sábado, 2 de dezembro de 2017

Cogitações (10)

Um sinal curioso (e perigoso para quem participa, julgo) do estado dos mercados e índices bolsistas é a evolução do preço da moeda criptográfica Bitcoin. Para além da dificuldade em determinar com precisão a que classe de bens pertence, a Bitcoin e o seu preço ilustram bem a natureza do movimento actual dos mercados.

Que outros activos ou investimentos têm semelhantes linhas de progressão do seu preço? Historicamente, conhecem-se alguns casos, mas o final não foi bonito. Muito se pode dizer acerca das razões que podem estar por detrás destes movimentos no preço (tendo ultrapassado os 9 mil euros ou 11 mil dólares na passada semana), ou das respostas que os governos darão a tais "veículos" especulativos. No último ano, por exemplo, na China tornou-se claro que seria um óptimo meio de mobilizar capital para o exterior, escapando às recentes campanhas de Xi para controlar o país, a moeda e os mercados.

O que gostava de sublinhar aqui, a par com esta introdução, é a qualidade deste veículo como solução, como resposta difundida até pelos meios e autores mais técnicos acerca destas matérias (criptomoedas ou novas tecnologias financeiras).
É que um dos fundadores destas ferramentas (neste caso da moeda Ethereum - Vitalik Buterin) alertou recentemente para as limitações que estas soluções possuem para dar resposta às solicitações que esta febre nos mercados parece publicitar a seu respeito. Veja-se a seguinte passagem da entrevista (cujo visionamento fortemente aconselho):

"Se se considerar o número de blocos encadeados (blockchain) que hoje podemos processar, a Bitcoin consegue processar menos de três transacções por segundo, e se conseguir chegar a quatro atingiu o seu máximo de capacidade. No caso da Ethereum tem estado a concretizar cinco transacções por segundo, se chegar às seis atinge também o pico de capacidade."

É na constatação destas limitações que os recentes movimentos de preços destes "veículos" me parecem menos saudáveis.
Para não falar de que até os participantes e conhecedores destas novas tecnologias parecem querer ignorar estas palavras.
Mesmo que se considerem as diferenças entre as moedas criptográficas e as tecnologias que as suportam (de que os blocos encadeados - blockchain -, são um exemplo) face aos múltiplos campos de aplicação possíveis, estas palavras de um fundador não devem ser ignoradas. São um aviso importante.

Será interessante seguir os próximos desenvolvimentos.
Para já, parece haver um novo campo de desenvolvimento de soluções que ultrapassa (já!) estas soluções da moda (sejam da Bitcoin, da Ethereum ou Blockchain). A novidade (da novidade!) chama-se Hashgraph e tem "elegâncias" técnicas que em muito parecem suplantar as suas concorrentes (ao nível do registo e gestão dos diferentes protocolos de informação, bem como as melhorias na justiça e segurança na gestão da rede). O seu fundador é Leemon Baird e a sua empresa conta já com centenas de contratos com uniões de crédito nos EUA.

Há muito a aprender e a velocidade dos desenvolvimentos é estonteante e os riscos (bem como as oportunidades!) podem assemelhar-se a outras épocas e febres tecnológicas, mas o futuro passa por aqui. Sem dúvida.

2 comentários:

Vivendi disse...

A impressão massiva de dinheiro está a criar mais uma bolha que já parece a mania das tulipas.



Quando arrebentarem as Cryptos Tulips irão aparecer as Cryptos Estatais.

Cryptos are a backdoor to central banks abolishing cash and enslaving everyone.

LV disse...

Caro Vivendi,

É comparação frequente ("mania das tulipas" e as criptomoedas).
Não nego a adequação da comparação, porém o que mais preocupação me suscita é, precisamente, a (muito provável) hipótese presente na última frase (em inglês) que escolheu. Que tudo isto não passe de uma "lebre" para testar cenários possíveis na desmaterialização monetária em curso (DMC) e o consequente aprofundamento da centralização económica e financeira.

Rejeitando um pessimismo fácil, se as mudanças a que assistimos no domínio tecnológico não derem lugar a dinâmicas mais descentralizadas e livres (da iniciativa empresarial, dos meios de pagamento, das soluções de segurança informática, dos processos de comunicação, e por aí fora), então não vejo como esta "lebre" possa dar lugar ao "paraíso prometido" pelos seus promotores.

Saudações,
LV