quarta-feira, 16 de abril de 2014

A fraude da discriminação de género no trabalho

Um dos filões, aparentemente inesgotável, que vem alimentando o intervencionismo estatal é o de uma espécie de meta-guerra perpétua à discriminação onde têm cabido as “causas fracturantes” (muito caras à esquerda caviar e às franjas chiques dos partidos do poder) e, muito em especial, a vastíssima discriminação pelo sexo de género. O recurso ao vocábulário bélico não é em vão. Usando por aferidor o Google, até aqui têm sido pouco mais que esporádicas entre nós as referências à “guerra contra as mulheres”; mas talvez não esteja enganado em antever uma próxima vaga de fundo no Rectângulo. É que do outro lado do Atlântico uma busca por “war on women” devolveu-me 29,8 milhões de resultados. E este resultado não é alheio – é mesmo um dos temas que está a dar nos dias de hoje na América - o apadrinhamento que tem recebido do inquilino da Casa Branca.

O Prof. Mark Perry – que aborda regularmente este tema - há um par de semanas que se vem dedicando a desmontar com denodo uma suposta discriminação salarial de género contra a qual Obama se insurge e pretende combater (o seu post de ontem é particularmente revelador). Tal como Perry, também Thomas Sowell acusa Obama de fraude estatística nesta "guerra". Daí o título do seu artigo de ontem – Statistical Frauds. A mim, confesso, interessa-me bem mais a componente lógica da sua argumentação resumida no convite com que termina o seu artigo e que me motivou a publicar uma sua tradução de minha exclusiva responsabilidade.
15 de Abril de 2014
Por Thomas Sowell

Fraudes estatísticas

A "guerra contra as mulheres" é um slogan político que, na realidade, é uma guerra contra o senso comum.

É a uma fraude estatística que Barack Obama e outros políticos recorrem quando afirmam que as mulheres ganham apenas 77% do que os homens auferem - e que isso se deve à discriminação.

Thomas Sowell
Tratar-se-ia certamente de discriminação se as mulheres fizessem o mesmo trabalho que os homens, durante o mesmo número de horas, com a mesma formação e experiência, e se fossem também iguais nas restantes coisas. Porém, ao longo das últimas décadas, estudos sucessivos têm repetidamente mostrado que não são iguais nessas coisas.

A repetição constante da estatística dos "77%" não altera essa realidade. Apenas tira partido da ignorância de muitas pessoas - algo em que Barack Obama tem sido muito bom em muitos outros temas.

E se se comparassem as mulheres e os homens que são iguais em todas as características relevantes?

Em primeiro lugar, isso raramente é possível porque as estatísticas necessárias nem sempre estão disponíveis para todo o leque de actividades profissionais e para a gama completa de diferenças entre os padrões das mulheres e dos homens no mercado de trabalho.



E mesmo quando as estatísticas relevantes estão disponíveis, é necessária uma avaliação cuidadosa na selecção das amostras de mulheres e homens que sejam verdadeiramente comparáveis.

Por exemplo, algumas mulheres são mães e alguns homens são pais. Mas será que o facto de serem ambos progenitores os torna comparáveis no mercado de trabalho? Na realidade, a disparidade maior de rendimentos ocorre entre pais e mães. Também não há nada de misterioso nisto, quando se pára para pensar neste assunto.

Será surpreendente que as mulheres com filhos não ganhem tanto quanto as mulheres que não têm filhos? Se houver quem pense que as crianças não tomam o tempo a uma mãe, isso só se poderá dever ao facto desse alguém nunca ter criado um filho.

Será surpreendente que os homens com filhos ganhem mais do que os homens sem filhos, exactamente o oposto do que ocorre com as mulheres? Será surpreendente que um homem que tenha mais bocas para alimentar tenha mais propensão para trabalhar mais horas? Ou a aceitar empregos mais duros ou mais perigosos, a fim de ganhar mais dinheiro?

Mais de 90% das pessoas que morrem no emprego são homens.

Não vale a pena fingir que não existem diferenças entre o que as mulheres e os homens fazem nos seus empregos, ou que estas diferenças não afectam o rendimento auferido.

Durante a investigação que fiz sobre as diferenças entre homens e mulheres para o meu livro "Economic Facts and Fallacies" (Factos económicos e falácias), fiquei espantado ao descobrir que os jovens médicos auferiam rendimentos muito mais elevados que as médicas jovens. Mas o espanto deixou de ser tão incrível logo após ter descoberto que os médicos jovens trabalhavam mais de 500 horas por ano que as jovens médicas.

Até mesmo quando homens e mulheres têm empregos com a mesma designação - médicos, advogados, economistas ou qualquer outra coisa - as pessoas não são remuneradas pelo título da sua profissão, mas pelo que elas fazem na realidade.

Retirada daqui
As mulheres advogadas que estão grávidas ou que têm filhos pequenos poderão ter boas razões para preferir um emprego das 9 às 5 num organismo governamental a trabalhar 60 horas por semana num escritório de advocacia muito influente. Mas não faz nenhum sentido comparar os advogados masculinos com as advogadas enquanto grupos, se não se for além das designações profissionais.
A menos, claro, que não se esteja à procura da verdade, mas de pontos de discussão política para excitar os crédulos.

Mesmo quando se comparam homens e mulheres com a "mesma" educação, medida pelos graus académicos universitários, as mulheres geralmente especializam-se numa combinação de temas muito diferente, com um potencial de rendimentos futuros bem distinto.

Embora a comparação entre mulheres e homens de facto comparáveis não seja fácil de concretizar, quando se observam mulheres e homens que são similares em múltiplos factores, o diferencial na remuneração na dimensão sexo reduz-se drasticamente e tende para o desaparecimento. Em certas categorias, as mulheres ganham mais que os homens no mesmo intervalo de características.

Se a estatística dos 77% fosse real, os empregadores estariam a pagar 30% a mais do que teriam de cada vez que contratassem um homem para um posto de trabalho que uma mulher poderia perfeitamente ocupar. Serão os empregadores assim tão idiotas a tratar do seu próprio dinheiro? Se alguém pensa que os empregadores não se importam de pagar 30% a mais do que poderiam fazer, pois trate de pedir ao seu chefe um aumento de 30%!

4 comentários:

Miguel Madeira disse...

Penso que a expressão "war on women" tem a ver sobretudo com as alegações que os Republicanos são contra a contracepção (aposto que a maior aprte das entradas no Google se referem a isso), não com a discriminação laboral

Eduardo Freitas disse...

Caro Miguel Madeira,

Não ponho em dúvida que tal suceda ou, pelo menos, que tal tenha sido até aqui. A minha especulação - a do alargamento ao Rectângulo da expressão - tem apenas a ver com a oportunidade semântica que, creio, não tardará a ser explorada...

Saudações

floribundus disse...

por cá ainda vão no programa
'quanto mais facadas me dás mais gosto de ti'

como no faduncho
'beijo as pedras do chão que ele pisar no caminho'

no 'dia da mulher' houve um ensaio com as trabalhadoras da cgtp

penso que não tarda
começam a faltar causas

Eduardo Freitas disse...

Caro floribundus,

Mas a questão do texto de Sowell é mesmo essa: os espantalhos agitados em certas "causas" - no caso, da discriminação pelo sexo no trabalho - nada tem a ver com a realidade dos factos.

Saudações