Um par de dias depois do aniversário, a 15 de Novembro de 1923, do início do fim da devastadora hiperinflação da República de Weimar e numa altura em que regressam as Cassandras que anunciam a apocalíptica deflação para "justificar" conferir uma ainda maior aceleração à velocidade de operação das rotativas (hoje electrónicas) dos bancos centrais, creio oportuno insistir na tentativa de convocar o senso comum. É o que Simon Black volta a fazer em mais uma missiva, agora de Bangkok, que procurei traduzir como se segue:
15 de Novembro de 2013
Bangkok, Tailândia
Uma das maiores mentiras em matéria de finanças é este perpétuo logro de que a inflação é algo de bom.
Ben Bernanke, o actual sumo sacerdote da política monetária dos EUA, observou recentemente que é "importante evitar que a inflação nos EUA atinja valores excessivamente baixos".
Bem, claro, isso seria algo de indesejável, não é verdade? Imagine-se o caos e devastação que se seguiriam se o custo de vida de facto se mantivesse... digamos... o mesmo.
Estremece-se, só de pensar na estabilidade de preços.
Naturalmente que estou a brincar. A verdade é que a inflação beneficia aqueles que estão endividados até ao pescoço [a começar pelos estados] à custa dos que foram financeiramente responsáveis.
No entanto, os economistas encontraram forma de conseguir convencer as pessoas de que a inflação é justa e necessária. Todos sabemos que existe inflação. Mas fomos programados para a minimizar como se ela fosse uma parte natural do sistema.
Logro ainda maior constitui o modo como são divulgados os seus valores.
Os governos de todo o mundo mentem sobre a inflação; fazem-no porque a inflação tem um impacto enorme na política monetária.
A cartilha por que todos se regem é muito simples: seja a inflação "baixa" e os banqueiros centrais podem [têm "licença" para] imprimir dinheiro. Desde modo, é grande o incentivo que existe para a subavaliar.
Citando um relatório do Departamento do Trabalho dos EUA, por exemplo, numa manchete recente da Reuters afirmava-se que "Os preços no consumidor nos EUA sobem, mas a inflação subjacente é benigna".
Não tenho bem a certeza de como pode a inflação ser "benigna" quando os preços ao consumidor estão simultaneamente a subir.
E todavia, este é o duplipensar dos nossos dias proveniente do Ministério da Verdade entidade em quem todos nós somos supostos acreditar cegamente.
A inflação existe de facto. Constato-a por todo o mundo nas minhas viagens. Na Índia, a inflação oficial acaba de atingir 10%, num momento em que a economia está a caminho da estagnação.
No Bangladesh, os trabalhadores estão a amotinar-se devido ao crescente custo de vida, que em muito excede as propostas de aumentos salariais que estão em cima da mesa.
Na Terra dos Livres, o preço médio de um bilhete de cinema é, desde os inícios deste ano, de 8,38 dólares, outro recorde. Os agricultores produtores de nozes, na Califórnia, estão agora a colher preços recorde da sua cultura.
E, claro, a McDonald's está a matar o que já foi o popular menu de um dólar, uma vez que já não se podem dar ao luxo de vender o que quer que seja àquele preço.
Há exemplos em toda a parte. E o mesmo se passa relativamente à inflação dos preços dos activos.
Podemos observar muitos mercados accionistas e obrigacionistas próximos dos seus máximos de todos os tempos. Mas há também outras classes de activos... como terrenos agrícolas no Illinois, que se estão agora a vender por 13,600 dólares por acre [cerca de 33,600 por hectare].
Com um rendimento médio de 160 bushels por acre [13,930 litros por hectare], o retorno financeiro líquido, após a cobertura custos variáveis, é inferior a 2%. Muito simplesmente, isto não faz qualquer sentido.
E no mundo da arte, um tríptico de Francis Bacon acaba de ser vendido a um preço recorde de 142 milhões dólares na Christie's, em Nova Iorque.
Para onde quer se olhe, há evidências esmagadoras de bolhas e de aumentos de preços. É simples. Há excesso de moeda no sistema.
Não só isto é destrutivo, como é o cúmulo do ludíbrio dizer às pessoas que não há inflação.
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