quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A generosidade de roubar a Pedro para dar a Paulo

O título que escolhi para o post talvez não permita uma associação directa às actividades (incluindo as "filantrópicas") de um certo Bernie Madoff. Mas tem. Porque são muitas as semelhanças entre as actividades redistributivas do estado social e o modus operandi daquele. É o que mostra o artigo, de Brandon Dutcher, que me propus traduzir (no qual introduzi alguns links).
7 de Outubro de 2014
Por Brandon Dutcher

O que o governo central e Bernie Madoff têm em comum
(What the Feds and Bernie Madoff Have in Common)

Bernard Madoff
Ao longo dos anos, o condenado Bernard Madoff, responsável pelo esquema ponzi que defraudou os seus investidores, doou "generosamente" milhões de dólares a instituições de beneficência - investigação do cancro, hospitais, teatros, escolas, etc. Pelo menos uma dessas organizações de caridade fez investimentos junto de Madoff, onde os fundos se evaporaram.

Mas Madoff não é o único que dá dinheiro às pessoas após ele lhes ter sido subtraído em primeiro lugar. Os dirigentes políticos de hoje angariam votos e aplausos dando presentinhos ao Zezinho, mas não se dão ao incómodo de dizer que a totalidade da conta vai direitinha para o cartão de crédito do Zezinho.

O ano escolar recomeçou, e "milhares de estudantes mais poderiam estar a usufruir do almoço escolar completamente grátis", noticia Jake Grovum na Stateline, "graças a um programa federal que se iniciou há quatro anos que finalmente se está a expandir a todos os 50 estados". (Finalmente!)



"A expansão é possibilitada pela denominada “Disposição de Elegibilidade Comunitária”, aprovada pelo Congresso e promulgada pelo presidente Barack Obama em 2010 como parte de uma medida mais ampla dirigida à nutrição escolar", noticia a Stateline. Ela veio abrir as portas em cada distrito aos almoços grátis ou de preço reduzido e proporcionar refeições a todos os alunos em cada escola, sem nenhum custo para eles e sem que seja necessário apresentar candidatura, independentemente do rendimento familiar. Nos termos da referida Disposição, o governo federal paga apenas uma parte da expansão, cabendo aos estados pagar o remanescente".

A Stateline acrescenta que o custo final para os contribuintes "é um ponto de interrogação que paira sobre o programa. O Gabinete de Orçamento do Congresso (CBO) estimou em 2010 que mais de 2200 escolas participariam até o final da década, a um custo de mais de 100 milhões de dólares. O CBO estima [agora que] todo o Programa Escola de Almoços Escolares irá custar 11,9 mil milhões de dólares no próximo ano fiscal".

Mas é claro que o Congresso e o presidente Barack Obama não têm 100 milhões de dólares, e não dispõem certamente de 11,9 mil milhões de dólares. Na verdade, de acordo com o Departamento do Tesouro, a dívida pública total do país já ultrapassa os 17,7 milhões de milhões [trillions, no original - N.T.] de dólares. Por outras palavras, Washington tem que devolver 17,7 trillions, nos termos do autor Mark Steyn, "apenas para voltar a não ter nada de nada".

Os nossos dirigentes políticos não são diferentes do sr. Madoff, que admitiu que a sua empresa de investimento pagou aos investidores "com o dinheiro que não estava lá".

Aqui no meu estado de origem, a afiliada da CBS em Oklahoma City informa que "o Departamento federal da Agricultura dos EUA está a fornecer refeições gratuitas às escolas em 52 locais no distrito escolar público de Oklahoma City. As escolas abrangidas são capazes de fornecer o pequeno-almoço e almoço grátis a todos os alunos, e não apenas àqueles que se candidataram a receber refeições gratuitas ou a preço reduzido”.

A afiliada da CBS em Tulsa, provavelmente sem se dar conta de não há almoços grátis, noticia que milhares de crianças em Muskogee "estão a ter acesso a almoço e pequeno-almoço gratuitos, independentemente do rendimento das suas famílias, uma vez que sete escolas de Muskogee estão agora a servir refeições grátis a todos".

Refeições gratuitas para todos. Mais uma pequena intromissão por parte do estado social que provoca o enfraquecimento da família ao assenhorar-se de uma outra das suas funções. Esta evolução deveria ser lamentada; em vez disso, é comemorada.

Afinal, os pais agora "não têm de se preocupar com as refeições a preços acessíveis para os seus filhos", refere com entusiasmo Kim Hall das Escolas Públicas de Muskogee. "Eles podem simplesmente tomar o pequeno-almoço e o almoço gratuitos.”

Um pai de Muskogee referiu que os funcionários da escola lhe disseram que "estavam a retribuir à comunidade". É certo que sim. Madoff também devolveu à comunidade - chegando mesmo a concretizar dádivas generosas para um programa dirigido a alunos carenciados.

Nuns noticiários que vi, os repórteres entrevistaram funcionários governamentais sobre esta nova dádiva e, naturalmente, registaram comentários de pais agradavelmente surpreendidos. Como George Bernard Shaw nos ensinou, "um governo que rouba a Pedro para dar a Paulo pode sempre contar com o apoio de Paulo”.

Pela sua parte, a Stateline pelo menos reconheceu as realidades fiscais, informando que "em alguns casos, a ideia de expandir um programa da rede de segurança a todos os alunos - independentemente da sua situação financeira - foi tida por alguns como irresponsável".

A Stateline citou um porta-voz do distrito escolar de Fort Wayne, no Indiana, que afirmava que "há uma certa percentagem de pessoas que consideram ser isto um excesso e que o governo federal não deveria pagar refeições a todas estas crianças  e que é necessário que os pais têm que ser responsáveis".

O jornalista Roger Friedman observou certa vez que Bernie Madoff "gostava de espalhar" os seus ganhos ilícitos para "conseguir ter uma boa imagem". Isto, evidentemente, é repreensível.

Mas quando a conta do seu cartão crédito tiver que ser saldada, o Zezinho vai descobrir que o resultado não é melhor quando é o governo a fazer exactamente a mesma coisa.

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