domingo, 22 de maio de 2016

Síntese e reconsideração

A propósito do tanto que se tem escrito por aqui acerca dos desvarios dos curadores, o último artigo publicado por Eduardo Freitas (ver aqui), incitou-me a tentar sintetizar os passos essenciais da narrativa em alguns pontos.
E, assim, a acção condicionante dos bancos centrais por esse mundo fora visa:
1) criar inflação
2) implementar taxas de juro negativas
3) fazer crescer artificialmente o PIB através de compras de activos e do aumento da despesa pública
4) eliminar a disponibilidade de moeda física para limitar a poupança.

A reunião deste fim-de-semana do G7 evidencia as dificuldades que aqueles passos, ainda assim, enfrentam. Estes magos agem como se a realidade que recriam (que resulta distorcida e irreconhecível) pudesse ignorar a natureza impossível do que fazem ao tentar a quadratura do círculo. O esforço de dispor livremente de variáveis para alcançar relações e causalidades, funciona apenas nos modelos matemáticos que eles mesmos usam.
As realidades, política e económica, que forçam não são isométricas e escapam - por vezes, de forma bem violenta - às tentativas da sua homogeneização.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Radar

Horas depois de mais uma reunião, a Reserva Federal americana (FED) decidiu sublinhar a hipótese de subida nas taxas de juro já em Junho.
Se não estivéssemos - todos - ainda tentar compreender qual seria a lógica das política financeira e monetária da FED dos últimos oito anos, esta decisão de "aperto" face ao abrandamento económico seria desmascarada como uma contradição. Um testemunho cruel face ao que se tem feito para evitar a crise global. Porto Rico. Alô??

Assim, resta-nos o humor.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Estado da Coisa


A tabela anterior é reveladora. Parte muito importante da dinâmica do mercado do ouro durante 2016 verificou-se na área de investimento. Os números do "conservador" World Gold Council são elucidativos.
Se a isto juntarmos as recentes declarações de reconhecidos gestores de fundos de investimento globais acerca da situação de debilidade perigosa dos mercados financeiros, então a dinâmica aqui sublinhada torna-se facilmente compreensível. 
Sublinho, todavia, a natureza protectora do metal precioso. Um seguro contra a "licenciosidade dos políticos e burocratas". Como a imagem ilustra, eles têm bem mais do que as três setas de Abe e Kuroda.

terça-feira, 10 de maio de 2016

MasterClass - Nassim Taleb

"Anti-frágil é vencer o teste do tempo"

Partilhamos com os nossos leitores uma muito recente palestra de Nassim Taleb na Colômbia. Esta masterclass, promovida pelo Banco de Comércio Exterior, concentra-se na exploração das relações dilemáticas entre os conceitos centrais da obra recente de Taleb - frágil e anti-frágil.

Os exemplos explorados são muito interessantes e desafiam noções instaladas quanto à estabilidade e progresso. Seja das empresas e das economias, seja das tecnologias ou das peças de teatro.
Muito importa considerar na perspectiva que parece resultar da reflexão de Taleb quanto à desvalorização do conhecimento face ao saber-fazer, da episteme face à techne. A ponderar, portanto.

Interessante conclusão do estudo acerca da volatilidade e da adaptação à volatilidade dos sistemas: dois grupos de países; um dos grupos com países com um só governo nas últimas quatro décadas; outro grupo de países com dezenas de governos nas últimas décadas; Conclusão: neste segundo grupo concentram-se os países (e economias) mais resilientes e produtivas. A volatilidade foi negociada com relativa facilidade e êxito.
Um dos exemplos do primeiro grupo é a Síria. Um exemplo do segundo grupo é a Itália.
O argumento faz pensar. O que seria, então, um mercado sem governo centralizado?
Concluo, a partir do próprio Taleb, que seria um excelente exemplar de um objecto anti-frágil.

Promissor.

Boas reflexões.

terça-feira, 3 de maio de 2016

Significativa mudança ou constatação do óbvio?

Publicamos a tradução do artigo de Kenneth Rogoff publicado hoje. A adaptação e sublinhados é, naturalmente, da nossa responsabilidade.
O artigo é, julgo, um reconhecimento muito importante no discurso público. É uma mudança qualitativa no discurso oficial da peça colectiva. Será um momento em que um dos Missionários orienta novas dinâmicas no Jogo? Será uma nova disposição dos Cavalos Furtivos?
Naturalmente, recomendamos a leitura integral do artigo. Sublinhando que se devem considerar as eventuais consequências deste gesto público, num momento tão delicado da conjuntura financeira e monetária internacional. Especialmente no momento de guerra monetária em curso (apesar do recente e muito secreto acordo entre os G20 em Xangai), que tem a reconfiguração do cabaz dos Direitos Especiais de Saque (SDR´s) como pano de fundo.
Muito a considerar, portanto. Boa reflexão.
“Terão os bancos centrais dos mercados emergentes demasiados dólares e ouro a menos? Se considerarmos a economia global e o seu abrandamento e o facto dos mercados emergentes estarem, provavelmente, satisfeitos com quaisquer reservas que consigam reter, aquela pergunta parece despropositada. Mas há uma boa argumentação que se pode apresentar para justificar a mudança nos mercados emergentes para começarem a acumular ouro e isso favorecer o funcionamento suave do sistema financeiro internacional, assim beneficiando todos os intervenientes.(...)

Estou a propor que as economias emergentes dirijam uma porção significativa dos seus triliões de dólares em reservas monetárias externas que actualmente possuem (a China, por exemplo possui reservas oficiais no valor de 3,3 mil biliões de dólares) para ouro físico. E uma mudança de, digamos, 10% das suas reservas para o ouro físico ainda os deixaria longe dos países ricos que possuem 60 a 70% das suas reservas no metal físico. (...)