quarta-feira, 31 de julho de 2013

Notícias do ultraliberalismo reinante (7)

Governo vai obrigar Vimeca a aceitar os passes sociais.

É pois assim que o Governo entende estimular a confiança das empresas, a quem convida a investir, nomeadamente coarctando a sua possibilidade de tomarem decisões segundo o cálculo económico. Vai longe, vai longe!

Sector eléctrico - benchmarking à espanhola


  • Capacidade instalada: 108.296 MW (2/3 em regime especial - eólicas, solar, etc. -, 1/3 em regime ordinário)
  • Pontas (picos) de procura: 45.000 MW
  • 30 mil milhões de défice tarifário (actualmente)
Estes são alguns dos resultados das 33 (trinta e três) reformas no sector eléctrico desde 1998 que os nossos vizinhos levaram a cabo no sector.

As minhas expectativas que, entre nós, o novel ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Ambiente, aporte alguma sanidade às políticas energéticas que têm vindo a ser seguidas entre nós são, falando claro, inexistentes. O consenso (particularmente o do silêncio) verificado após a sua nomeação acentuou esse sentimento. Oxalá me engane. 

Swaps - o Estado especulador

Via Blasfémias, cheguei ao Banda Larga que recorda uma didáctica intervenção do prof. João Cantiga Esteves quanto ao tema dos swaps. Nela, Cantiga Esteves separa a espuma da substância de um tema que, à boa maneira portuguesa amplificada pela generalidade da comunicação social, procura a todo o custo ofuscar o essencial - a especulação promovida pelo próprio Estado para, a qualquer custo e recorrendo a todo o tipo de artimanhas, encontrar financiamento para prolongar níveis de despesa insustentáveis em mais um exemplo de irresponsável e criminosa fuga (despesista) para a frente.

domingo, 28 de julho de 2013

Liberdade e segurança

Num belo texto que merece uma leitura completa, se possível no original, o juiz Andrew Napolitano desmonta a tentativa, abusiva, daqueles que pretendem equiparar a liberdade e a segurança a propósito do "caso" Edward Snowden. A tradução, particularmente arriscada, é minha.
"Quando Edward Snowden revelou que o governo federal, num desafio directo à Quarta Emenda da Constituição, estava ilícita e inconstitucionalmente a espiar todos os americanos que usam telefones, mensagens de texto ou e-mails para comunicar com outras pessoas, ele abriu uma caixa de Pandora de alegações e recriminações. As alegações que desencadeou são as de que os americanos têm um governo que assalta as nossas liberdades pessoais, actua em segredo e viola a Constituição e os valores em que ela se baseia. As recriminações são as de que a segurança é um bem maior do que a liberdade, e Snowden interferiu na capacidade do governo para nos manter seguros, expondo os seus segredos, e por isso deve ser silenciado e punido.

No decorrer deste debate, já se ouviu o argumento de que todos nós precisamos de sacrificar alguma liberdade de modo a garantir a nossa segurança, que a liberdade e a segurança são contrapesos que, quando chocam entre si, é ao governo que deve assegurar um novo equilíbrio decidindo qual deverá prevalecer. Este é, naturalmente, um argumento que o governo adora, pois pressupõe que o governo tem o poder moral, legal e constitucional para fazer esse rearranjo satânico.

Ora ele não tem esse poder.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Citação do dia (125)

"The most dangerous man to any government is the man who is able to think things out for himself, without regard to the prevailing superstitions and taboos. Almost inevitably he comes to the conclusion that the government he lives under is dishonest, insane and intolerable, and so, if he is romantic, he tries to change it. And even if he is not romantic personally he is very apt to spread discontent among those who are."
H. L. Mencken

domingo, 21 de julho de 2013

A alternativa à democracia é o mercado

Albert Esplugas Boter, num estimulante artigo intitulado A alternativa à democracia, termina-o da seguinte forma (minha tradução):
Significa esta reflexão que temos que aceitar a democracia para o bem e para o mau? Que o preço da paz social e das liberdades civis são políticas económicas que nos empobrecem? Há uma maneira de evitar esse odioso "trade-off": reduzir o âmbito das decisões democráticas, tanto quanto seja possível. A maioria das decisões importantes na nossa vida não é submetida a votação democrática na nossa comunidade, nem sequer daqueles que nos estão mais próximos: o que queremos estudar, em que queremos trabalhar ou que negócio pretendemos criar, onde queremos viver, com quem nos relacionamos e estabelecemos amizade, com quem nos emparelhamos, a que clubes e associações nos associamos, em que investimos, o quanto poupamos, que casa compramos... Quanto menos decisões se tomem "democraticamente" e mais decisões sejam tomadas no contexto do mercado e da sociedade civil, menos necessária será a ilusão de "jogo limpo" para conquistar o poder, pois não haverá nenhum poder de decisão para capturar, e maior será o bem-estar social fruto de uma política económica laissez-faire.

Porque a alternativa à democracia não é a ditadura, nem a monarquia, nem o sufrágio censitário, nem qualquer outra forma de governo. A alternativa à democracia é o mercado.
Tratando-se, a meu ver, de um texto conexo com este outro (que obteve um interesse assinalável, a avaliar pelo número de cliques que teve) pensei ser útil partilhá-lo com os leitores. Nele o autor percorre brevemente o pensamento de figuras determinantes da intelectualidade contemporânea relativamente à crítica do regime democrático (relembrando igualmente os perigos antevistos pelos liberais clássicos), detendo-se mais longamente num exame crítico a um proponente do "sufrágio censitário". Se o extracto lhe parecer interessante, convido-o a ler o texto na íntegra clicando em "ler mais".

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Quando as coisas não podem continuar, elas têm uma tendência para parar

Gary North recorda aqui a lei de Herbert Stein a propósito da declaração de falência de Detroit que, suspeito, ainda fará correr muita tinta pelas ondas de choque que irá provocar.

Houvesse alguma vergonha por parte de Obama, e já teria sido emitido um pedido de desculpas por esta vergonhosa comunicação emitida há cerca de nove meses - "I Refused To Let Detroit Go Bankrupt":

Citação do dia (124)

"A coerção é a condição sine qua non da política; a coisa sem a qual a política não seria política. Na verdade, se se remover a coerção, a política torna-se noutra coisa - na economia."

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Paul Rosenberg: 5 razões principais porque me deixei de preocupar com a política

Não conhecia Paul Rosenberg. Mas, tendo-me deparado, via Mises Hispano, com este artigo (e mais uma mão-cheia de outros) já o incluí nas minhas deambulações virtuais. Revi-me em muitas das suas observações e subscrevo, sem pestanejar, boa parte delas. Também não me custa reconhecer que o meu minarquismo sofreu mais um sério embate. Em qualquer caso, parece-me constituir uma interessante proposta de reflexão, em tempos como os que correm em que a descrença democrática é crescente, como o Samuel Paiva Pires recente e desassombradamente "confessava". 
"Quando era jovem, senti uma necessidade de compreender a política, pelo que investi algum tempo no seu estudo. Mas à medida que esse tempo passava, ia obtendo rendimentos decrescentes desse investimento. E, nos últimos anos, desisti completamente.

Nos dias de hoje, a minha preocupação com a política limita-se a coisas como estas:
  • Quem está fazendo a guerra, e onde?
  • Em que zona na minha área [de residência, da escola dos meus filhos, do meu trabalho] estão ocorrendo crimes?
  • Existem leis que me obriguem a deslocar os meus negócios para outras paragens?
Para além disto, não estou realmente interessado. Vejo as manchetes, mas raramente leio os artigos. E sinto-me muito feliz ao dizer que "não me interessei especialmente por isso" quando as pessoas me perguntam a minha opinião sobre as "novidades" do dia.

Eis porquê:

Razão nº 5: Consome uma quantidade horrível de tempo e energia

A sério: comece a contar o número de horas que gasta nisto. Quantas horas despende a ouvir temas políticos na rádio, a assistir a programas políticos na TV e a ler artigos políticos nos jornais?

Em seguida, comece a pensar na intensa energia que gasta com isto. Todos nós temos reservas limitadas de energia; acreditará realmente o leitor que a política é a mais nobre e a de melhor utilização para a sua? Que tal usar a sua energia para construir o seu negócio? Ou para alimentar os seus filhos? Ou para ajudar um vizinho? Deve haver uma dúzia de coisas que sejam mais importantes do que ficar obcecado com os votos dos congressistas ou dos juízes do Supremo Tribunal.

Razão nº 4: É um vício

Se a mera imaginação de se desligar da política o faz sentir-se mal, provavelmente deve mesmo fazê-lo.

Experimente: imagine a sua vida, esvaziada de toda a política. Como é que isso o faz sentir-se? Vazio? Abandonado?

A verdade é que milhões de nós somos viciados em política. As pessoas não conseguem afastar-se para longe dela - é o guião que os seus subconscientes levam a cabo, 24 horas por dia, sete dias por semana.

O vício político é tão mau que até mesmo as pessoas firmemente religiosas gastam mais tempo com a política do que com Deus. A política é a obsessão da nossa era.

T-Model Ford - Nobody gets me down

In memoriam.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Da banalidade do PIB ao Produto Privado Interno Bruto

Encorajado por várias reacções positivas que tenho recebido quanto à publicação de traduções de alguns textos por mim escolhidos, ouso hoje dar agora um passo correndo o risco de alienar aqueles leitores que muito justamente abominam o "economês" até porque, para aqueles que se sujeitam à regular tortura mediática, são impiedosamente bombardeados com ele. Refiro-me, em concreto, à omnipresença do PIB a que tudo se pretende reduzir e cujo agregado, tipicamente, os governos tentam manipular na incessante busca de anúncios de um salvífico (e tantas vezes pífio) "crescimento". Daí que tenha achado que o breve ensaio de Robert Higgs que me propus traduzir possa ser útil para melhor se entender a verdadeira obsessão em que nos encontramos rodeados relativamente à evolução daquele agregado económico e esclarecer alguns (grandes) equívocos sobre o mesmo.

Robert Higgs
Higgs que, recorde-se, começou por ter recebido uma formação, que chegou mesmo à obtenção de um Phd em economia, segundo o paradigma neo-clássico (ou seja, um tanto grosseiramente, num quadro de um keynesianismo recauchutado), começa por recordar-nos que não foi pacífica a definição do conceito de PIB especialmente quanto à inclusão da despesa governamental no seu cálculo (Simon Kuznets, o grande impulsionador do sistema de contas nacionais, pelas quais recebeu o Nobel da Economia, foi contra essa inclusão). Enumera em seguida, explicando, algumas das principais razões que justificariam a sua exclusão do cálculo para concluir pela naturalidade da sua adopção pelos governos na configuração que se mantém desde a sua criação - faz jeito ao governo (a TODOS os governos) serem "promotores" e "agentes activos do crescimento".

Isso leva-o a construir e a calcular um novo "conceito" - o Produto Privado Interno Produto - na tentativa de melhor isolar o verdadeiro crescimento do produto interno - aquele produzido no sector privado. A conclusão que retira, após a análise da evolução do PPIB nos últimos 12 anos nos EUA é, não surpreendentemente, lúgubre.
"Nas décadas de 1930 e 1940, quando o moderno sistema moderno de contas  nacionais para a determinação do rendimento e do produto [NIPA] estava sendo desenvolvido, o "perímetro" do produto nacional foi um tema calorosamente debatido. Nenhuma questão provocou mais debate do que esta: deve o produto governamental ser incluído no produto bruto? Simon Kuznets (Nobel de Economia de 1971), o americano que deu o mais importante contributo para o desenvolvimento do sistema de contas nacionais, tinha grandes reservas quanto a incluir todas as compras de bens e serviços governamentais no produto nacional. Ao longo dos anos, outros elaboraram sobre as razões que ele então adiantou e outras razões foram entretanto aduzidas.

Porquê excluir o produto estatal? Em primeiro lugar, as actividades estatais podem ser vistas como dando origem a produtos intermédios em vez de produtos finais, mesmo que o governo seja fornecedor de serviços valiosos como o de fazer valer os direitos de propriedade privada ou o de promover a resolução de disputas. Em segundo lugar, porque não sendo os serviços públicos, na sua maioria, vendidos nos mercados, os seus preços não são determinados por eles [não resultam da interacção entre a procura e a oferta] para que possam ser usados no cálculo do seu valor total àqueles que deles beneficiam. Em terceiro lugar, porque muitos serviços públicos surgem por motivos políticos e não de motivações económicas ou de instituições, alguns deles podem ter pouco ou nenhum valor. De facto, alguns comentadores - onde se inclui o autor destas linhas - foram até ao ponto de  afirmar que alguns serviços públicos têm valor negativo: se lhes fosse dado escolher, as pessoas vitimizadas por esses "serviços" estariam dispostas a pagar para se livrar deles.

terça-feira, 16 de julho de 2013

O insustentável "peak oil" ou ¿Por qué no si callan?


Encerrou o icónico website The Oil Drum, cuja missão tinha o propósito de "educar" o mundo para o "inevitável" (mas estranhamente sempre adiado) "peak oil" e, consequentemente, a emergência de uma economia assente em energia de origem não-fóssil. A razão, segundo os seus próprios editores (minha tradução) - "deve-se à escassez de novos conteúdos causada por um número cada vez menor de contributos. Apesar dos nossos melhores esforços para preencher essa lacuna, não temos sido capazes de melhorar significativamente o fluxo de artigos de alta qualidade". Requiescat in pace, pois (ao menos por uma década, caramba!).

Compreende-se. A fenomenal revolução do gás de xisto ainda em crescimento acelerado (e só) nos EUA, a par de uma também extraordinária recuperação dos níveis de produção de petróleo, ao mesmo tempo que se assiste a uma diminuição nas emissões de dióxido de carbono quer em termos per capita (para valores de 1964), quer - pasme-se! - em termos absolutos (para valores de há vinte anos atrás), constituem um conjunto de "paradoxos" que os teorizadores do "peak oil", acenando com os horrores do "day after", não conseguiram resistir.

É certo que os apóstolos do Apocalipse climático (a.k.a. "aquecimento global"/"alterações climáticas") tudo têm tentado (e continuam a tentar) para acelerar a "Transição". Recorde-se a célebre frase do candidato Obama, em Janeiro de 2008: "De acordo com o meu sistema de um sistema de comércio e limitação de emissões, os preços de electricidade iriam necessariamente disparar". Mas convenhamos que há medida que o tempo passa - e já passaram 17 anos sem que se verifique o aquecimento profetizado pelos alarmistas - é cada vez mais difícil não enfrentar a realidade. De resto, a sucessão de escândalos envolvidos na distribuição de subsídios e empréstimos a projectos na área da energia e nos empregos "verdes" é verdadeiramente avassaladora.

Mas por que não ouviram Julian Simon? Melhor: por que não ouviram Frédéric Bastiat? Parafraseando o Rei Juan Carlos numa sua oportuna intervenção, ¿Por qué no si callan?

domingo, 14 de julho de 2013

A política energética de Obama em dois cartoons


Por Robert Ariail

Por Michael Ramirez

Citação do dia (123)

"Ah, miseráveis ​​criaturas! Vocês pensam que são tão grandes! Vocês, que acham a humanidade tão pequena! Vocês, que querem reformar tudo! Por que não se reformam vocês mesmos? Essa tarefa seria suficiente."

Frédéric Bastiat, A Lei (A arrogância ditatorial)

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Do desinteresse pela hermenêutica cavaquista mas porém

Mesmo no tempo da internet, a distância física ao país sempre me atenuou os humores (raramente positivos) sobre o que lá se passa no plano político (mesmo no estrangeiro, recuso-me a ver os canais de televisão portugueses, generalistas e de "especialidade"). Perdoar-me-ão pois os leitores, pelo menos os mais frequentes, pelas esparsas referências explícitas à Choldra a que se referia D. Carlos.

Todavia, abro agora uma excepção: parecem ter diminuído significativamente os riscos de vermos Jorge Moreira da Silva como ministro do Ambiente e Energia. Se pensam que é coisa pouca, leiam o que o Prof. Pinto de Sá escreveu há uns meses sobre o-ministro-que-talvez-e-felizmente!-não-o-venha-a-ser.

Interesses vitais vs ideais democráticos

Para os que elevam o regime democrático como a descoberta do Santo Graal e, portanto, do "Fim da História", os recentes acontecimentos no Egipto (como antes com a Autoridade Palestina ou ainda com a catástrofe da Argélia de 1991, para já não falar dos resultados "incorrectos" de vários referendos no processo de "construção europeia") são perturbadores.Neste texto Patrick J. Buchanan proporciona uma viagem ao devir histórico dos EUA para concluir que não cabe aos EUA a defesa e a promoção universal do "democratismo". Pelo contrário, finda que foi a Guerra Fria (há 20 anos) e não havendo interesse vital dos EUA a preservar, defende caber aos países Árabes a resolução dos seus próprios problemas - no Egipto como na Síria, no Iraque como no Líbano.

No seu texto, Buchanan evoca a "Boa Guerra" de 1941-1945 como exemplo de uma intervenção americana implícita e moralmente justificável fora do seu território. Todavia não escrutina as consequências não-intencionais do voluntarismo wilsoniano, entre as quais, nomeadamente, a ascensão dos comunistas ao poder na Rússia, ou a "ferida aberta" pelo Tratado de Versalhes A tradução do texto é minha.
"Compreensivelmente, a Irmandade Muçulmana está enfurecida.

Depois de ter ganho a presidência do Egipto em eleições livres e justas após o derrube de Hosni Mubarak, o presidente Mohammed Morsi foi deposto por um golpe militar e colocado sob prisão domiciliária.

Os líderes da Irmandade, sem que tenham sido condenados por quaisquer crimes, estão a ser circunscritos em redis.

Eles jogaram pelas regras da América. Agora, com a bênção da América, estão a ser presos pelos amigos da América nas forças armadas egípcias.

Não que esta seja a primeira traição percebida. Quando o Hamas venceu as eleições livres exigidas por George W. Bush, a América recusou-se a reconhecer a sua legitimidade e conspirou para a queda violenta do Hamas em Gaza.

Quando os islamitas ganharam a primeira volta das eleições argelinas em 1991, o regime, com a bênção de Bush I, cancelou a segunda volta, o que levou a uma guerra de guerrilha que custou entre 100 e 200 mil mortos.

Se os muçulmanos passaram entretanto a crer que os americanos pregadores pela democracia não passam de charlatães e hipócritas, não terão eles alguma razão?

A política externa dos EUA pareceu em tempos fazer sentido. Nós púnhamos os interesses vitais à frente da ideologia "democratista". Éramos por aqueles que eram por nós. Nós não gastávamos tempo a inspeccionar as credenciais morais daqueles que ficavam do lado da América. Nós jogávamos com as cartas que nos calhavam em sorte neste mundo.

O general Washington dançou quando soube que Luís XVI, um descendente do Rei Sol, apoiaria a causa da América contra a nossa mãe pátria [o Reino Unido].

Em 1917, Woodrow Wilson conduziu-nos à guerra "para tornar o mundo seguro para a democracia" enquanto potência associada de cinco impérios - o britânico, o francês, o italiano, o russo e o japonês. No fim da guerra, Wilson assinou tratados que levaram à pilhagem das terras e colónias dos três impérios derrotados, em benefício dos impérios vitoriosos.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

O quadro mental da esquerda (4)

Termino hoje a publicação da Parte IV (depois das Partes I, II e III) da série de artigos assinados por Thomas Sowell, sob o título The Mindset of the Left que pedi emprestado para encimar os quatro posts das respectivas traduções que entendi poderem ser interessantes aos leitores deste blogue.

Nesta derradeira parte, Sowell evoca a sua experiência pessoal para ilustrar, através de um exercício contrafactual - simples, mas poderoso - como as políticas "abelhudas/metediças" da esquerda (o mesmo é dizer, da esmagadora maioria da intelligentzia) acabam quase invariavelmente por produzir resultados opostos àqueles inicialmente propagandeados

No cerne da visão da esquerda do mundo está a suposição implícita de que mentes nobres e magnânimas - como as dos seus defensores e intérpretes - podem tomar melhores decisões relativamente às outras pessoas do que essas pessoas podem alcançar por si próprias.

Esta arbitrária e infundada asserção está subjacente ao vasto espectro de leis e políticas criado ao longo dos anos, que vai desde a reabilitação urbana ao ObamaCare.

Uma das muitas cruzadas internacionais levadas a cabo pelos "abelhudos" ["busybodies"] da esquerda tem sido a de exercer pressão para limitar as horas de trabalho das pessoas de outros países - especialmente dos países mais pobres - em negócios operados por empresas multinacionais. Um grupo de acompanhamento internacional assumiu a tarefa de assegurar que as pessoas na China não trabalhem mais que as 49 horas semanais legalmente prescritas.

Por que razão grupos de acompanhamento internacionais, dirigidos por americanos ou europeus ricos, poderiam imaginar saber o que é melhor para as pessoas que são muito mais pobres do que eles, e com muito menos opções à sua disposição, é um dos muitos mistérios da elite abelhuda.

Como alguém que saiu de casa aos 17 anos de idade, sem diploma do ensino secundário, sem experiência de trabalho e sem competências específicas, passei vários anos aprendendo da maneira mais difícil o que é realmente a pobreza. Um dos tempos mais felizes durante esses anos foi um breve período em que eu trabalhava 60 horas por semana - 40 horas entregando telegramas durante o dia e 20 horas de trabalho a tempo parcial numa oficina durante a noite.

Por que estava eu feliz? Porque, antes de ter encontrado esses empregos, eu tinha despendido semanas desesperadamente à procura de um qualquer emprego, enquanto as minhas parcas economias minguavam, literalmente, até ao meu último dólar, até ter finalmente encontrado o emprego a tempo parcial, à noite, na oficina mecânica.

Eu tinha que andar vários quilómetros da pensão onde morava no Harlem até à oficina  que ficava logo abaixo da ponte de Brooklyn, de modo a poupar até ao último dólar para comprar pão à espera que chegasse o dia de pagamento.

Quando depois encontrei um emprego a tempo inteiro para entregar telegramas durante o dia, o dinheiro conjunto dos dois empregos era mais do que eu alguma vez antes tinha conseguido. Eu pude pagar a renda em atraso que estava a dever pelo meu quarto, e comer e andar de metro na ida e volta do trabalho.

Eu consegui até mesmo pôr algum dinheiro de lado, por precaução, para acorrer a uma hipotética dificuldade futura. Foi a coisa mais próxima do nirvana para mim.

Graças a Deus que não houve abelhudos que me impedissem de trabalhar mais horas do que eles achassem que eu deveria trabalhar.

domingo, 7 de julho de 2013

O quadro mental da esquerda (3)

Continuando a divulgar a série de artigos assinados por Thomas Sowell relativa à explicitação do "Quadro mental da esquerda" (Partes I e II), chega a vez de o autor se pronunciar sobre a grande bandeira da esquerda da batalha da "desigualdade" (o que faz a meu ver de forma sinteticamente admirável), constrastando a retórica inflamada com os resultados concretos de perto de mais de 2 séculos de história e mesmo após o fragoroso colapso dos países comunistas. E porém, apesar dos mais abjectos fracassos e da dimensão sem par dos crimes cometidos, a retórica da  esquerda persiste. Em particular onde antes se reconhecia "The Land of the Free". The Mindset of the Left: Part III .
"O problema fundamental da esquerda política parece residir no facto de o mundo real não se encaixar nos seus preconceitos. Por isso ela vê o mundo real como estando errado nele identificando o que necessita ser mudado uma vez que, aparentemente, os seus preconceitos não podem estar errados.

Thomas Sowell
Uma fonte interminável de injustiças para a esquerda reside no facto de que alguns grupos estarem "sobre-representados" em profissões desejadas​​, instituições e escalões de rendimentos, enquanto outros grupos estão "sub-representados".

De toda a indignação e revolta com que isto é expresso pela esquerda, poder-se-ia pensar que fosse impossível que grupos diferentes pudessem ser simplesmente melhores a fazer coisas diferentes.

E todavia os corredores do Quénia continuam a ganhar uma parcela desproporcional das maratonas nos Estados Unidos, e as crianças cujos pais ou avós vieram da Índia têm vencido a maioria dos concursos americanos de ortografia nos últimos 15 anos. E será que há alguém que não se tenha ainda dado conta que há anos que os principais jogadores profissionais  de basquetebol são negros, num país onde a maioria da população é branca?

A maioria das lentes fotográficas líderes do mundo têm - há gerações - sido projectadas por pessoas japonesas ou alemãs. A maioria dos líderes mundiais no corte de diamantes têm sido ou os jainistas da Índia ou os judeus de Israel ou de outros lugares.

Não só as pessoas mas também as coisas têm sido manifestamente desiguais. Mais de dois terços de todos os furacões no mundo inteiro ocorrem no centro dos Estados Unidos. A Ásia tem mais de 70 picos montanhosos de altitude superior a 6000 metros e a África não tem um único. Constituirá notícia o facto de que uma parcela desproporcional de todo o petróleo do mundo se situar no Médio Oriente?

Livros inteiros poderiam ser escritos acerca dos desiguais comportamentos ou desempenhos das pessoas, ou acerca das desiguais configurações geográficas em que raças inteiras, nações e civilizações se desenvolveram. No entanto, os preconceitos da esquerda política marcham intrépidos, proclamando razões sinistras para justificar o facto de os resultados não serem iguais entre as nações como no seio de cada nação.

sábado, 6 de julho de 2013

O quadro mental da esquerda (2)

Em continuação de O quadro mental da esquerda, apresento agora uma tradução da 2ª parte da série de artigos que Thomas Sowell publicou recentemente nos últimos dias sobre o tema. Depois de na Parte I se ter debruçado sobre a origem histórico-filosófica da "apropriação" da condição "natural" do exercício de poder por parte da esquerda ("justificada" por Rousseau), Sowell aborda agora um tema essencial: o da pobreza ou, mais exactamente, da constante redefinição do seu conceito para, numa lógica aparelhística, diabólica e feroz, promover a incessante "necessidade" de intervenção política. Em paralelo, ilustra os múltiplos exemplos de importantes grupos sociais e étnicos que, profundamente desconfiados dos governos, conseguiram escapar à armadilha da pobreza e alcançarem a ascensão social e o correspondente aumento de bem-estar. Para Sowell, a palavra-chave é uma: trabalho.
"Os líderes da esquerda em muitos países têm promovido políticas que permitem aos pobres ficarem mais confortáveis na sua pobreza. Mas isso levanta uma questão fundamental: quem são os "pobres"?

Thomas Sowell
Se se usar uma definição burocrática da pobreza de modo a incluir todos os indivíduos ou famílias abaixo de um certo nível de rendimento arbitrariamente estabelecido pelo governo, então é fácil obter os tipos de estatísticas acerca dos "pobres" que são armas de arremesso veiculadas nos media e na política. Mas traduzirão essas estatísticas uma relação estreita com a realidade?

A "pobreza" já teve em tempos um significado concreto - uma quantidade insuficiente de comida para ingerir, ou vestuário ou abrigo insuficientes para proporcionar protecção contra os elementos, por exemplo. Hoje significa o que os burocratas do estado, que definiram os critérios estatísticos, escolherem fazer significar. E eles têm todo o incentivo para definir a pobreza de uma forma que inclua suficientes pessoas para justificar a despesa do estado social.

A maioria dos americanos com rendimentos abaixo do nível oficial de pobreza tem ar condicionado, televisão, possui um veículo automóvel e, longe de passar fome, os seus membros são mais prováveis do que outros americanos de vir a sofrer de excesso de peso. Mas uma definição arbitrária de palavras e números dá-lhes acesso ao dinheiro dos contribuintes.

Este tipo de "pobreza" pode facilmente tornar-se um modo de vida, não apenas para os "pobres", mas para os seus filhos e netos.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

O quadro mental da esquerda (1)

Thomas Sowell, em The Mindset of The Left ("O Quadro Mental da Esquerda") oferece um explicação para o entendimento da persistência de tantos mitos, sucessivamente refutados para sempre re-emergirem. A história pessoal de Sowell, um negro de origens muito humildes que todavia se viria a tornar num dos intelectuais de direita mais importantes da sociedade americana, torna-o bem habilitado para o efeito. Este é o primeiro de uma série de artigos que procurarei traduzir tentando com isso alargar o âmbito possível dos leitores. Mas, como frequentemente repito, nada como ler o original. Talvez possa mesmo ser um contributo para entender a inexistência de uma direita nos países ocidentais e, desde logo, em Portugal.
"Quando os vândalos adolescentes são designados de "jovens problemáticos" pelas pessoas situadas no quadrante político à esquerda, isso diz-nos mais sobre a mentalidade da esquerda do que sobre estes jovens arruaceiros.

São raros os vestígios de provas de que os vândalos sejam seres perturbados e, frequentemente, há amplas evidências de que eles estão de facto se divertindo enquanto criam problemas e perigos aos outros.

Porquê então a desculpa pré-fabricada, de designar os criminosos juvenis de "jovens problemáticos" enquanto os assassinos em massa são simplesmente considerados "insanes"?

Desde pelo menos o século XVIII que a esquerda se tem esforçado para evitar enfrentar o simples facto do mal - que algumas pessoas muito simplesmente optam por fazer coisas que elas sabem ser erradas quando as cometem. Todos os tipos de desculpas, da pobreza a uma infância infeliz, são utilizados pela esquerda para explicar e desculpar o mal.

Todas as pessoas que conseguiram sair da pobreza ou de infâncias infelizes, ou de ambas, e se tornam seres humanos decentes e produtivos, são ignoradas. Tal como acontece quando aos males cometidos por pessoas criadas no seios da riqueza e do privilégio, incluindo reis, conquistadores e senhores de escravos.

Por que razão o mal tem sido um conceito tão difícil de aceitar para muitos na esquerda? A agenda básica de esquerda é mudar as condições externas. Mas e se o problema for interno? E se o problema real for a perversidade dos seres humanos?

Rousseau negou isto no século XVIII e a esquerda tem vindo a negá-lo desde então. Porquê? Por autopreservação.

Se as coisas que a esquerda quer controlar - as instituições e as políticas governamentais - não forem os factores mais importantes na origem dos problemas do mundo, então qual o é papel que sobra para a esquerda?

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Plácido Domingo - Ridi pagliaccio (republicado)

À distância, sem ponta de paciência para jogos florais e para evitar soltar um rol de impropérios - ainda que inteiramente merecidos -, volto a sugerir uma proposta que aqui deixei há uns dias atrás.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

A cobardia paga-se

Reforma do Estado leva à saída de Gaspar.

Em 31-08-2011, aquando da divulgação do primeiro DOE (Documento de Estratégia Orçamental), escrevia por aqui (perdoem-me a auto-citação):
A punção fiscal vai continuar, desmedida, impante e espoliadora, ao longo de todo o período considerado ao mesmo tempo que o documento não contém, sequer um pensamento, quanto à imprescindível redução das funções do estado.

Continuamos com um governo socialista. Creio que já não subsistem quaisquer dúvidas quanto a esse facto.
Na altura, houve quem tivesse classificado tal previsão de disparatada. Mas, não. E não era preciso ser uma águia para logo então poder ter percebido o que aí vinha. Sobretudo, o que aí não vinha.

O caminho para o desastre prossegue. E agora, tudo o indica, de forma ainda mais acelerada.