Termino hoje a publicação da Parte IV (depois das Partes I, II e III) da série de artigos assinados por Thomas Sowell, sob o título The Mindset of the Left que pedi emprestado para encimar os quatro posts das respectivas traduções que entendi poderem ser interessantes aos leitores deste blogue.
Nesta derradeira parte, Sowell evoca a sua experiência pessoal para ilustrar, através de um exercício contrafactual - simples, mas poderoso - como as políticas "abelhudas/metediças" da esquerda (o mesmo é dizer, da esmagadora maioria da intelligentzia) acabam quase invariavelmente por produzir resultados opostos àqueles inicialmente propagandeados.
No cerne da visão da esquerda do mundo está a suposição implícita de que mentes nobres e magnânimas - como as dos seus defensores e intérpretes - podem tomar melhores decisões relativamente às outras pessoas do que essas pessoas podem alcançar por si próprias.
Esta arbitrária e infundada asserção está subjacente ao vasto espectro de leis e políticas criado ao longo dos anos, que vai desde a reabilitação urbana ao ObamaCare.
Uma das muitas cruzadas internacionais levadas a cabo pelos "abelhudos" ["busybodies"] da esquerda tem sido a de exercer pressão para limitar as horas de trabalho das pessoas de outros países - especialmente dos países mais pobres - em negócios operados por empresas multinacionais. Um grupo de acompanhamento internacional assumiu a tarefa de assegurar que as pessoas na China não trabalhem mais que as 49 horas semanais legalmente prescritas.
Por que razão grupos de acompanhamento internacionais, dirigidos por americanos ou europeus ricos, poderiam imaginar saber o que é melhor para as pessoas que são muito mais pobres do que eles, e com muito menos opções à sua disposição, é um dos muitos mistérios da elite abelhuda.
Como alguém que saiu de casa aos 17 anos de idade, sem diploma do ensino secundário, sem experiência de trabalho e sem competências específicas, passei vários anos aprendendo da maneira mais difícil o que é realmente a pobreza. Um dos tempos mais felizes durante esses anos foi um breve período em que eu trabalhava 60 horas por semana - 40 horas entregando telegramas durante o dia e 20 horas de trabalho a tempo parcial numa oficina durante a noite.
Por que estava eu feliz? Porque, antes de ter encontrado esses empregos, eu tinha despendido semanas desesperadamente à procura de um qualquer emprego, enquanto as minhas parcas economias minguavam, literalmente, até ao meu último dólar, até ter finalmente encontrado o emprego a tempo parcial, à noite, na oficina mecânica.
Eu tinha que andar vários quilómetros da pensão onde morava no Harlem até à oficina que ficava logo abaixo da ponte de Brooklyn, de modo a poupar até ao último dólar para comprar pão à espera que chegasse o dia de pagamento.
Quando depois encontrei um emprego a tempo inteiro para entregar telegramas durante o dia, o dinheiro conjunto dos dois empregos era mais do que eu alguma vez antes tinha conseguido. Eu pude pagar a renda em atraso que estava a dever pelo meu quarto, e comer e andar de metro na ida e volta do trabalho.
Eu consegui até mesmo pôr algum dinheiro de lado, por precaução, para acorrer a uma hipotética dificuldade futura. Foi a coisa mais próxima do nirvana para mim.
Graças a Deus que não houve abelhudos que me impedissem de trabalhar mais horas do que eles achassem que eu deveria trabalhar.
Havia uma lei do salário mínimo, mas isto passava-se em 1949 e os salários estabelecidos pelos Fair Labor Standards Act [link], de 1938, haviam perdido todo o significado devido aos anos de inflação que ocorreram de permeio. Na ausência de uma lei efectiva de salário mínimo, o desemprego entre os adolescentes negros, no ano de recessão de 1949, era uma fracção da que viria a ser, mesmo nos anos mais prósperos da década de 1960 e seguintes.
Como os abelhudos moralmente ungidos elevaram o salário mínimo, a partir dos anos de 1950, o desemprego adolescente entre os negro disparou. Nós tornámo-nos tão acostumados a taxas de desemprego tragicamente elevadas entre este grupo que muitas pessoas não têm ideia de que as coisas nem sempre foram assim, e muito menos que as políticas da esquerda abelhuda tenham tido consequências tão catastróficas.
Eu não sei o que eu teria feito se tais políticas estivessem em vigor em 1949, e me tivessem impedido de encontrar um emprego antes que o meu último dólar tivesse acabado.
A minha experiência pessoal é apenas um pequeno exemplo de como as coisas quando as opções são muito limitadas. Os prósperos abelhudos da esquerda estão constantemente a promover políticas que reduzem ainda mais as opções existentes das pessoas pobres .
Jamais ocorreria aos abelhudos que as empresas multinacionais estejam a expandir as opções dos pobres dos países do terceiro mundo, enquanto as políticas abelhudas estão restringindo as suas opções.
Os salários pagos pelas empresas multinacionais nos países pobres são tipicamente muito superiores àqueles pagos pelos empregadores locais. Além disso, a experiência que os funcionários adquirem ao trabalhar em empresas modernas torna-os profissionais mais valiosos o que conduziu a que na China, por exemplo, os salários tenham aumentado anualmente a taxas percentuais de dois dígitos.
Nada é mais fácil para as pessoas com graus académicos que imaginar que sabem mais do que os pobres e dos sem instrução. Mas, como alguém disse certa vez: "Um tolo pode vestir o seu casaco melhor do que um sábio lho poderá vestir".
1 comentário:
Eduardo,
Excelente selecção de textos. Em particular este último, pela simplicidade e pela clareza na apresentação de factos e respectivo enquadramento argumentativo.
Os intervalos para almoçar deixaram de estar tão perturbados pelo calor. Há quem diga que é do poder das ideias.
Saudações,
LV
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