sábado, 12 de abril de 2014

Suplantados

Os pessimistas Ocidentais pelos entusiastas Asiáticos

Nos meios de comunicação convencionais ocidentais não há referência aos extraordinários números e dinâmicas relativas ao mercado do ouro físico na Ásia. Não há notícia daquela suplantação entusiástica. A procura pelo dinheiro verdadeiro e sólido para os lados do oriente parece não interessar às centrais de informação na Europa ou nos EUA. Isto não pode ser um acaso. Se tivermos em consideração o que a seguir se apresenta, mais óbvio esse facto se torna. Não pode ser por acaso.
No final apresenta-se uma pequena entrevista para demonstrar como é possível compreender o que se passa na Índia e na China, no que diz respeito à moeda, ao ouro, à economia e à política. Convido os leitores a considerem o que poderá ser diferente, aqui no ocidente, face aos tópicos abordados nessa entrevista.
Nas últimas semanas têm-se tornado públicas análises dos números do mercado dos metais preciosos na Ásia. Para podermos compreender um pouco do que se está a passar, consideremos os seguintes dados:




China – o analista Alasdair Macleod (GoldMoney) afirmou esta semana, em entrevista a Chris Martenson, que os valores da procura chinesa de ouro são muito superiores aos até aqui estimados para o ano de 2013, colocando a fasquia nas 4,000 toneladas (comparar com os números apontados aqui). Desde o início de 2014 até ao final de Março, a China já importou 559 toneladas (30 a 35 toneladas por semana).
Dubai – a intervenção de John Hathaway (Tocqueville Asset Management), durante a Dubai Precious Metals Conference, centrou-se na ideia de que o Dubai cresceu como plataforma de negociação regional de ouro físico, já que por lá passou 40% do negócio mundial de ouro em 2013, com um volume de transacções de 2,250 toneladas anuais. No discurso de abertura da conferência, já Ahmed bin Sulayem (DMCC Exec. Chairman), tinha informado que o valor do ouro transaccionado no Dubai subira de 6 mil milhões de dólares em 2003 para 75 mil milhões em 2013.
Índia – as importações de ouro aumentaram em Março para as 50 toneladas mensais face às 25 toneladas em Fevereiro. O banco central indiano está, neste momento, a aliviar as restrições para a importação de ouro que foram implementadas no ano passado, o que, em ano de eleições, promete ser um bom catalisador para o aumento da procura durante o resto do ano. Esse aumento pode começar já em Maio com as festividades do Akshaya Tritiya. Os hindus consideram que é um dia (este ano a 1 de Maio) muito auspicioso para a aquisição de ouro e para a prática da caridade. Os dados da importação da prata para Janeiro deste ano são de 416 toneladas.

O que estes dados parecem revelar, atendendo à produção mundial (cujo aumento é estável na casa dos 1,5 % ao ano), é que os bancos centrais ocidentais já não possuem o controlo do mercado físico. Só podem manter o controlo da percepção e do sentimento do cidadão ocidental face ao valor e papel do ouro. Esse controlo da percepção é vital para a manutenção da crença de que o mundo em que vivemos - de papel-moeda e dívida galopante - é viável e será sustentável para as gerações vindouras.
Face ao contexto da procura asiática, que sentido faz a supressão do preço do ouro no Ocidente? Regresso inúmeras vezes a esta questão quando estudo as dinâmicas do mercado dos metais preciosos dos últimos anos. É que estas dinâmicas demonstram, inequivocamente, o êxodo do ouro, do Ocidente para Oriente. Invertendo uma tendência histórica com centenas de anos. Tudo isto está a acontecer muito rapidamente, tendo acelerado em 2009.

Será que percebemos por que razão procedem, os bancos centrais, os governos ou os canais de informação convencionais no ocidente, ao controlo da percepção face ao ouro?


6 comentários:

floribundus disse...

herdei, comprei, entreguei ao meu filho

para gosto de papel para os diversos fins meramente higiénicos

LV disse...

Floribundus,

Faz parte dos poucos não suplantados. Muito bom para si e para os seus.

O papel (não higiénico, bem entendido) é útil se tiver em vez de algo tangível.

Saudações,
LV

Vivendi disse...

Quanto ouro já foi descoberto no mundo?

- Como se forma o ouro? Como são descobertas novas jazidas?

- Brasil respondia pela metade da produção mundial de ouro no século 18

Cerca de 163 mil toneladas do metal dourado já foram descobertas desde a Pré-História. Segundo o World Gold Council, conselho formado pelas maiores empresas mineradoras, se todo esse ouro, que totaliza 8 445 m3, fosse fundido e encaixotado, ele caberia em um prédio de cerca de 20 metros de altura, largura e comprimento, ou seja, mais ou menos o tamanho de um edifício de sete andares.

Não se sabe ao certo como a mineração de ouro começou, mas os primeiros indícios são do fim da Pré-História, por volta de 5000 a.C. - foi o segundo metal conhecido depois do cobre. No início, o ouro era encontrado por cima da terra, e bastava peneirar com água para ele aparecer, mas o metal incrustado em outras pedras começou a exigir novas técnicas de extração. No Egito, por exemplo, usava-se fogo para aquecer as pedras e água fria para provocar um choque térmico e rachá-las.

Nada que se compare às sondas usadas hoje.

5000 A.C. | Bulgária

Em um cemitério na Bulgária, arqueólogos acharam as primeiras joias de ouro da humanidade: 3 mil braceletes, colares e brincos. Mas o metal também era usado em objetos do dia-a-dia, como pratos, vasos e canecas. Nessa época, o ouro ainda era um metal comum, apesar de ser mais raro que o ferro ou o cobre Cerca de 18 toneladas Provavelmente, mineração a céu aberto e escavação de galerias

SÉCULO 2 A.C. | Roma

Os romanos desenvolveram a mineração hidráulica, usando canais e rodas de água para ajudar no transporte e na separação dos metais. O Império Romano já usava moedas, criadas pelos reis da Lídia (atual Turquia), no século 6 a.C. Foi aí que o ouro perdeu o valor divino que tinha em outras civilizações, como a egípcia, e virou dinheiro De 180 a 314 toneladas por século

SÉCULO 13 | Mediterrâneo

Após a queda do Império Romano, as minas ficaram em segundo plano. Com o feudalismo, o comércio voltou a ser feito com base na troca de produtos, e o ouro deixou de ter valor de moeda. O Ocidente passou séculos sem descobrir grandes fontes. Quem tinha muito ouro nessa época era o reino de Mali, na África. Em uma peregrinação até Meca, o imperador distribuiu 2 toneladas de moedas de ouro

SÉCULO 16 | América Latina

A América foi descoberta no fim do século 15 e, com ela, muito ouro. Os conquistadores espanhóis encontraram os tesouros das civilizações inca e asteca. Toneladas do metal dourado foram mandadas para a Espanha, mas, assim que as reservas do Peru e do México se esgotaram, os espanhóis se concentraram na prata, achada na Bolívia

SÉCULOS 17 E 18 | Brasil

Os bandeirantes encontraram as primeiras pepitas na região de Minas Gerais no século 17, e, daí em diante, a produção foi tanta que existiam até navios especiais para levar o tesouro até Portugal. O ouro brasileiro estava na superfície, perto de rios e morros - bastavam peneiras ou bateias (bacias) para retirá-lo

SÉCULOS 19 E 20 | África, Austrália e EUA

A grande revolução na extração do ouro só aconteceu nos Estados Unidos, após a revolução industrial: diques, jatos de alta pressão, dinamite, mercúrio e britadeiras para cavar poços. O ouro começou a brilhar em quantidades absurdas na África do Sul, nos Estados Unidos e na Austrália, por volta de 1850

SÉCULO 21 | África do Sul, China, Austrália

Hoje, minas informatizadas, sondas rotativas e prospecção com mapas geológicos facilitam o trabalho, e galerias bem escavadas e ventiladas dão mais conforto aos mineradores. Atualmente, 10% da produção vai para a indústria de tecnologia (tem ouro no celular e na televisão) e farmacêutica - o metal ajuda a curar artrite e rejuvenesce a pele.

LV disse...

Vivendi,

Excelente conjunto de dados. Muito obrigado pela partilha.
Pode dar-me indicação da fonte, por favor.

No entanto, não esqueçamos que o ouro tem uma característica incontornável: é escasso. Não obstante as melhorias na tecnologia, a produção mundial tem sido constante. E, segundo dados do USGS e do WGC, as fontes de mineração estão com qualidade mais baixa (low grade mines) o que faz aumentar a tonelagem de terra trabalhada para extrair um grama de ouro. Será que veremos um peak gold? Não esqueçamos que as supressões do preço do ouro limitam o investimento em novos projectos e vai ter, já este ano, consequências nos projectos existentes, diminuindo a insistência em novas extensões.
Uma palavra acerca da prata: para além da prata ser mais utilizada em suportes tecnológicos que o ouro (tem mais aplicações e mais abrangentes) tem sido negligenciada e não tem sido reciclada. Ou seja, apesar de ser extraída numa escala de 10 para 1 (comparada com o ouro), tem sido gasta e perdida para sempre uma quantidade muito grande. Se tomarmos a relação de 66 para 1 no preço (comparando com o ouro), então vemos que a prata está numa estrada de sentido único: subir e subir muito de preço. Agora quando?
Hmmmm… só os grandes "jogadores" é que sabem.
Saudações,
LV

Vivendi disse...

Caro LV,

Inteiramente de acordo com as suas palavras. E também vejo um enorme potencial na prata.


A fonte:

http://mundoestranho.abril.com.br/materia/quanto-ouro-ja-foi-descoberto-no-mundo

LV disse...

Caro Vivendi,

Obrigado pela referência. Que estudarei com atenção.
Mantenhamos este nosso interesse, esta partilha e a discussão crítica que acompanha a vontade de aprender.
Saudações,
LV