domingo, 7 de julho de 2013

O quadro mental da esquerda (3)

Continuando a divulgar a série de artigos assinados por Thomas Sowell relativa à explicitação do "Quadro mental da esquerda" (Partes I e II), chega a vez de o autor se pronunciar sobre a grande bandeira da esquerda da batalha da "desigualdade" (o que faz a meu ver de forma sinteticamente admirável), constrastando a retórica inflamada com os resultados concretos de perto de mais de 2 séculos de história e mesmo após o fragoroso colapso dos países comunistas. E porém, apesar dos mais abjectos fracassos e da dimensão sem par dos crimes cometidos, a retórica da  esquerda persiste. Em particular onde antes se reconhecia "The Land of the Free". The Mindset of the Left: Part III .
"O problema fundamental da esquerda política parece residir no facto de o mundo real não se encaixar nos seus preconceitos. Por isso ela vê o mundo real como estando errado nele identificando o que necessita ser mudado uma vez que, aparentemente, os seus preconceitos não podem estar errados.

Thomas Sowell
Uma fonte interminável de injustiças para a esquerda reside no facto de que alguns grupos estarem "sobre-representados" em profissões desejadas​​, instituições e escalões de rendimentos, enquanto outros grupos estão "sub-representados".

De toda a indignação e revolta com que isto é expresso pela esquerda, poder-se-ia pensar que fosse impossível que grupos diferentes pudessem ser simplesmente melhores a fazer coisas diferentes.

E todavia os corredores do Quénia continuam a ganhar uma parcela desproporcional das maratonas nos Estados Unidos, e as crianças cujos pais ou avós vieram da Índia têm vencido a maioria dos concursos americanos de ortografia nos últimos 15 anos. E será que há alguém que não se tenha ainda dado conta que há anos que os principais jogadores profissionais  de basquetebol são negros, num país onde a maioria da população é branca?

A maioria das lentes fotográficas líderes do mundo têm - há gerações - sido projectadas por pessoas japonesas ou alemãs. A maioria dos líderes mundiais no corte de diamantes têm sido ou os jainistas da Índia ou os judeus de Israel ou de outros lugares.

Não só as pessoas mas também as coisas têm sido manifestamente desiguais. Mais de dois terços de todos os furacões no mundo inteiro ocorrem no centro dos Estados Unidos. A Ásia tem mais de 70 picos montanhosos de altitude superior a 6000 metros e a África não tem um único. Constituirá notícia o facto de que uma parcela desproporcional de todo o petróleo do mundo se situar no Médio Oriente?

Livros inteiros poderiam ser escritos acerca dos desiguais comportamentos ou desempenhos das pessoas, ou acerca das desiguais configurações geográficas em que raças inteiras, nações e civilizações se desenvolveram. No entanto, os preconceitos da esquerda política marcham intrépidos, proclamando razões sinistras para justificar o facto de os resultados não serem iguais entre as nações como no seio de cada nação.


Todo este melodrama moral tem servido como pano de fundo à agenda política da esquerda, que alegou ser capaz de retirar os pobres da pobreza e, em geral, fazer do mundo um lugar melhor. Esta reivindicação vem sendo proclamada há séculos em países por todo o mundo. E ela tem falhado há séculos nos países por todo o mundo.

Alguma da retórica mais arrebatadora e espectacular da esquerda ocorreu na França do século XVIII, onde o próprio conceito de esquerda se originou no facto de que as pessoas com certos pontos de vista se sentarem no lado esquerdo da Assembleia Nacional.

A Revolução Francesa constitui a sua chance de mostrar o que poderiam fazer quando obtiveram o poder que buscavam. Em contraste com o que prometeram - "liberdade, igualdade, fraternidade" - o que eles realmente produziram foi a escassez de alimentos, a violência das multidões e poderes ditatoriais que incluíram execuções arbitrárias, que se estenderam até mesmo aos seus próprios líderes, como Robespierre, que morreu sob a guilhotina.

No século XX, a visão mais radical da esquerda - o comunismo - espalhou-se por vastas regiões do mundo e abrangeu bem mais de mil milhões de seres humanos. Destes, milhões morreram de fome na União Soviética sob Estaline e dezenas de milhões na China sob Mao. Versões mais brandas de socialismo, com planeamento central das economias nacionais, enraizaram-se na Índia e em várias democracias europeias.

Se os preconceitos da esquerda estivessem correctos, o planeamento central levado a cabo por elites educadas com enormes quantidades de dados estatísticos à sua disposição, peritos prontamente disponíveis e apoiados pelo poder do estado, deveriam ter sido mais bem sucedidos do que as economias de mercado onde milhões de indivíduos prosseguiram os seus próprios interesses individuais de forma "anárquica" [aspas minhas].

Mas, nos finais do século XX, mesmo os governos socialistas e comunistas começaram a abandonar o planeamento central e a permitir uma maior concorrência de mercado. E todavia, esta capitulação tranquila às realidades inescapáveis ​​não acabou com as reivindicações ruidosas por parte da esquerda.

Nos Estados Unidos, essas reivindicações e políticas atingiram novos patamares, simbolizados pela tomada de controle governamental de sectores inteiros da economia e por  intrusões sem precedentes na vida dos norte-americanos, dos quais o ObamaCare [link] apenas tem constituído o exemplo mais óbvio.
(Continua)

2 comentários:

JS disse...

Excelente Serviço -para um mais que indiferente- Público.

Ps. Leitura não recomendável a autores da "Constituição" cá do bairro e Juízes do respectivo tribunal.
Uma questão de "equidade"...

BC disse...

Excelente resumo. E verdadeiro para todo o tipo filosofia política divorciada da realidade.

Troquemos a palavra esquerda por religião e o texto não perde lógica.

A verdade é que as pessoas não gostam de exercer a liberdade individual e encarar a realidade. Estão receptivas a interpretações demagógicas da realidade que aliviem a percepção que têm desta.