Paul Craig Roberts |
Independentemente do que se pense ou deixe de pensar acerca de Donald Trump, o facto é que nunca antes desta refrega eleitoral, nem mesmo durante os anos da II Guerra Mundial, se verificou uma tão ampla e violenta campanha contra (ou mesmo a favor) um candidato presidencial nos Estados Unidos. Se pensarmos em termos de Ocidente, essa campanha não foi menos virulenta, nem menos enviesada na Europa. Entre nós, não dei conta de um jornal, muito menos de um canal de televisão, que fosse sequer longínquamente neutro na disputa. Não dei conta de um político, de um jornalista que fosse pró-Trump antes de conhecerem os resultados eleitorais, o que, em circunstâncias "normais", seria, até estatisticamente, impossível. Por cá, só dei conta desta expiação. No grande esquema das coisas, a cadeia RT foi - é - a grande excepção. Conhecidas as relações, pelo menos financeiras, com a Rússia de Putin, as acusações à RT, que já vêm desde o seu início, subiram imenso de tom. Tornaram-se até histéricas. Não foi a Rússia de Putin acusada de interferir e mesmo manipular a campanha eleitoral, por exemplo, promovendo ataques informáticos para revelar emails embaraçantemente reveladores? E agora que a media tradicional, foi derrotada fragorosamente pelos novos canais e redes de comunicação, que mais se haviam de lembrar que descobrir websites de "notícias falsas"? De chegar ao ponto de o parlamento europeu acusar a RT de ser um desses canais e "recomendar" intervenções para remediar a irradiação de "notícias falsas"? Paul Craig Roberts ganhou a distinção de ter sido indicado como um dos mais de 200 websites de "mentiras". Resolveu, em conformidade, escrever uma carta a Vladimir Putin cuja tradução me pareceu pertinente. Ei-la:
Vladimir Putin
Presidente da RússiaMoscovo
28 de Novembro de 2016
Caro Presidente Putin,
Agora que o agente da CIA, Craig Timberg, a fazer de repórter do Washington Post, expôs a minha condição de agente russo, estava a pensar se lhe poderia pedir um passaporte russo e um módico de cobertura diplomática, talvez assistente do gabinete de imprensa na embaixada russa em Washington, até que eu consiga sair do país. Dei conta que concedeu um passaporte a Steven Seagal, pelo que estou esperançoso que o facto de ser um agente russo seja tão importante como ensinar artes marciais aos russos.
Não conheço qual seja a mancha remuneratória dos agentes russos, mas pedia-lhe o favor de qualquer soma a que tenha direito me seja depositada num banco russo. Os bancos suíços deixaram de ser úteis uma vez que o governo suíço permitiu que fosse Washington que escrevesse as leis bancárias do país. Talvez me pudesse também ajudar na indicação de um editor que pudesse publicar as minhas memórias — “A Minha Vida Enquanto Espião De Putin”.
Temos que tratar disto imediatamente uma vez que o Washington Post lançou o FBI atrás de mim. Eles ficarão muito zangados comigo por tê-los enganado durante todos aqueles anos em que detive das mais elevadas autorizações de segurança e acessos "Top Secret" quando era um agente russo. Agora, a qualquer momento, o Washington Post pode descobrir que o meu camarada, agente da KGB, Ronald Reagan e eu próprio cortámos os impostos aos ricos com a finalidade de tornar o capitalismo de tal forma opressivo que o povo americano se insurgiria e o derrubasse. Eh, pá, como nós enganámos os esquerdistas!
Lamento que o Washington Post me tivesse descoberto, mas eu não tive culpa. Penso que a fuga de informação tenha vindo de um daqueles Integracionistas Atlanticistas de que você não consegue livrar-se no seu próprio Governo. Melhor seria que confirmasse esta hipótese pois 200 dos websites financiados pela Rússia foram já expostos.
Seria melhor arranjar alguém que me trouxesse o passaporte e a nomeação diplomática. Eu seria detido pela TSA se voasse para Washington para ir buscar os documentos. Uma nomeação diplomática é preferível ao asilo, porque Washington, à semelhança da velha União Soviética, não reconhece o asilo político. Basta perguntar a Julian Assange.
Não permita que os Integracionistas Atlanticistas o convençam que a minha exposição enquanto agente russo não passa de umtruque da CIA para plantar um seu agente junto de si. A minha crítica da política de Washington de fazer crescer tensões entre potências nucleares e o apoio à sua política de redução das tensões não é um disfarce de um espião. Eu prefiro realmente que o mundo não seja feito em pedaços por uma guerra termonuclear. Isto é visto com suspeição nos EUA, mas tenho esperança que seja aceitável na Rússia.
Ansiosamente à espera desse passaporte.
Paul Craig Roberts
2 comentários:
Muito bom.
Inspiração das matrioscas em política. No nível 3 de uma matriosca Hillary aparece Regan. E a logo a seguir à matriosca Trump, muito badaladamente, aparece Hitler. ;-)
Obg.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Matryoshka_Russian_politicians.jpg#/media/File:Matryoshka_Russian_politicians.jpg
Caro JS,
Os tempos vão interessantes. A acumulação de pressões sob as placas tectónicas intensifica-se. Adivinham-se abalos profundos e é provável que a morfologia à superfície se altere radicalmente.
Espectadores continuamos e cada vez mais interessados.
Cordialmente,
Eduardo Freitas
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