sábado, 30 de setembro de 2017

Testemunho histórico-político

"A política da identidade será sempre perdedora"

Partilhamos com os nossos leitores uma longa entrevista a Steve Bannon. Este documento histórico é assaz revelador das mudanças que estão a acontecer no domínio da análise, do exercício e legitimação do poder político.
Se me parece mais rápida a mudança nos Estados Unidos, ela também está a acontecer aqui pela Europa. Mas, atendendo às idiossincrasias europeias neste domínio, poderá revelar-se de um modo mais súbito e, dirão muitos, imprevisto.

Alguns dos temas e problemas analisados são:

- nomes e acções vitais na campanha de eleição de Trump;
- discurso popular ou populista?
- o erro de óptica que a abordagem mediática faz dos males do sistema político americano - atacando alguns agentes (que não encaixem no molde de entorse perceptivo dos media) e defendendo outros (cujas acções não podem, de resto, ser escrutinadas com objectividade);
- as tensões entre o status quo (político, financeiro e económico) e as forças de mudança (populismo e vozes dissonantes);
- as alianças e as obediências no espectro político americano actual;
- os problemas e paradoxos que povoam o partido republicano;
- novos sentidos para as alianças e obediências políticas;
- como se prepararam algumas das armadilhas à campanha de Hillary.

Este é um documento de inegável importância reflexiva. Tanto quanto à frontalidade e clareza na assunção de posições políticas, como da consideração das consequências dessas mesmas posições. Decorre, julgo, das palavras de Bannon o sublinhar de que o domínio da política é necessariamente o domínio da discórdia e do compromisso. Mesmo quando este parece impossível de obter. Recusando-se uma visão pacificadora (asfixiante?), tão intensa quanto paradoxal, do discurso politicamente correcto das democracias ocidentais.
Não será democrático permitir que estas ideias possam ser discutidas e avaliadas publicamente? Sem se recorrer à campanha de difamação, à mentira e ao assassinato de carácter?
Há em mim uma proximidade sentimental e filosófica desta última questão com o presente da situação política espanhola, por força da insistência catalã.
Quando se lêem "análises" destes episódios com títulos "estará tudo louco?", por exemplo, não será isso a inviabilização de uma discussão e de uma análise críticas e livres? Não serão estas análises, precisamente, concretizações de um entorse bem no cerne dos ligamentos democráticos? Num país de pobre tradição de discussão e reflexão críticas, estas análises não serão, precisamente, condicionantes da opinião pública? Em nome, justamente, da salvaguarda da democracia?

Divago?

Importa reflectir. Com sentido crítico.



quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Insidiosos avanços civilizacionais


Manobra reveladora da natureza - a verdadeira, insisto - do sistema democrático em que vivemos. Desconheço, de momento, se o executivo já tomou posição definitiva. Ou se é um balão de ensaio que a imprensa aceita em fazer, libertando sussurros da "voz do dono" para aferir da reacção popular.
A proibição de espectáculos desportivos em dia de eleições é um delicioso vislumbre dos avanços civilizacionais que os democratas têm reservados para nós.
Por que razão se fica por esses espectáculos?
Por que razão não se proíbem os almoços em família?

Ainda chegaremos à obrigatoriedade legal de votar.

Avanços...

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Master Class - Ray Dalio

"Haverá mais intervencionismo"

Partilhamos com os nossos leitores uma extensa entrevista a Ray Dalio de Julho passado. São várias as intervenções que Dalio tem feito acerca do presente económico e financeiro. Inclusive, de modo recorrente, tem partilhado as suas reflexões sobre outros temas (ver aqui, entre outros destaco este artigo).

Não resisto a assinalar a hesitação que Dalio demonstra a responder a certas questões. Contrasta, de um modo fundamental, com a determinação e a certeza de políticos e burocratas. Mas estes não arriscam algo de seu. Não têm "skin in the game".

Alguns dos temas e problemas analisados são:

- os ciclos económicos e o crédito - ciclos curtos e longos;
- o crédito e a moeda - aos bancos centrais só resta manipular mais a moeda;
- a história está cheia de exemplos que importa analisar, mas os responsáveis não parecem estar interessados nisso;
- a máquina económica e os seus processos - crédito, moeda e produtividade;
- a Europa (a sul especialmente) está em dificuldades;
- um trabalhador francês, italiano ou espanhol custa o dobro de um trabalhador americano;
- vêm aí mais programas de facilitamento quantitativo (QE) - os bancos centrais não têm margem para, de modo eficaz e consistente, fazer subir as taxas de juro;
- a arte de investir, segundo Dalio;
- cerca de 70% das compras nos mercados bolsistas são recompras de acções pelas próprias companhias;
- os retornos do investimento (em qualquer classe) serão cada vez menores nos próximos anos.

Boas reflexões.


sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Citação do Dia (200)

"Estes não são tempos normais. As taxas de juro das obrigações alemãs estão tão baixas que até as maturidades a 30 anos, com taxa de 1,14%, traduzem-se em rendimentos reais negativos.

Retornos livres de risco, de facto."



James Grant, "Almost Daily Grant´s", 30 de Agosto de 2017

Tradução e itálicos da nossa responsabilidade.