O que será que vê?
Por cá ouve-se dizer que há “sinais encorajadores”, que existe a possibilidade “de uma saída limpa” do programa de ajustamento, mas não se chega à contemplação e discussão dos fundamentos dessa crença. Simultaneamente emergem indicações provocadoras de que há mais ajustamento para fazer. Não é arriscado alargar esta descrição ao espaço europeu. Em Itália, em Espanha ou França estas mensagens mistas devem fazer parte do tecido comunicacional. Elas permitem vislumbrar uma espécie de infecção que alastra inexoravelmente. Uma trama que se adensa constantemente. Como veremos nos trechos seguintes, as relações endogâmicas entre partes da economia (banca) e o estado são cada vez mais intensas, sendo que um lado da mesa “está a acumular todas as fichas”. Ainda se proclama o modelo de estado social, sublinhando a sua vocação redistributiva, como paradigma moral, mas o que esse modelo mostra é, cada vez mais (não poderia ser de outra forma), uma preferência que choca, seguramente, os seus mais intensos defensores. Consideremos, em primeiro lugar:
Por cá ouve-se dizer que há “sinais encorajadores”, que existe a possibilidade “de uma saída limpa” do programa de ajustamento, mas não se chega à contemplação e discussão dos fundamentos dessa crença. Simultaneamente emergem indicações provocadoras de que há mais ajustamento para fazer. Não é arriscado alargar esta descrição ao espaço europeu. Em Itália, em Espanha ou França estas mensagens mistas devem fazer parte do tecido comunicacional. Elas permitem vislumbrar uma espécie de infecção que alastra inexoravelmente. Uma trama que se adensa constantemente. Como veremos nos trechos seguintes, as relações endogâmicas entre partes da economia (banca) e o estado são cada vez mais intensas, sendo que um lado da mesa “está a acumular todas as fichas”. Ainda se proclama o modelo de estado social, sublinhando a sua vocação redistributiva, como paradigma moral, mas o que esse modelo mostra é, cada vez mais (não poderia ser de outra forma), uma preferência que choca, seguramente, os seus mais intensos defensores. Consideremos, em primeiro lugar:
“Os reais factores de melhoria” por Pater Tenebrarum
“Registou-se um importante aumento na compra de dívida soberana por parte dos bancos ao nível dos diferentes estados europeus. O truque parece funcionar como a seguir se elenca (considere-se o caso da Itália):
a) Os bancos compram propriedades que pertencem ao estado (instalações militares obsoletas, edifícios de escritórios, entre outras), pagando com títulos (bonds) do próprio estado.
b) De seguida, o estado aluga essas propriedades aos bancos.
c) Os bancos colocam os títulos dessas propriedades em pacotes financeiros complexos (Asset Backed Securities).
d) Os estados garantem a fiabilidade desses produtos perante o mercado.
e) Os bancos entregam como penhor esses produtos (ABS) no Banco Central Europeu, em troca de financiamento a custos muito baixos (LTRO – Operações de Refinanciamento de Longa Duração) para comprar mais dívida soberana italiana.
f) Repetem esta operação ad infinitum.
Assim, sublinhe-se, o BCE é dono de instalações militares italianas, entre outras coisas.”
A descrição desta operação não pode deixar de causar perplexidade ao indivíduo comum. Ninguém, com intenções sérias ou honestas, iria gerir a sua vida deste modo. E esperar sobreviver.
Contemple-se, agora, o seguinte excerto:
E ainda há quem julgue que a “culpa é dos mercados”?
Afinal, quem decide quem é que fica com as fichas?
Pois...
Contemple-se, agora, o seguinte excerto:
“HFT, Mercados arranjados e o Homem” - Doug Noland
“Na minha perspectiva, o planeamento central que os governos fazem do custo e da quantidade do financiamento nos últimos vinte anos garante que muitas coisas desagradáveis e doentias vão acontecer. Por outro lado, os preços dos bens, em todo o sistema, estão sujeitos a uma avaliação grosseira e desajustada. As percepções do risco estão a tornar-se rígidas, pouco flexíveis.
Para que não haja dúvidas, as taxas e a liquidez arranjadas e geridas centralmente incentivam a especulação perigosa. Aqueles que jogam bem o jogo - em particular os campeões em antecipar as políticas monetárias – crescem e atinjem dimensões inesperadas. Aqueles que têm as melhores relações com os governos (seja nos EUA, na Europa, na Ásia ou nos Mercados Emergentes) possuem uma decisiva vantagem sobre todos nós. E, como um punhado de operadores poderosos domina o mercado, a dinâmica tradicional do mercado cede lugar à especulação própria de um jogo de póquer – com as fichas a encher apenas um dos lados da mesa.”
E ainda há quem julgue que a “culpa é dos mercados”?
Afinal, quem decide quem é que fica com as fichas?
Pois...
4 comentários:
nas escavações de Herculaneum ou Pompeia
encontraram a inscrição sempre actual
'fures cave' ou 'cuidado com os ladrões'
Pelo que li e consegui interpretar, as dificuldades dos que ainda proclamam o modelo de estado social, sublinhando a sua vocação redistributiva, como paradigma moral, mas o que esse modelo mostra é, cada vez mais (não poderia ser de outra forma), uma preferência que choca, seguramente, os seus mais intensos defensores. Os textos seguintes e comprobatórios dizem o contrário, ou seja, desmontam a jogatina entre quem tem e quem tem que se ajoelhar...
Se isto é política e argumento, onde fica a democracia, a razão e os direitos ao retorno dos nossos impostos?
Caro LV,
Não obstante menos interventivo tenho acompanhado o EI, e que interessante é este post que nos revela.
De facto fomos confrontados, no inicio de modo disperso, e presentemente com as eleições à porta, de forma mais amiúde com expressões como "...sinais encorajadores" [para quem?], e até, pasme-se, com esta que se não tivesse ouvido duvidaria, passo a citar "...começa a haver condições para que quem emigrou pense em regressar".[What?????].
Ao ler o seu artigo renovo uma interrogação que me acompanha e que tem haver com este vínculo inatacável - Estado vs Banca. Os tempos passam e existe sempre um modelo financeiro novo a promover, existe sempre uma engenharia baseada numa fórmula mágica [termo que creio assenta na perfeição neste caso, pois remete-nos para o domínio da ilusão] que surge para nos resgatar do buraco, por si só já bastante fundo, e que mais não fará do que dar impulso para cairmos ainda mais.
Como qualquer outro não estou imune às decisões da cúpula governativa e financeira que nos (des)orientam, mas comprometi-me a não estar desatento…servir-me-á de alguma coisa? Se não me desviar da queda pelo menos que me ensine a cair…se possível de pé e sem grandes “mazelas”.
Saudações
Miguel Loureiro,
Muito importante a questão que encerra o seu comentário. O que o artigo "Quem vê de fora" procura mostrar é a natureza da ficção em que vivemos. A narrativa política que intoxica todos os espaços comunicacionais é um fluxo de sentido de sentido único, onde se representam actos de uma peça, há muito, escrita. E estamos todos a marcar o seu passo. Até que ousamos ver a trama por aquilo que ela é (felizmente a internet permite ainda alguma respiração) e reescrever hipóteses alternativas. Os excertos não são apenas a visão de um estrangeiro, são também de quem procura o significado e o alcance das soluções apresentadas no palco da verdade oficial.
Uma palavra rápida sobre a democracia: os excertos também permitem ilustrar as tensões contraditórias (que Karsten & Beckman exploram como mitos) que a democracia comporta entre os salvaguarda dos interesses de uns face à dignidade de outros. Uma boa ideia para um futuro artigo.
SAC,
Muito honram este espaço o seu interesse e a teimosia de "lembrar a importância da Liberdade". Consideremos primeiro as proclamações que pasmam. Sem dúvida, a torrente de (des)informação é de uma magnitude para a qual, há muito, não há tabela de medida. Numa base diária, os meios de comunicação convencionais exercem o seu papel de caixas de ressonância da verdade oficializada, sem sinal de espírito crítico ou curiosidade de procurar as consequências do que se apresenta como soluções de natureza política ou económica.
Em segundo lugar, importa sublinhar a importância, para a actual situação (mas que tem pelo menos cem anos na sua versão corrente) política e económica, da dupla banca-estado. O estado não poderia ser quem é se não fosse a banca (e os mecanismos que ela implementa na sua actividade). Pelo que esta dupla se auto-alimenta e, junta, tudo fará para que o indivíduo comum não veja as coisas tais como elas são: o jogo está combinado desde o início. Porque nem todos têm a coragem de ser teimosos e ousar encontrar para si uma alternativa, vamos sendo empurrados para uma dicotomia/armadilha que serve a actual situação: a acção violenta ou a submissão.
Como se fossem os únicos papéis que, cada um de nós, pode representar.
Ousemos pensar e conjecturar uma narrativa alternativa e demos o nome adequado à actual situação: um jogo de póquer preparado para que uma das partes esteja a acumular todas as fichas.
Apareça sempre.
LV
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