segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Realidades domesticadas

Um exagero até que...

Por aqui, há algum tempo que acompanhamos os mercados dos metais preciosos. Esse interesse foi sempre acompanhado de uma constatação fundamental: o mercado dos metais preciosos, especialmente os monetários, não pode estar a funcionar livremente. A medição do seu valor em papel-moeda não pode estar a resultar das dinâmicas da oferta e da procura.
O que se entende, pois sendo as verdadeiras constantes da medição de valor - historicamente testadas e comprovadas -, os metais desafiam os ímpetos manipuladores dos curadores de serviço. Pelo que denegrir o único instrumento que pode espelhar, com mais fiabilidade e estabilidade, as preferências económicas é algo que apraz aos mesmos curadores. A bem de manter o jogo da roleta.

Ao longo dos últimos anos, muitos são os casos que se tornaram públicos de bancos e agências de investimento que são acusadas de conluio para manipular os respectivos mercados. Sejam as taxas interbancárias ou os custos associados a certos serviços bancários e financeiros. Destes, vamos tendo notícia nos episódios da narrativa colectiva que os meios de comunicação vão publicando. Mas e aqueles?
Por que razão não são escrutinados os episódios de descarada manipulação dos metais monetários? Se eles representam - para aforradores, empresas ou estados - um referencial de segurança e fiabilidade financeira tão relevante?

Sinal da importância em referir estes casos, sempre foi a tradicional reacção de quem os quer desvalorizar. Em particular quando se lê, ouve e vê descrever o interesse acerca destes casos como exclusivo de pessoas com motivos obscuros, que se divertem a tentar descobrir teorias de conspiração em qualquer acção dos governos, e por aí fora. Aliás, o facto de alguém ter interesse em poupar através dos mesmos metais recebe a mesma reacção.
Talvez desconheçam estes arautos da realidade normalizada que este tópico, como poucos, toca tão fundo nas tensões valorativas entre Liberdade e Igualdade, entre Diferença e Totalitarismo, progresso e estagnação (económica e cultural).

Duvidam os leitores que os comunicadores desta realidade normalizada conhecem o que se passa? Que estão calados ao serviço, isso sim, de causas obscuras?
Oiçam-se os primeiros segundos deste pequeno vídeo que publicamos abaixo. A comunicadora diz: "Já sabemos que isto acontece...". Se já sabem, porque se entretêm a desvalorizar, a esconder, a não oferecer destaque na análise cuidada, crítica e livre este tema? Por que razão recorrer à acusação ou à condescendência?
Deve ser, precisamente, pela importância do tema. Pela necessidade de conter e guiar a Narrativa Oficial.
É quanto baste para o trazer à atenção dos nossos leitores.

Faz-se referência também a um excelente artigo de um conhecedor do mercado dos metais preciosos Bron Suchecki e a uma recolha de materiais acerca do mais recente contributo que o Deutsche Bank (exactamente um dos que foi apanhado este ano a fazer patifarias e que agora faz de informador) forneceu para esta investigação (aqui).
Para não esquecer o já clássico livro de Dimitri Speck, "The Gold Cartel", onde se efectua um estudo estatístico e circunstanciado das manobras de entorse ao mercado de metais preciosos. Pelos suspeitos do costume.



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