quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Radar

Alan Greenspan, em entrevista no WSJ: "Nunca experimentámos nada de semelhante a isto [a política monetária da Fed desde Bernanke e Yellen], pelo que não vou agora, sentado aqui, dizer qual irá ser o resultado" e, mais à frente, "[p]enso que a pressão efectiva irá ocorrer não por iniciativa da Reserva Federal mas pelos próprios mercados". Pelo meio vai aconselhando o ouro como um bom veículo de investimento nos tempos que correm. Sinais...

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro Eduardo,

O que pensa deste artigo?

http://observador.pt/2014/10/29/quer-poder-apalpar-sua-riqueza-nem-pense-em-comprar-ouro/

KK

LV disse...

KK,

Sem prejuízo de obtermos também uma resposta por parte de Eduardo Freitas, endereço-lhe a seguinte observação:

Os artigos que o Observador está a publicar - comemorando a poupança - são desiguais na qualidade. Para além das apreciações técnicas (produtos financeiros, compreensão da natureza das vicissitudes da economia técnica) que correspondem ao que se vai publicando por cá, supreendeu-me que o Observador não procurasse uma visão contrária ao hino reinante do sucesso da financialização da economia.

O artigo que está na ligação que colocou mostra bem o que se passa no que resta do mercado dos metais preciosos em Portugal. Mas é injusto para os poucos operadores que são sérios e não têm nada que ver com o que é descrito no artigo. O que me choca, muito sinceramente, é que também o Observador jogue este jogo de denegrir este mercado. Servindo, justamente, a financialização da economia. Recupero de memória um artigo de Simon Black - que esteve por Portugal este Verão - e disse que encontrou grandes oportunidades (que concretizou!) na aquisição de moedas em metais preciosos em Lisboa.

É verdade que muitos operadores não têm respeito pelos clientes, mas isso faz parte do mercado. O cliente diligente, prudente e informado vai encontrar o que procura. Com prémios que podem ser mais elevados do que os praticados por operadores estrangeiros, mas nada como o que é descrito na peça. O que falta, e isso é inegável, é mais competição nesse mercado.

Agora concluir - como faz o Observador - que "nem se deve tocar" no ouro... talvez estes artigos possam agitar as águas e promover as mudanças que faltam. Quem sabe?

Apresentar como alternativa um produto de investimento em ouro em papel é muito pobre. Por duas razões, pelo menos.
Em primeiro lugar, estes produtos são objecto de escrutínio cada vez maior, pois os dados surpreendem quanto às quantidades de metal que cada comprador possui. Não sei, honestamente, se é o caso do SPDR (apresentado no artigo), mas alguns destes "prestigiados" produtos em papel estão alavancados de 70 a 100 títulos/acções para cada onça de ouro. É um castelo de cartas. Que pode ser bom aproveitar por algum tempo, mas os riscos existem e são cada vez mais sérios.
Por outro lado, existem alternativas de aquisição física dos metais (allocated accounts) a custos muito acessíveis com guarda em local seguro. E onde os clientes têm garantida a liquidez do seu investimento (quando querem vender, fazem-no rápida e facilmente), sem riscos de terceiras partes ou responsabilidades associadas ao "domínio dos produtos de papel".

E já nem falo que o ouro BATE POR MUITO qualquer outro produto de investimento disponível. Alargue-se a janela temporal e a diferença é esmagadora. Agora, se alguém considera que vai investir (em vez de poupar), então tem de estar disponível para estar à mercê das flutuações do mercado. E se apanha anos maus, plenos de intervenções escondidas, então andará angustiado, sem dúvida.

Concluindo, a investigação é muito pobre. Mesmo por quem é profissional pago para a fazer.

Saudações,
LV

Eduardo Freitas disse...

Caro KK,

Depois do comentário anterior do meu colega de blogue, pessoa particularmente conhecedora nestes domínios, pouco resta que consiga acrescentar.

Uma nota apenas para sublinhar a posição especialmente patética de quem veicula a velha ladainha de que o "ouro não gera rendimento". E daí? Significará isso, por exemplo, que a constituição de um depósito a prazo ou a subscrição de títulos de dívida pública, que geram "rendimentos" reais negativos ou perto de zero, após impostos e alta dos preços (e que estão longe de estar isentos de risco), são instrumentos superiores ao ouro na protecção da poupança de médio e longo prazo? Só a preguiça e um enviesamento doutrinário doentio podem explicara enunciação de semelhante hipótese.

A preguiça, conjugada com a atitude "Maria-vai-com-as-outras" é, de facto, uma doença infantil excessivamente comum nos jornalistas.

Triste que tudo isto ocorra a propósito da comemoração do Dia da Poupança. Em rigor, o que alguns gostariam de comemorar abertamente seria o dia da Destruição da Poupança em reconhecimento dos seus porfiados - e bem-sucedidos, diga-se - esforços na prossecução de tal desígnio. Isto, a par da incessante promoção de “activos” de toxicidade e risco cada vez mais acentuados.

Saudações,

Eduardo Freitas

Anónimo disse...

Boas Noites

Só não concordo quando o LV diz "E já nem falo que o ouro BATE POR MUITO qualquer outro produto de investimento disponível. Alargue-se a janela temporal e a diferença é esmagadora."
Basta olhar para estes 2 gráficos para entender que há outras alternativas bastante mais rentáveis.
http://www.macrotrends.net/1333/gold-and-silver-prices-100-year-historical-chart

http://stockcharts.com/freecharts/historical/djia1900.html

Mas considero ouro fisico uma mais valia na carteira de um investidor (quando comprado racionalmente e não emocionalmente) pois quando a tranparência não é das melhores e falta confiança num sistema monetário/financeiro será concerteza um dos primeiros refúgios para quem quiser proteger as suas poupanças num mundo de moedas fiduciárias.

nnik

LV disse...

Caro Anónimo/nnik

Nas ligações que indicou estão expressas, com clareza, as alternativas mais rentáveis? Duvido.
Não estão, pelo menos nas tabelas que indica, relações que permitam inferir que "há outras alternativas bastante mais rentáveis".
Se quiser guiar-me na compreensão do seu raciocínio, faça o favor.
No entanto, e para conferir mais espessura, digamos, à compreensão da evolução dos valores e relações entre bens e investimentos, permita-me conduzir a sua atenção para artigo recentemente publicado aqui no Espectador Interessado (aqui: http://espectadorinteressado.blogspot.pt/2014/10/valor.html), em particular os valiosos vídeos aí apresentados.

Muito importante, do meu ponto de vista, é a ideia subjacente no último parágrafo do seu comentário. Para além da visão do ouro como investimento, importa compreender o seu papel como reserva de valor e como seguro face às experiências, criminosas e perigosas, de âmbito monetário ou financeiro (e não apenas face à falta de transparência). Não esquecendo a consideração de que, sendo de valor universalmente reconhecido (veja-se Greenspan, aqui: http://espectadorinteressado.blogspot.pt/2014/10/regra-de-ouro.html), a posse e uso dos metais preciosos são um antídoto sem igual para os desmandos dos iluminados e uma ferramenta determinante na defesa da liberdade.

Saudações,
LV