“O que temos visto por esse mundo fora, da Índia aos Estados Unidos da América passando pelo Reino Unido, é a revolta contra o pequeno círculo de funcionários legisladores que não têm nada a perder [no-skin-in-the-game], jornalistas com acesso privilegiado ao poder e essa classe de semi-intelectuais paternalistas com um grau académico de uma grande Universidade [Ivy league, Oxford-Cambridge], ou outra educação de marca, que dizem a todos nós: 1) o que fazer; 2) o que comer; 3) como falar; 4) como pensar... e 5) em quem votar.
O Intelectual Ainda Idiota (IAI) é um produto da Modernidade que se tem multiplicado desde meados do século XX até atingir os máximos de hoje, a par do largo conjunto de pessoas sem coisa alguma a perder [no-skin-in-the-game] que tem invadido muitas dimensões da vida actual. Porquê? Simplesmente porque, na maioria dos países, o papel dos governos é cerca de cinco a dez vezes maior do que era há um século (expresso em percentagem do PIB).
O IAI parece ubíquo na nossa vida, mas ainda é uma minoria e raramente é visto fora de círculos especializados, grupos de reflexão, os meios de comunicação e as universidades – a maior parte das pessoas tem empregos verdadeiros e não há muitas vagas para IAI.
O IAI condena e trata como uma infecção os outros por estes fazerem coisas que ele não compreende, sem nunca compreender que é o seu entendimento que pode estar diminuído. Ele considera que as pessoas devem agir de acordo com os seus melhores interesses, que só ele conhece. Em particular se as pessoas são “bimbas” ou caso falem um inglês suave e tenham votado pelo Brexit.
Quando os plebeus fazem alguma coisa que não faz sentido aos olhos do IAI, este chama-os ignorantes. O que comummente designamos de participação política, o IAI designa de duas formas: “democracia” quando beneficia o IAI e de “populismo” quando os plebeus se atrevem a votar de um modo que contrarie as preferências do IAI.”
Nassim Nicholas Taleb, "Intelectual Ainda Idiota". Tradução e edição nossas.
quinta-feira, 29 de setembro de 2016
Citação do dia (195)
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