" induzida pela crescente despesa e endividamento estatal com que Krugman, categórico, convoca os crentes.

Gramsci, o papa Francisco, jesuítas e proselitismo

Patrick J. Buchanan, uma presença frequente neste blogue, ainda que não pelos seus pontos de vista sobre economia (bem pelo contrário), não é um optimista. Explana longamente esse pessimismo informado, por exemplo, em Death of the West (2002) como no recente Suicide of a Superpower (2012). Como explica em artigo publicado na semana passada, Papal Neutrality in the Culture War, o papado de Francisco em nada contribuiu para moderar o seu pessimismo. Creio compreender o seu ponto de vista partilhando muitas das suas perplexidades perante a actuação do papa Francisco. A tradução que se segue é da minha responsabilidade.
Sexta-feira, 15 de Novembro de 2013

"O papa Francisco não quer guerreiros culturais; ele não quer ideólogos", disse o bispo Blase Cupich, de Spokane, Washington:

"O núncio disse que o Santo Padre pretende bispos com sensibilidade pastoral, pastores que conheçam o odor das ovelhas."

O bispo Cupich estava a veicular as instruções que o núncio papal havia trazido de Roma para guiar os bispos dos EUA no processo de escolha de um novo líder.

Eles escolheram o arcebispo Joseph Kurtz, de Louisville, Kentucky, detentor de um mestrado em assistência social, para suceder ao arcebispo Timothy Dolan que Laurie Goodstein, do New York Times, descreve assim [link]:
"Um loquaz evangelista, confortável em frente a uma câmara, que liderou os bispos no confronto de grande notoriedade contra a administração Obama quanto a uma disposição na legislação sobre cuidados de saúde que exige à maioria dos empregadores que tenha um seguro que cubra [a despesa com] os anticoncepcionais dos seus empregados."
Essa legislação exige igualmente aos empregadores a cobertura das drogas indutoras do aborto bem como das esterilizações.

Eis aqui mais uma confirmação que Sua Santidade procura mover a Igreja Católica para uma postura de não-beligerância, se não mesmo de neutralidade, na guerra cultural em curso pela alma do Ocidente.

Há um pequeno problema com a neutralidade. Como Trotsky observou, "Você pode não estar interessado na guerra, mas a guerra está interessada em você". Para a igreja, a sua auto-exclusão da guerra cultural não visa pôr termo a essa guerra, significa perdê-la.

domingo, 17 de novembro de 2013

O logro da inflação como algo supostamente benigno

Um par de dias depois do aniversário, a 15 de Novembro de 1923, do início do fim da devastadora hiperinflação da República de Weimar e numa altura em que regressam as Cassandras que anunciam a apocalíptica deflação para "justificar" conferir uma ainda maior aceleração à velocidade de operação das rotativas (hoje electrónicas) dos bancos centrais, creio oportuno insistir na tentativa de convocar o senso comum. É o que Simon Black volta a fazer em mais uma missiva, agora de Bangkok, que procurei traduzir como se segue:
15 de Novembro de 2013
Bangkok, Tailândia

Uma das maiores mentiras em matéria de finanças é este perpétuo logro de que a inflação é algo de bom.

Ben Bernanke, o actual sumo sacerdote da política monetária dos EUA, observou recentemente que é "importante evitar que a inflação nos EUA atinja valores excessivamente baixos".

Bem, claro, isso seria algo de indesejável, não é verdade? Imagine-se o caos e devastação que se seguiriam se o custo de vida de facto se mantivesse... digamos... o mesmo.

Estremece-se, só de pensar na estabilidade de preços.

Naturalmente que estou a brincar. A verdade é que a inflação beneficia aqueles que estão endividados até ao pescoço [a começar pelos estados] à custa dos que foram financeiramente responsáveis.

No entanto, os economistas encontraram forma de conseguir convencer as pessoas de que a inflação é justa e necessária. Todos sabemos que existe inflação. Mas fomos programados para a minimizar como se ela fosse uma parte natural do sistema.

Logro ainda maior constitui o modo como são divulgados os seus valores.

Os governos de todo o mundo mentem sobre a inflação; fazem-no porque a inflação tem um impacto enorme na política monetária.

A cartilha por que todos se regem é muito simples: seja a inflação "baixa" e os banqueiros centrais podem [têm "licença" para] imprimir dinheiro. Desde modo, é grande o incentivo que existe para a subavaliar.

Citando um relatório do Departamento do Trabalho dos EUA, por exemplo, numa manchete recente da Reuters afirmava-se que "Os preços no consumidor nos EUA sobem, mas a inflação subjacente é benigna".

Não tenho bem a certeza de como pode a inflação ser "benigna" quando os preços ao consumidor estão simultaneamente a subir.

E todavia, este é o duplipensar dos nossos dias proveniente do Ministério da Verdade entidade em quem todos nós somos supostos acreditar cegamente.

sábado, 16 de novembro de 2013

Dos autoproclamados e extenuantes sacrifícios dos governantes

Dei-me conta1 que um dos textos tipificados como "argumentativos" que, supostamente, ajudaria a preparar os alunos do 11º Ano para o estudo do intemporal Sermão de Santo António aos Peixes, do Padre António Vieira, é um discurso de Barack Obama, proferido em 12 de Setembro de 2009, na abertura do ano escolar. Desse discurso, extraí o seguinte excerto, nitidamente inspirado numa indígena criatura, também ela tecnologicamente parola, cujo-nome-não-estou-interessado-em-repetir, que creio merecer devida reflexão (meus realces):
"Estou a trabalhar duramente para equipar as vossas salas de aulas e pagar os vossos livros, o vosso equipamento e os computadores de que vocês precisam para estudar. E por isso espero que trabalhem a sério este ano, que se esforcem o mais possível em tudo o que fizerem. Espero grandes coisas de todos vocês."
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1No livro "Plural 11", da Raíz Editora, 1ª edição, 3ª reimpressão

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A Ciência é mais que a Matemática (particularmente nas ciências sociais)

Como tinha ameaçado, regresso ao tema do papel da matemática (e em particular da estatística) em Economia como aliás, genericamente, nas diferentes ciências sociais. Em post anterior, tinha observado que mesmo numa ciência física como é a climatologia se constata, apesar da propaganda dos que continuam a teimar que "a ciência está estabelecida", existir uma crescente dissociação entre a modelação dos efeitos da crescente concentração de CO2 e a realidade tal como ela é observada e medida. Estranhamente, muitos daqueles que escolhem ignorar este facto (ocorre-me, no plano doméstico, a generalidade da redacção do Público...) são muito menos tolerantes para aquilo que designam de "erros" de previsão económica atribuíveis, presume-se, a mera incompetência técnica (ou, de quando em vez, a lapsos na respectiva folha de Excel de suporte ao "modelo"). E é aqui que se entra no domínio das intermináveis, e de resto inúteis, discussões sobre os "verdadeiros" valores dos multiplicadores. Como se estivéssemos a falar da utilização de constantes equivalentes, sei lá, àquelas próprias da física e da química. Ora a questão é exactamente essa: NÃO EXISTEM constantes em ciências sociais. Retrospectivamente, poder-se-á dizer que, no âmbito de um dado "modelo", uma constante, isto é, um dado "multiplicador", foi de "X". Mas esse é um conhecimento que só se adquire a posteriori sem que haja qualquer garantia que se repetirá no futuro. E que outra coisa poderia suceder quando o sujeito da investigação não é uma pedra ou um robot mas sim a pessoa humana?

Esta era a oportunidade que aguardava para publicar uma tradução deste interessante artigo de Christopher Westley sendo que, por coincidência, o Instituto Mises Brasil também fez publicar uma outra tradução na 3ª feira passada e de que aliás me socorri, pelo que me resta agradecer-lhe.
Em Abril deste ano, o ilustre biólogo de Harvard, E.O. Wilson, escreveu um artigo no Wall Street Journal sobre as limitações da utilização da matemática nas ciências. Natural de Mobile, Alabama - mais conhecido como o Pai da Sociobiologia - defendeu que a capacidade para formular contribuições conceptuais científicas não exige necessariamente especiais competências matemáticas ou mesmo uma componente matemática. Wilson concluiu que "afortunadamente, uma fluência matemática excepcional apenas é necessária em algumas disciplinas, como a física de partículas, a astrofísica e a teoria da informação. Para todas as outras disciplinas científicas é bem mais importante a capacidade para formular conceitos, actividade para a qual o investigador convoca imagens e processos por intuição". O próprio Wilson observou que ele próprio só aprendera cálculo depois dos seus 30 e poucos anos - após conseguir um lugar no quadro em Harvard - e lamenta a perda de conhecimento científico resultante do abandono de potenciais contribuidores [ao desenvolvimento de um dado ramo científico] quando optam por outras carreiras devido à sua deficiente formação matemática.

Clicar para ver melhor

O caminho do declínio dos EUA, também no sector financeiro

Simon Black, em mais uma acutilante missiva enviada do "terreno", volta a recorrer à história para ilustrar e melhor fazer entender relevantíssimas situações da actualidade. Desta feita, a personagem histórica invocada é a de Diocleciano (244 d.C. - 311 d.C.) que, já então pela 'n-ésima' vez, prendia (e matava) os "especuladores" que, supostamente, eram os causadores da inflação e das situações de escassez, na realidade provocadas pelo estado através da contrafacção da moeda - inflação monetária - e da imposição de controlos de preços. Enfim, exactamente aquilo que um Maduro (Nicolás, de seu nome) está a levar a cabo, com denodo e afinco, num país que já teve um dos melhores níveis de vida na América Latina e que agora caminha a largos passos para a ruína.

Mas que fazer quando se repetem, uma e outra vez, as mesmas falácias de sempre? Quando, por exemplo, se publicita um Instituto do Novo Pensamento Económico, para se anunciar como "novas" as mesmíssimas doutrinas que vêm governando o mundo ocidental desde há mais de 80 anos? Quando se não aceitam os princípios mais básicos da acção humana e da lógica e, assim, e por exemplo, se rejeita a lei da procura com terríveis consequências como a de prosseguir na insanidade máxima que é o salário mínimo? Só vejo uma forma: a que Chris Rossini aqui aponta. A tradução do texto de Simon Black é de minha responsabilidade.
13 de Novembro de 2013
Singapura

Nos inícios do século IV d.C., o Império Romano estava sob uma tremenda turbulência por via da peste, das invasões bárbaras, de uma profunda recessão, de guerras civis, de golpes de estado, etc.

Em boa medida, essa situação foi provocada pela situação económica extremamente sombria por que Roma então passava.

O Governo, pura e simplesmente, não tinha dinheiro suficiente para manter as funções correntes, muito menos para pagar todos os generosos programas sociais necessários para apaziguar a população.

De modo que, como se poderia imaginar, os governantes decidiram compensar a diferença através da contrafacção da moeda.

As moedas romanas foram tão rapidamente adulteradas que acabaram por perder a credibilidade necessária a um meio de troca entre os mercadores. Em consequência, aquela que foi em tempos uma vasta rede comercial do império praticamente entrou em colapso.

O Imperador Diocleciano
Com uma queda tão abrupta no comércio, a receita dos impostos do governo também diminuiu. Em 301 a.C., a situação tornou-se tão desesperada que levou Diocleciano a avançar com uma "solução".

Primeiro, responsabilizou os especuladores pela inflação que grassava, impondo a pena de morte a alguns deles.

Em seguida, fez publicar a que é provavelmente a lei mais idiota na história do mundo - o agora infame Édito dos Preços Máximos [link], que impôs o controlo de preços sobre um milhar de bens e serviços como o vinho, o vestuário ou os salários.

É claro que qualquer estudante de economia do ensino secundário [Simon Black não está a par dos programas das nossas escolas públicas...] pode dizer que os controlos de preços não funcionam. E também não funcionaram com Diocleciano.

A prazo, o efeito da lei foi devastador. A inflação e as situações de escassez rapidamente se instalaram. E verificou-se um êxodo em massa, de ricos e pobres, que fugiram do império em busca de uma vida melhor.

Poder-se-ia argumentar que foi esta a gota que fez transbordar o copo em Roma.

Ironicamente, Diocleciano estava de facto a tentar "reformar" o sistema, não a procurar lançar Roma no precipício. No entanto, este é um dos inúmeros exemplos históricos em como o caminho para a ruína está quase sempre pavimentado de boas intenções [ou, "de boas intenções está o Inferno cheio"].
Um "Diocleciano" venezuelano

Tal como sucedeu com Diocleciano, os nossos políticos contemporâneos estão constantemente a tentar "consertar" as coisas. Contudo, as suas tentativas fracassam de forma miserável, e, tipicamente, tornam a situação pior.

Duas das leis mais destrutivas recentemente aprovadas pelo governo dos EUA são, por exemplo, a (1) a Dodd-Frank Wall Street Reform Consumer Protection Act [link] e (2) a Foreign Account Tax Compliance Act (FATCA) [link].

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

terça-feira, 12 de novembro de 2013

A deflação é uma ameaça? Não será antes uma oportunidade?

A esta hora, é este o título de "caixa" do Público: Ameaça de deflação volta a ganhar força em Portugal. Tudo isto porque o índice de preços ao consumidor referente a Outubro, face ao mesmo mês do ano transacto (mês "homólogo"), teve uma variação de -0.2%. Para alguns - quase todos os banqueiros centrais e os media do mainstream -, isto constitui uma "ameaça" porque, supostamente, "a baixa de preços faz com que as famílias adiem os seus consumos e as empresas recuem nos investimentos, tornando a saída da recessão ainda mais difícil".

Assim se contribui para instalar um ambiente propício a uma ainda maior intervenção "planificada". A mensagem é: "há que agir, de preferência imediatamente"; ou, a posteriori, "confirmar" a sabedoria das decisões "surpresa" do salvador-mor em exercício - o BCE e o seu sempre extraordinário e clarividente líder.

Mas o leitor acha mal que os preços baixem? Sente-se prejudicado com isso? É daqueles que está à espera há para aí uns vinte anos, aguardando pelo fim das sucessivas descidas de preços dos computadores? Aguarda há 8 anos para mudar de televisor porque o LCD, o "plasma" e agora os LED ultrafinos continuam a baixar de preço? Está há 3 anos à espera do "preço justo" para comprar um smartphone? Estará afinal a indústria da electrónica a desaparecer sem que nos tenhamos dado conta?

Toda a conversa da "ameaça" da deflação se baseia numa incorrecta leitura histórico-económica dos acontecimentos da Grande Depressão, o que é um óptimo pretexto para ler o recente livro de David Stockman e, assim, obter uma narrativa radicalmente diferente do que então se passou (recensão recente aqui). A ortodoxia dominante quer vender-nos a ideia que uma descida sustentada de preços é inimiga do crescimento económico. Nada mais falso.

E, por último, alguém entende qual a razão por que a subida do preços é, pelo contrário, "boa" para os consumidores? Especialmente para aqueles que vivem dos seus salários e das suas pensões de reforma? Bullshit.

Ciência, matemática e previsões

Tal como em Economia, na variante herdeira da corrente dita "neo-clássica" que há muito é largamente maioritária na disciplina, também na climatologia se faz recurso a "modelos" matemáticos, cuja complexidade tem vindo a crescer com a cada vez maior capacidade computacional, que procuram representar, ainda que de forma simplificada, a realidade. Em qualquer dos casos, o fim último pretendido com a utilização de "modelos" é a capacidade de obter projecções, i.e., fazer previsões sobre o futuro (uma tarefa bem arriscada, como sabemos...). E se bem que haja quem dispute que a disciplina da Economia seja de facto um domínio científico (matéria que abordarei em posts subsequentes), nomeadamente pela incapacidade reconhecida em "acertar" nas suas previsões e/ou em produzir previsões/estudos para todos os gostos, confesso não conhecer - o que será ignorância minha - nenhuma objecção à qualificação científica da Climatologia (ou, de igual modo, da Biologia Evolutiva...).

O "boneco" abaixo, retirado daqui, contrasta a realidade com as previsões de 138 (cento e trinta e oito!) modelos matemáticos "computarizados", autênticas "caixas pretas", relativos à previsão da evolução da temperatura à superfície terrestre, matéria do domínio da Física. O resultado da comparação é, no mínimo, tristemente desfavorável para os ditos "modelos" já que a realidade teima em comportar-se de modo diferente do "previsto". Será que, afinal, também é disputável classificar a Climatologia de ciência? Ou será que a tentativa de modelar sistemas não-lineares, caóticos, é, essa sim, uma impossibilidade? E é com "isto" que nos vêm espoliando os bolsos para prevenir o horror de um Armagedeão Climático?

Para aqueles que vêm registando com atenção a evolução da sua factura de electricidade e não se esquecem de que, em paralelo, o défice tarifário não tem parado de subir, esta não é (ou não de via ser) uma questão lateral. 

Citação do dia (145)

Axiomático.
"No matter how much the government controls the economic system, any problem will be blamed on whatever small zone of freedom that remains."

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Do exercício, em economia, da profecia estatística

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Manuela Ferreira Leite: "O Orçamento do Estado para 2014 tem um ponto gritante – não toma em consideração o crescimento" (...) Era essencial que se apostasse totalmente nas exportações e no investimento privado.

Entretanto...
Exportações voltaram a disparar em Setembro

Moody's melhora perspe[c]tiva sobre Portugal

Diz que o Governo é neoliberal

Por Alberto Gonçalves:
Comércio injusto

O "guião" para a reforma do Estado é o produto típico de quem nunca sonhou reformar coisa nenhuma. Veja-se a RTP, cujo destino anunciado era a privatização e cujo destino verdadeiro será qualquer "solução" excepto a privatização. Pior: com ou sem "guião", o Governo não só não sabe o que quer para a televisão pública como não sabe o que esta televisão pública é. Em resposta a críticas das estações privadas, uma nota do gabinete do ministro Poiares Maduro "rejeita qualquer ideia de que pretende tornar a RTP num canal com vocação comercial".

Contemplo a programação dos canais da casa, na essência igual à de há dez ou vinte anos: cantorias "pimba"; concursos "pimba"; conversas "pimba"; noticiários "pimba"; ficção "pimba", debates "pimba"; etc. A vocação comercial da RTP já é imensa. O negócio é que anda fraco e, à semelhança de quase tudo neste país, carece de apoios. É aí que entra o contribuinte, que no fundo paga o bilhete de um filme ou de uma peça dos quais não quer ser, e não é, espectador. Nem sequer se trata de uma analogia: acontece com a RTP aquilo que por exemplo acontece na "cultura". E continuará a acontecer. Diz que o Governo é neoliberal.

sábado, 9 de novembro de 2013

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A "novidade" das coisas velhas

Tenho dedicado vários posts à reforma no sector da saúde que constituiu a maior bandeira eleitoral de Obama - o "Affordable Care Act" ou, no seu petit nom, "Obamacare". A mastodôntica extensa regulamentação associada e os efeitos que está já a provocar fazem do Obamacare um verdadeiro case study, de que temos tido o "privilégio" de testemunhar a secular lógica estatista e os padrões da  sua metastização.

Foi com esse propósito que procurei traduzir o recente artigo de Thomas Sowell - "An Old 'New' Program".
Thomas Sowell
Como tantas coisas que parecem novas, o ObamaCare [1] é, sob múltiplas formas, vinho velho em garrafas novas.

Por exemplo, quando confrontado com o facto de, em consequência do ObamaCare, milhões de americanos poderem perder o seu actual seguro de saúde, os seus defensores dizem que isso só é verdade quando aquelas pessoas estão "sub-seguradas" [com menores coberturas que o "padrão" mínimo que a nova legislação tornou obrigatório para as apólices de seguros de saúde].

Quem decide o que é um "sub-padrão"? Haverá algo mais velho do que a ideia que uma elite exaltada sabe o que é bom para nós, melhor do que nós próprios? Obama usa a retórica do "para a frente", mas ele está de facto a andar para trás, recuando a uma época em que déspotas diziam a todos o que era e o que não era melhor para eles.

O ObamaCare é igualmente velho de uma outra forma. Um dos motivos fundamentais que explica por que os seguros médicos privados se tornaram tão caros é que os políticos, estado após estado, têm vindo a impor quais as coberturas que estes seguros devem abranger, independentemente do que as pessoas pretendam.

Um seguro de cobertura total, que abranja desde tratamentos para a calvície até operações para mudança de sexo, é muito mais caro do que um seguro que apenas cubra as doenças graves que podem absorver as poupanças de uma vida. Agora [com o ObamaCare] essas obrigatoriedades passaram do plano dos estados para o plano federal.

O seguro é um contrato para lidar com riscos É uma forma cara e contraproducente para pagar coisas que não são riscos - como os checkups anuais, que se sabe antecipadamente que irão ocorrer em cada ano.

O seu checkup anual não custa menos pelo facto de ser coberto pelo seguro. Na verdade, até custa mais, porque a pessoa segurada tem que pagar prémios que abranjam não apenas o custo do próprio checkup, como também os custos administrativos da empresa seguradora.

Se o seguro automóvel cobrisse o custo de pagamento das mudanças de óleo, isso tornaria as mudanças de óleo mais baratas ou mais caras? Obviamente mais caras, uma vez que mais pessoas teriam que ser pagas para se envolverem na transacção, em vez de, simplesmente, se pagar directamente do bolso de cada um [proprietário de uma viatura] às pessoas que lhe mudaram o óleo.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Que não se fechem os olhos nem se tapem os ouvidos

Plano B, por Carlos Novais.

Eis a razão pela qual, segundo Krugman, os EUA não correm o risco de ser a Grécia

tal como no Reino Unido ou no Japão, lê-se aqui. O que têm estes países em comum? Uma tecnologia de que podem fazer uso à discrição sem ter que dar cavaco a ninguém. Ei-la:

Imagem retirada daqui

E andava o pobre Fausto às voltas com a alquimia... quando a "riqueza" está aí à disposição de todos. Acabem com a austeridade JÁ, caramba! De que estão à espera para nos enriquecer a todos?

O que não se disse acerca do Iraque (e assim continua a suceder)

Pelo menos os mais antigos frequentadores do blogue terão presente o contador macabro inscrito na coluna da direita sob a epígrafe "As acções têm consequências". É raro o dia que não dou conta de por lá haver "actividade" apesar de os jornais já praticamente terem deixado de se preocupar com as notícias da trágica sucessão de mortos e feridos que não mostra sinais de abrandar (bem pelo contrário, apesar de as próprias Nações Unidas terem retirado do seu website um "contador oficial" que mantinham desde 2003). Estranhamente (<sarcasmo/>) também não dou conta que os media se interroguem quanto à súbita "calmaria" no morticínio sírio (apesar disto) logo que, numa curva inesperada e in extremis, se regressou ao lá de cá da "linha vermelha". Mas nem por isso deixa de haver quem pretenda prosseguir na tresloucada doutrina intervencionista persistindo em alcançar o "Grande Prémio": a guerra contra o Irão.

É este o tema do artigo de Ron Paul que me propus traduzir, a propósito da visita que Nuri al-Maliki, primeiro-ministro do Iraque, fez a Obama na semana passada em Washington.
Por Ron Paul
3 de Novembro de 2013

Outubro foi o mês mais mortífero no Iraque desde Abril de 2008. Nesses cinco anos e meio, não só não houve qualquer melhoria nas condições de segurança no Iraque como, pelo contrário, elas se tornaram muito piores. Mais de 1000 pessoas foram mortas no Iraque no mês passado, na sua grande maioria civis. Outras 1600 ficaram feridas, com os carros-bomba e os tiroteios a continuar a mutilar e a assassinar.

Enquanto o Iraque pós-"libertação" mergulha na espiral descendente, o primeiro-ministro Nuri al-Maliki esteve em Washington na semana passada a suplicar por mais ajuda dos Estados Unidos para ajudar a restaurar a ordem numa sociedade destruída pela invasão dos EUA em 2003. A Al-Qaeda conseguiu avanços recentes significativos e o Iraque necessita de mais ajuda militar dos EUA para combater a sua influência crescente, disse Maliki ao presidente Obama na reunião que tiveram na sexta-feira passada.

Obama prometeu trabalhar em conjunto com o Iraque para enfrentar a crescente presença da Al-Qaeda, mas o que não foi dito foi que antes do ataque dos EUA não havia Al-Qaeda no Iraque. O aparecimento da Al-Qaeda no Iraque coincidiu com a ataque dos EUA. Alegaram que tínhamos que combater o terror no Iraque, mas a invasão dos EUA resultou na criação de redes terroristas onde antes não havia nenhuma. Que desastre.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Prossegue, impetuosa, a reforma do estado em versão über-liberal

Artur Trindade: "Nós temos um debate cacofónico em relação ao custo dos combustíveis".

Vai daí, para acabar com a cacafonia (o que quererá o homem dizer com isto?), lá nos saiu na rifa mais uma "entidade" reguladora fiscalizadora - Entidade Nacional para o Mercado dos Combustíveis -, algo que tanta falta nos fazia, à semelhança dos utilíssimos painéis sobre os preços dos combustíveis que alguém obrigou a "plantar" ao longo das auto-estradas. O mesmo governante, que há dias nos tinha deixado com esta muito reveladora pérola, ainda acrescentou: "o que é importante é que os consumidores participem no debate técnico que está na origem do preço"! (realce meu).

terça-feira, 5 de novembro de 2013

5 de Novembro - o dia da Conspiração da Pólvora

Tradução do artigo de hoje de Simon Black - «"I" for Inevitable» - tendo presente o aforismo, que também creio verdadeiro, que "quem não conhece a história está condenado a repeti-la".
5 de Novembro de 2013 [republicação do artigo divulgado há exactamente um ano atrás]
Bangkok, Thailand

Há pouco mais de 400 anos atrás, no dia de hoje, um grupo de 13 conspiradores foi preso quanto tentava assassinar o rei Jaime I da Inglaterra e fazer explodir a Câmara dos Lordes, naquilo que ficou conhecido como a Conspiração da Pólvora.

Se o leitor já viu o filme "V de Vingança" [link], conhece a história. Guy Fawkes foi encontrado sob a Câmara dos Lordes com três dezenas de barris de pólvora... e até hoje a sua efígie continua a ser queimada anualmente em comemoração do sucedido.

Fundamentalmente, a Conspiração da Pólvora [link] teve a ver com a liberdade. A monarquia inglesa, à época, controlava praticamente todos os aspectos da economia e da vida dos seus súbditos - do que podiam vestir ao modo como podiam venerar.

As "leis sumptuárias", que regulavam o comportamento privado, eram comuns. Isabel I, por exemplo, re-introduziu um imposto da barba [criado por Henrique VIII] que era devido a todos aqueles que deixassem crescer o cabelo facial para além das duas semanas.

Ela fez também publicar longas listas, categorizadas por classe social, que ditavam exactamente qual a cor e tipo de vestuário que os seus súbditos eram obrigados a usar.

Acontece que essas leis sumptuárias foram apenas uma forma primitiva de bem-estar corporatista patrocinado pelo estado; a indústria têxtil inglesa tinha pago a Isabel I enormes somas de dinheiro em troca de decretos reais que regulavam os gorros de malha e as meias de lã.

Em consequência, boa parte da mão-de-obra inglesa e do rendimento disponível foi incorrectamente afectada à produção de vestes tolas em vez de o ser a utilizações mais produtivas... e o país estava num estado de quase permanente estagnação.

Salário mínimo, disparate máximo

A mais recente investida governamental (ou, talvez melhor, da componente que provém do auto-denominado "partido dos contribuintes") no sentido de decretar incentivar o aumento dos salários e, em particular, ainda que enviesadamente, do salário mínimo (que segundo o socialista centrista Mota Soares só não aumentará porque a troika não deixa mas também não diminui porque, aí, é o governo que se recusa a aceitar a sugestão da troika), leva-me a revisitar o tema do salário mínimo. Para o efeito, e porque é particularmente importante nesta questão o apelo à didáctica, socorri-me de um artigo recentemente publicado no Washington Times, da autoria do Prof. Dominick T. Armentano, cuja tradução, de minha responsabilidade, abaixo reproduzo e de onde roubei o título deste post.

É espantoso que sobre um assunto que há muito está esclarecido continue a persistir na opinião pública, com a ajuda inestimável de um punhado de activistas políticos economistas (?), a ideia de que é possível iludir reescrever a lei da procura. Mas este é também o tempo em que, mesmo ao arrepio da lógica mais elementar, os mitos se acumulam e se reforçam (mesmo que muito antigos). Por algum motivo se explica o generalizado desprezo por Aristóteles.

Curioso, por fim, que após 9 (nove) meses consecutivos de quedas na taxa de desemprego (que está agora - dados de Setembro do corrente - aos níveis de Agosto de 2012), o governo tenha achado oportuno vir falar no assunto nos termos em que o fez, quando não lhe cabe a si nenhum mérito no sucedido.
Dominick T. Armentano
No seu discurso do estado da União de 2013, o presidente Obama sugeriu ao Congresso que aumentasse o salário mínimo federal do actual valor de 7,25 dólares por hora para, pelo menos, 9 dólares. Vários estados estão também debatendo um aumento; com efeito, a Assembleia Legislativa da Califórnia aprovou recentemente, e o governador Jerry Brown acaba de assinar, uma lei que elevará o salário horário mínimo no estado de 8 para 10 dólares no espaço de três anos. Na Flórida, onde resido, o mínimo legal (com algumas excepções importantes) é de 7,79 dólares e é reajustado anualmente pela inflação.

Será que o actual alvoroço nacional para "fazer alguma coisa" quanto aos salários mínimos constitui mais um erro governamental [federal e estatal]? Sim, absolutamente. As leis do salário mínimo fazem diminuir as oportunidades de emprego para os trabalhadores (em particular os adolescentes e os trabalhadores não qualificados) e prejudicam alguns dos próprios indivíduos que, conceptualmente, era suposto ajudar - os trabalhadores pobres. Aumentar o salário mínimo substancialmente, a nível estadual ou federal, seria um erro de política pública.

Para se ver por que assim é, coloquemos a nós próprios a seguinte pergunta: o que é provável que aconteça quando aumentamos o preço da cerveja, das casas de férias, dos livros, dos jornais ou de quase tudo, mantendo as outras variáveis constantes? Resposta: menos unidades de cerveja, de férias, de livros ou de jornais são vendidos no mercado. Na teoria económica, a  isto se denomina  como a "lei da procura" a funcionar; a preços mais elevados, menos unidades de um dado bem ou serviço serão comprados.