quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O precipício

Enquanto os media mainstream ocidentais continuam preocupadíssimos com um tal de "precipício fiscal" e assinalam, pressurosos, o sacrifício de Obama para o ultrapassar, é notável o autismo perante a crua realidade. O problema nos EUA, o real, como aqui se assinala, é da ordem dos trillions. Entre nós, à escala, o problema não é menor, constituindo o recente caso Baptista da Silva mais uma exuberante manifestação da alienação que os jornais e as televisões activamente promovem.

Imagem retirada daqui
Patrick J. Buchanan, em "Como o Leviatã engoliu o GOP", é uma das vozes a contra-corrente. Infelizmente, não vejo razões para objectar ao seu pessimismo quanto ao futuro, tanto dos EUA como do Ocidente em geral. A tradução, e eventuais erros nela cometidos, é da minha responsabilidade.
"Deus colocou o Partido Republicano na terra para reduzir os impostos. Se eles não o fizerem não terão qualquer função útil."

O colunista Robert Novak estava falando do partido que abraçou a revolução de Ronald Reagan, que tinha pendurado um retrato de Calvin Coolidge na Sala do Gabinete e posto em prática a redução das taxas do imposto sobre o rendimento para [um máximo de] 28 por cento.

Mas, a bem da precisão histórica, o Partido Republicano não foi aqui colocado para cortar impostos. Desde a infância, na década de 1850, a sua missão era a de deter a propagação da escravidão. De 1865 a 1929, foi o partido das tarifas elevadas. Missão: construir a nação e proteger a indústria dos EUA e os salários dos trabalhadores americanos.

E se a Divindade ordenou ao Partido Republicano que reduzisse impostos, o partido tem tido um registo irregular. Warren Harding e Coolidge cortaram as taxas de imposto dos tempos de guerra de Woodrow Wilson em dois terços, mas Herbert Hoover quase triplicou a taxa máxima.

Sob o presidente Dwight Eisenhower, quando a taxa marginal de imposto estava nos 91 por cento, o Partido Republicano ratificou o New Deal e proporcionou a receita fiscal para equilibrar o orçamento aos níveis elevados de despesa que 20 anos de regime democrático haviam estabelecido.

Richard Nixon seguiu o exemplo. O Medicare, o Medicaid, os vales de alimentos, auxílio à educação, o Corpo da Paz, as dotações às artes e humanidades, todos os programas da Grande Sociedade [de Lyndon Johnson] cresceram - com Nixon acrescentando a OSHA [Agência Federal para a Segurança e Saúde Ocupacional], a EPA [Agência de Protecção do Ambiente], a Comissão para a Segurança ao Consumidor e o Instituto do Cancro.


Reagan cortou as taxas de imposto para mínimos de 50 anos, mas também aceitou novos impostos sobre a gasolina e encargos sobre os salários. George H. W. Bush viria depois a elevar a taxa máxima de volta aos 35 por cento.

George W. reduziu as taxas de imposto, mas levou a cabo duas guerras, criou benefícios aos idosos para os medicamentos e o programa Nenhuma Criança Deixada para Trás ["No Child Left Behind"] por conta do cartão Visa. O líder da maioria, Boehner, está prestes a subscrever taxas de imposto mais elevadas.

Objectivo desta recitação: os republicanos bem podem falar em reduzir o tamanho do governo, em cortar impostos e em orçamentos equilibrados. Mas a história do século passado sugere que o partido tem sido conduzido para o que pode ser descrito como um longo e inexorável retiro.

Quando Coolidge deixou a Casa Branca para o "Rapaz Maravilha" ["Wonder Boy"], como ele chamava a Hoover, a despesa federal era de 3 por cento do produto nacional bruto.
Hoje, ronda os 23 por cento. Adicione-se a despesa dos estados e dos municípios e chegamos aos 38 por cento. Alguém acha que este valor se reduzirá durante as nossas vidas?

Poderá alguém dizer que o Partido Republicano, se é o partido do governo pequeno e dos impostos baixos, tenha ao longo dos últimos 80 anos sido bem-sucedido? Ou será que a América de hoje se parece mais com o país que o socialista Norman Thomas tinha em mente em 1932?

Como, previsivelmente, pode a despesa descer quando, de 2012 a 2030, 75 milhões de baby boomers se irão reformar passando a depender da Segurança Social e do Medicare à razão de 10 mil por cada novo dia?

Como pode a despesa descer quando um milhão de imigrantes legais chega anualmente, 85 por cento dos quais do Terceiro Mundo, em que a maioria não detém as competências académicas e linguísticas ou de aptidão profissional dos americanos?

Esses imigrantes - e, com a "reforma de imigração", de 11 a 12 milhões de ilegais também - serão elegíveis para o Estado Providência, para créditos fiscais no imposto sobre o rendimento, para os vales de alimentos, para os suplementos renda de casa, para o Medicaid [link], o Head Start [link], a escolaridade gratuita até ao K-12 com duas ou três refeições gratuitas por dia na escola, Pell Grants [link] e empréstimos a estudantes para a frequência universitária, formação profissional e cheques de desemprego durante 99 semanas.

Sob Bush e Barack Obama esses programas explodiram. E com 40 por cento de todos os bebés nascidos agora de mães solteiras na América, será que alguém acredita que esses programas irão diminuir?

Quando a grande vaga de imigrantes chegou entre 1890 e 1920, esses programas não existiam. Na década de 1930, o Estado Providência era visto até mesmo por FDR como uma necessidade temporária para superar os momentos difíceis.

O nosso gigantesco Estado-providência de hoje, no entanto, é permanente, como são os milhões de funcionários do governo que o ordenham e o gerem.
Considerem-se as nossas maiores despesas do governo.

Elas seriam, no âmbito nacional, a Segurança Social, o Medicare, o Medicaid, a defesa, a segurança interna e os juros da dívida. Ao nível estadual e local, a educação, o transporte - as ruas, as estradas, os metropolitanos - e a segurança pública.

Se Deus colocou o Partido Republicano na terra para cortar impostos, como é que vamos fazer o seu trabalho em face destas inexoráveis forças para que as despesas aumentem? Podemos ignorar os défices e a dívida explosiva?

Mitt Romney disse que cortar as taxas de imposto levaria a um orçamento equilibrado. Mas quando? Os cortes de impostos de Bush nunca o conseguiram. Os seus défices foram os maiores de sempre, até à chegada de Obama.

Se queremos antever o nosso futuro, devemos olhar para a Europa. Lá, os governos consomem mais de 40 por cento do PIB e, em países como França, quase 60 por cento.

Na Europa, os militares vêm sendo esvaziados. Os partidos políticos enfrentam o repúdio. Os impostos em França atingiram os 75 por cento. Os ricos fogem. As promessas de pensões não são cumpridas. Os salários do funcionalismo público são cortados, os empregados despedidos. O desemprego dos jovens é astronómico. As divisões aprofundam-se, os protestos crescem. Agora, os bancos europeus, temendo a agitação social, começaram a imitar a Fed e a comprar a dívida do regime.

Olhando para o Ocidente ao longo do século passado, o arco da história curva-se em direcção ao socialismo e à insolvência.

1 comentário:

menvp disse...

PRECISAMOS DE TODOS
-> Não precisamos de lamentações sistemáticas... precisamos é de bons mecanismos de controlo... e precisamos que todos os contribuintes estejam atentos.
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Explicando melhor:
- Anda por aí muita CONVERSA DE CONTRIBUINTE PAROLO... que ainda não aprendeu com séculos e séculos de história: o conceito de «político governante» pressupõe um sistema muito permeável a lobbys... e aquilo que importa mesmo... é um sistema menos permeável a lobbys...
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-> Por um sistema menos permeável a lobbys... temos de pensar, não em «políticos governantes»... mas sim... em «políticos gestores públicos» que fazem uma gestão transparente para/perante cidadãos atentos... leia-se, temos de pensar em bons mecanismos de controlo... um exemplo: blog "fim-da-cidadania-infantil".
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Uma Obs:
-> Montes de estudos sobre 'maravilhosas' privatizações de empresas estratégicas (veja-se a GALP... resultado: consumidor a ser roubado a torto e a direito), etc... montes de estudos sobre o BPN, SCUTs, OTAs, TGVs e afins... tudo com o mesmo objectivo: SACAR DINHEIRO AO CONTRIBUINTE!
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MEGA-BURLÕES:
- mega-burlões que controlam a comunicação social... procuram 'mil' vozes... com o objectivo de repetir mil vezes uma mentira... até ela se tornar uma "verdade".