quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A guerra ao cash é uma ameaça à liberdade e é a antecâmara da expropriação

Está em curso uma campanha de desinformação por parte do establishment que visa banir progressivamente a utilização das notas e moedas, começando pelas de mais elevada denominação. A ideia que é vendida ao público é que o dinheiro físico, já só sendo marginalmente necessário, possibilita certas formas de criminalidade - comércio de substâncias proibidas, "lavagem" de dinheiro, actividades terroristas - como ainda permite a subsistência de uma economia paralela de produtos e bens legais (na realidade formada de mercados verdadeiramente livres) e, consequentemente, que as pessoas que dele participam paguem os impostos que são "devidos".
Os media tradicionais papagueiam esta "narrativa" sendo raríssimos os casos que salientam que a eliminação do dinheiro físico - isto é, a sua total digitalização - significaria em primeiro lugar o fim da privacidade pois toda a nossa vida ficaria integralmente exposta nos registos bancários; por outro lado, a possibilidade de expropriação pura e simples das poupanças das pessoas no sistema bancário seria uma tentação irresistível para entidades - banca e estados - que estão falidos ou para lá caminham. O artigo que se segue, da autoria de Simon Black, expõe esta questão de forma entendível para não iniciados e propõe algumas medidas de salvaguarda que cada um poderá seguir.
Esta é uma questão, a meu ver, absolutamente determinante. Tenha medo, caro leitor, e mantenha junto de si o montante em cash que a situação aconselhará a cada um.

17 de Fevereiro de 2016
Por Simon Black

Imagem Sovereign Man
Isto está a começar a tornar-se muito preocupante.

O movimento para a proibição do "cash" ("dinheiro vivo"), e, em particular, das notas de denominação mais elevada como a de 500 euros e a de 100 dólares, está seriamente a ganhar força.

Na Segunda-feira, o presidente do Banco Central Europeu revelou, de forma enfática, estar activamente a ponderar o abandono progressivo da nota de 500 euros.

Ontem [dia 16], um ex-secretário do Tesouro [dos EUA], Larry Summers, publicou um artigo de opinião no Washington Post cujo tema versava sobre o modo de acabar com a nota de 100 dólares.

Economistas proeminentes e bancos juntaram-se ao coro e defenderam o fim do cash nos últimos meses.


O raciocínio é quase sempre o mesmo: o dinheiro vivo é apenas usado pelos criminosos, terroristas e os que fogem ao fisco.

No seu artigo de opinião, Summers refere-se a um novo estudo vindo de Harvard intitulado: "Dificultando a Vida aos Maus da Fita: Em Defesa de Eliminação das Notas de Elevada Denominação."

Esse título, basicamente, resume o pensamento convencional. E o estudo prossegue propondo a abolição, entre outras, das notas de 500 euros e de 100 dólares.

Os autores alegam que "sem serem capazes de usar notas de valor facial elevado, os envolvidos em actividades ilícitas - os 'maus da fita' do título - teriam de incorrer em custos mais elevados e riscos acrescidos de detecção. A eliminação das notas de elevada denominação iria perturbar os seus 'modelos de negócios'."

Pessoalmente acho isto cómico.

Apenas consigo imaginar um bando de burocratas e peritos sentados numa sala fingindo saber o que quer que seja acerca da actividade criminosa.

É um absurdo total. O crime existe desde o início da civilização humana. A criminalidade é anterior ao dinheiro. E continuará a existir muito tempo depois de o tentarem proibir.

Talvez ainda mais hilariante seja o facto de muitos desses estados falidos se terem tornado tão desesperados pelo crescimento económico que agora até consideram a actividade ilegal relativa às drogas e a prostituição nos seus cálculos do PIB, que por sinal são ambas normalmente transaccionadas em dinheiro vivo.

Assim, ironicamente, ao banirem o numerário estes governos irão acabar por reduzir os seus próprios números do PIB.

O que está na realidade por trás disto? Por que é que existe um tão grande movimento para proibir algo que é usado para fins dolosos apenas por uma pequena parte da população?

O dinheiro vivo, ao que parece, é o calcanhar de Aquiles do sistema financeiro.

Os bancos centrais, pelo mundo fora, vêm mantido as taxas de juro em níveis próximos de zero já há quase oito anos.

E apesar de terem criado bolhas enormes e permitido a acumulação de quantidades extraordinárias de dívida, as suas políticas não funcionam.

Especialmente na Europa, a esperança de promover o crescimento económico (e até mesmo a doentia meta da inflação) falhou.

Assim, naturalmente, uma vez que o que têm tentando fazer não funcionou, a sua resposta é continuar a tentar a mesma coisa... em dose maior.

As taxas de juro no continente europeu estão agora negativas.

As taxas de juro japonesas estão agora negativas.

E até mesmo nos Estados Unidos, a Reserva Federal reconheceu que as taxas de juro negativas estão a ser ponderadas.

Os bancos centrais não têm outra opção; aumentar as taxas levará à falência os estados que eles suportam e inviabilizará qualquer incipiente crescimento económico.

Repare-se quão baixas estão as taxas de juros nos EUA - e porém, o PIB do 4º trimestre [nos EUA] praticamente estagnou. Muito simplesmente, não se podem dar ao luxo de aumentar as taxas.

Com o continuar da fraca actividade económica global, os bancos centrais não terão outra opção que não seja a de levar as taxas de juro para território ainda mais negativo.

Dito isto, as taxas de juro negativas serão a destruição do sistema financeiro.

Porque, mais cedo ou mais tarde, se os bancos tiverem que pagar taxas de juro negativas no mercado interbancário e ao banco central, então, em algum momento, irão ter que repercutir essas taxas negativas nos seus clientes.

Muitos bancos já o começaram a fazer, especialmente aos maiores depositantes.

Já assistimos a isto na Europa onde alguns bancos cobram aos seus clientes juros negativos para poupar dinheiro, e, em algumas circunstâncias extraordinárias, pagam a outros clientes para lhes pedirem dinheiro emprestado.

É a loucura total.

Haverá um certo ponto, contudo, quando as taxas de juro se tornarem tão negativas que nenhuma pessoa racional manterá o seu dinheiro no sistema bancário.

A certa altura, as pessoas irão perceber que será melhor levantarem o seu dinheiro e guardando-o sob a forma de dinheiro físico.

Sim, é claro que o cash não gera juros. Mas também não tem que os suportar.

Se o leitor tivesse 200,000 euros na sua conta poupança à taxa negativa de 1%, teria que pagar ao banco 2,000 euros por ano.

É evidente que faria mais sentido comprar um cofre e manter a maior parte desse dinheiro em numerário.

O problema é que os bancos não dispõem desse numerário.

Para começar, não há literalmente dinheiro suficiente sob a forma de moedas e notas em todo o sistema financeiro que dê para pagar mais do que uma pequena fracção de todos os depósitos bancários.

Mais importante, os bancos (especialmente nos EUA e na Europa) são extremamente ilíquidos.

Eles investem a maior parte dos seus depósitos em empréstimos ou títulos ilíquidos, de valor duvidoso a longo prazo, no mais recente estúpido investimento que a moda ditar.

E muitos bancos têm vindo a envolver-se numa mudança substancial do balanço, fazendo rodar os títulos entre o que é designado de "disponível para venda" para "manter até à maturidade".

Este é um truque contabilístico usado para esconder perdas nas suas carteiras de títulos obrigacionistas. Mas isso também significa que os bancos têm menor liquidez disponível para acorrer aos pedidos de levantamento de depósitos dos seus clientes.

O efeito adverso natural de taxas de juro negativas está a empurrar as pessoas para guardar dinheiro fora do sistema bancário.

Todavia, é claro que uma onda de pedidos de levantamento derrubaria este sistema.

Os bancos não querem que isso aconteça. Os governos não querem que isso aconteça.

Mas como os bancos centrais não têm outra escolha que não seja a de continuar a impor taxas de juro negativas, a única opção lógica é proibir o dinheiro vivo e forçar os consumidores a manterem o seu dinheiro no sistema bancário.

Não se engane: isto é, sem sombra de dúvida, uma forma de controlo de capitais. E está a chegar brevemente a um sistema bancário perto de si.

2 comentários:

Vivendi disse...

Bonito bonito era ver as notas associadas ao ouro.

Recentemente adquiri umas notas de escudos dos anos 50 e 60 com a palavra mágica "ouro".

Era o escudo-ouro.

Eduardo Freitas disse...

Caro Vivendi,

Sim, absolutamente. E se no plano nacional um escudo-ouro me parece distante, nada impede que no plano individual se adquira um seguro de protecção aurífera.

Saudações,

EF