quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Perspectivar

Odisseia pelo Espaço e pelo Tempo

“Metafísico. Mas toda a vida é uma metafísica às escuras, com um rumor de deuses e o desconhecimento da via como única via.”

Fernando Pessoa, "Livro do Desassossego", #158 - O Rio da Posse.


Nicolas Rivals


Aproxima-se o final de mais um ano e os momentos de balanço vão visitar-nos. Para estimular o exercício de perspectiva e contextualização, propomos uma grande citação, uma enigmático-sugestiva imagem e uma proposta musical experimentalista o suficiente.
Que as nossas odisseias possam ser muito ricas. E as perspectivas sobre o futuro em que seremos, mais nobres e livres.

Saudações a todos.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Tempo(s)


Edelmann


Reiterando, teimosamente, a ideia de que a realidade se-nos apresenta rugosa, assimétrica e plena de dimensões sombrias, desafiadora, esta exige-nos uma boa dose de sentido crítico.

Aos leitores do Espectador Interessado, os seus autores desejam Festas muito Felizes.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Realidades domesticadas

Um exagero até que...

Por aqui, há algum tempo que acompanhamos os mercados dos metais preciosos. Esse interesse foi sempre acompanhado de uma constatação fundamental: o mercado dos metais preciosos, especialmente os monetários, não pode estar a funcionar livremente. A medição do seu valor em papel-moeda não pode estar a resultar das dinâmicas da oferta e da procura.
O que se entende, pois sendo as verdadeiras constantes da medição de valor - historicamente testadas e comprovadas -, os metais desafiam os ímpetos manipuladores dos curadores de serviço. Pelo que denegrir o único instrumento que pode espelhar, com mais fiabilidade e estabilidade, as preferências económicas é algo que apraz aos mesmos curadores. A bem de manter o jogo da roleta.

Ao longo dos últimos anos, muitos são os casos que se tornaram públicos de bancos e agências de investimento que são acusadas de conluio para manipular os respectivos mercados. Sejam as taxas interbancárias ou os custos associados a certos serviços bancários e financeiros. Destes, vamos tendo notícia nos episódios da narrativa colectiva que os meios de comunicação vão publicando. Mas e aqueles?
Por que razão não são escrutinados os episódios de descarada manipulação dos metais monetários? Se eles representam - para aforradores, empresas ou estados - um referencial de segurança e fiabilidade financeira tão relevante?

Sinal da importância em referir estes casos, sempre foi a tradicional reacção de quem os quer desvalorizar. Em particular quando se lê, ouve e vê descrever o interesse acerca destes casos como exclusivo de pessoas com motivos obscuros, que se divertem a tentar descobrir teorias de conspiração em qualquer acção dos governos, e por aí fora. Aliás, o facto de alguém ter interesse em poupar através dos mesmos metais recebe a mesma reacção.
Talvez desconheçam estes arautos da realidade normalizada que este tópico, como poucos, toca tão fundo nas tensões valorativas entre Liberdade e Igualdade, entre Diferença e Totalitarismo, progresso e estagnação (económica e cultural).

Duvidam os leitores que os comunicadores desta realidade normalizada conhecem o que se passa? Que estão calados ao serviço, isso sim, de causas obscuras?
Oiçam-se os primeiros segundos deste pequeno vídeo que publicamos abaixo. A comunicadora diz: "Já sabemos que isto acontece...". Se já sabem, porque se entretêm a desvalorizar, a esconder, a não oferecer destaque na análise cuidada, crítica e livre este tema? Por que razão recorrer à acusação ou à condescendência?
Deve ser, precisamente, pela importância do tema. Pela necessidade de conter e guiar a Narrativa Oficial.
É quanto baste para o trazer à atenção dos nossos leitores.

Faz-se referência também a um excelente artigo de um conhecedor do mercado dos metais preciosos Bron Suchecki e a uma recolha de materiais acerca do mais recente contributo que o Deutsche Bank (exactamente um dos que foi apanhado este ano a fazer patifarias e que agora faz de informador) forneceu para esta investigação (aqui).
Para não esquecer o já clássico livro de Dimitri Speck, "The Gold Cartel", onde se efectua um estudo estatístico e circunstanciado das manobras de entorse ao mercado de metais preciosos. Pelos suspeitos do costume.



sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

A versão contemporânea da guilhotina humanitária

Rui Ramos está preocupado com o alheamento ("humanitário", claro) que antevê por parte do mundo ocidental com o fim da Pax Americana, que a expulsão dos terroristas (ele preferirá "rebeldes") de Alepo-Leste seria um seu indício, agora que Donald Trump protesta a sua vontade de acabar com a já antiga política de "mudança de regime", entretanto abertamente prosseguida com inaudita veemência no século XXI.

Pois desde a década de 1990 que o poder imperial não tem tentado fazer outra coisa. Desde os Balcãs e o Cáucaso na década de 1990, para onde caminharam os então excedentários "combatentes da liberdade" no Afeganistão, que logo aí se exercitaram no corte de cabeças, até ao paroxismo após o 11 de Setembro. Com o retomar da guerra no Afeganistão, agora contra os Talibã, e desencadeada que foi – na base de uma mentira convenientemente fabricada – a desastrosa (ou criminosa?) guerra no Iraque, os antigos “combatentes da liberdade” retomaram o seu estatuto de terroristas, até que tornaram à condição de “combatentes da liberdade” quando deram jeito. Primeiro na Líbia para ajudar ao derrube de Kadhafi e depois na Síria para alimentar convenientemente a farsa de uma “guerra civil”.

No ínterim, sob a inspiração teórica do cientista político Gene Sharp, decorreu toda uma longa campanha de “golpes suaves” que se iniciou em 2000 com o derrube de Slobodan Milošević pela actuação da Otpor (‘Resistência’, em sérvio). Aí foi criado o template e o conjunto de formadores para os activistas das revoluções coloridas (Geórgia, Ucrânia, Quirquistão, Birmânia) com a prestimosa ajuda de numerosas NGO, entre as quais a generosamente financiada OSI de George Soros. Este template, com a ajuda das novas tecnologias, esteve depois presente nas “primaveras árabes” com os resultados que se conhecem, e onde gigantes tecnológicos como a Google, o Facebook e o Twitter cumpriram papéis relevantes (no caso desta última, chegou ao ponto de ajustar as horas de manutenção da plataforma!).

Estamos assim, quinze anos volvidos sobre a “guerra ao terror”, com sete (7) países a serem bombardeados com regularidade – Afeganistão, Paquistão, Iraque, Síria, Líbia, Iémen e Somália. Só no Afeganistão e no Iraque estima-se que o custo das intervenções militares seja da ordem dos seis milhões de milhões de dólares (um ‘6’ seguido de doze zeros). As vítimas contam-se pelas dezenas de milhões, entre mortos, feridos e deslocados. Os países atingidos viram as suas infra-estruturas quase totalmente destruídas, o que significa longas décadas de reconstrução. E o que têm os intervencionistas e os supostamente afligidos por questões humanitárias para mostrar? Que Saddam Hussein e Kadhafi estão mortos?

É disto que Rui Ramos já está nostálgico? Do não alheamento ocidental?

sábado, 10 de dezembro de 2016

Radar

No seguimento dos nossos artigos acerca da manobra de ilegalização e mudança de mais de oitenta por cento do papel moeda na Índia, deixamos aqui uma ligação para um conjunto de relatos do que se passa, efectivamente, na sociedade indiana por estes dias (ver aqui).
Depois do beneplácito dado por Rogoff, a ideia decerto ganhará adeptos mais intensamente numa Europa falida e refém de políticos desejosos de "novidade tecnológica" para fazer disparar o crescimento.
De quê, saberemos depois.