quarta-feira, 4 de abril de 2018

São círculos, senhor.


O novo truque, ou jogo de palavras, que o ministro das finanças sacou da manga é eficaz. Eficaz, pois o escrutínio dos argumentos que suportam o "racional" (notem-se as aspas) da justificação de que a carga fiscal dos portugueses não subiu está ausente. Grande excepção o artigo de Ricardo Arroja.
Só discordaria do título. Não é um cisma aquilo que, julgo, Arroja quer evidenciar. Aquilo que o artigo bem mostra é a natureza da acção e discurso políticos, no que toca a estas ou quaisquer outras matérias. E a dissimulação, o entorse e a manipulação têm lugar central naqueles domínios.
Para mim basta a simples simples constatação do seguinte:

Ainda que a argumentação de Centeno fosse consistente, o que espanta é a ausência da consciência (de muitos, pelos vistos) de que a massa salarial dos portugueses podendo aumentar, também pode, pelo contrário, diminuir. Efectivamente, essa é uma variável sensível e exposta a conjunturas, desempenhos e articulações muito complexas que ninguém está em condições de garantir.
De natureza diversa, a carga fiscal (uma constante), que por decreto se determina e pela força se impõe, tende a ser estrutural, duradoura e inflexível na sua aplicação.

Apenas este detalhe deveria ser suficiente para rejeitar mais este truque dos curadores de serviço. Muito aquém do conhecimento e acutilância que Arroja expõe no artigo que escreve, esta simples estupefacção que aqui se indicou, julgo, seria suficiente para mostrar o abuso na acção e no discurso políticos.

Não há muito se assinalou a circularidade destes truques. Mas essa é a natureza do jogo a que somos obrigados a assistir.
No lado de dentro do círculo. De fogo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sem dúvida. Mas pergunto mais.
São conhecidas as qualificações curriculares que se multiplicam no CV do Sr. Ministro.
Mas as possíveis opções, as diferentes estratégias que apresentam ao PM serão, em última análise, escolha e responsabilidade política exclusiva do PM.

O que se pergunta é (tal como com o ocorreu ao ex-Ministro T. dos Santos) porque será que estes personagens sentem necessidade de vir a público truncando a verdade, descaradamente, mesmo que com certo grau de sagacidade?. A verdade veio logo ao de cima.

Porque não se coibem de, publicamente, evitar pronunciar
aquilo que sabem esta ser discurso totalmente político, enganador, enrevesado, com fins eleitoralistas.

Porque colocam a sua assinatura, quiça envergonhadamente, em afirmações típicas em políticos, mas desadequadas num assaz letrado especialista no tema?.
...
Pelas qualificações que têm, bem que podiam passar bem ao lado de tal servilismo. Mas ser-se assim faustiano por tão discutível preço!.
Ministro das Finanças de uma geringonça socialista / comunista e impotente líder europeu numa União Europeia que não é nem isto nem aquilo.JS