segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Um presente pleno de recorrências

Podemos apenas sonhar

Arrisco dizer que, mesmo quando possuíamos o escudo, nenhum parlamentar português expressou, de modo frontal e oficial, a verdadeira natureza do sistema monetário em que vivemos.
A Suíça fará um referendo no dia 30 de Novembro do corrente ano - "Swiss Gold Initiative". Aquilo que os cidadãos suíços são convidados a considerar, a discutir e a decidir é se o seu banco central deve ou não adoptar a política que abandonou há uma década e meia, isto é, se o banco deve ou não ter 20% do seu balanço garantido por reservas de ouro. Ainda assim, esta "Iniciativa do Ouro" peca por defeito, pois os suíços possuíam reservas de ouro de 40% até aos anos noventa, momento em que o Banco Central Suíço se juntou aos restantes bancos centrais nas políticas de deterioração orientada do mercado do ouro e do papel deste como "aliado na defesa dos direitos de propriedade".
Este breve vídeo é a apresentação dessa iniciativa às instâncias políticas suíças.
Presentemente imersos num obscuro, estratificado e centralizado bloco económico, os portugueses podem apenas sonhar que um tal discurso ocorresse. Como sinal de sanidade e verdadeiro respeito, entre outros, pelos valores da Liberdade e da Propriedade.
Não obstante, que por aí vou dando conta de repetidas referências aos benefícios de um disciplinador monetário, lá isso vou.

7 comentários:

floribundus disse...

moisés Naim; o fim do poder da Gradiva

fragmentou-se em poderes depois da implosão da urss

Diogo disse...

Desculpe deixar aqui esta resposta à sua reposta ao meu comentário ao seu post « Não, a América não é comunista. Só é 70% comunista


Confesso ter interpretado erradamente a substância do artigo. E tem toda a razão: Quigley apresenta a pulsão totalitária e internacionalista de um regime comunista (no pior sentido da palavra).

Quanto ao meu ponto 2 – sobre o futuro próximo (20, 30, 40 anos?),

Antes do advento da tecnologia – vamos considerar antes do neolítico, quando surgiu a agricultura e a pastorícia. O homem não produzia nada. A natureza, sem qualquer intervenção do homem, produzia tudo: todo o tipo de animais e plantas de que o homem se alimentava e todos os materiais que usava para diversos fins. Quanto à propriedade privada, limitava-se a meia dúzia de pequenas coisas pessoais. Ninguém tinha terras e ninguém tinha gado. Eram quase todos nómadas.

Depois, o homem começou a tomar parte activa na produção das coisas de que necessitava. Cuidava dos animais que se alimentava, semeava as plantas e árvores de fruto, fazia ferramentas, construía as suas habitações, etc.

Acontece que, com a tecnologia em evolução exponencial – inteligência artificial, robotização, automação, telecomunicações, - dar-se-á um regresso ao passado. O homem não terá necessidade de produzir nada e a tecnologia produzirá tudo. As fontes de energia podem ser virtualmente infinitas.

Ao homem restará o lazer: ler ou escrever, pintar, fotografar ou filmar, velejar, pilotar carros ou aviões, whatever he wants – as possibilidades são infinitas. O argumento de que o homem necessita de fazer alguma coisa de «útil» para se sentir realizado, não colhe. Pintar um quadro, compor uma música, nadar num rio, pilotar um barco a motor podem ser actividades fascinantes e extremamente recompensadoras.

Quanto à propriedade, os polos produtores completamente automatizados não serão de ninguém. Consoante a capacidade de produção das máquinas, assim será distribuída uma mesada com a qual o homem adquirirá o que lhe aprouver.

Abraço

Diogo

JS disse...

Sim, apenas sonhar.
A Constituição da Confederação Suíça deveria ser leitura, tema de estudo obrigatório, no currículo escolar, antes da idade de "votar".
Claro que a presente "elite" política foje de tal ensino como diabo da cruz. Vergonha.
Saudações.

LV disse...

Caro Diogo,

Não há razão para pedir desculpa. Nem mesmo por me ter atribuído a autoria do artigo: "Não, a América não é comunista. Só é 70% comunista", que é da pena de Eduardo Freitas.
Adiante.

Quanto à sua exposição da evolução tecnológica, a seguinte frase é precisamente aquela que, julgo, mais problemas encerra: "Quanto à propriedade, os polos produtores completamente automatizados não serão de ninguém. Consoante a capacidade de produção das máquinas, assim será distribuída uma mesada com a qual o homem adquirirá o que lhe aprouver."

- De onde pensa que pode vir a energia económica (a produção de riqueza, vá) para promover tais avanços?
- De onde viria a "mesada" que seria redistribuída? De mais uma máquina? A que imprime? E que valor teria esse meio de troca?

Por outro lado, gostava que considerasse que a aquisição e o desenvolvimento de tecnologia está associada à complexificação das sociedades/sistemas. E que esses movimentos de complexificação se foram associando à construção das autoridades políticas - aos estados e às nações. A agricultura e a consolidação das comunidades (a sua complexificação, justamente) vão de mãos dadas. E as autoridades políticas também. Num crescendo que tem custos pagos, a médio e longo prazo, com reduções abruptas (crises) da complexidades desses sistemas. Isto sem negar que o Homem pode, através das suas capacidades e sem se deixar capturar por medos irracionais, produzir alternativas aos constrangimentos que vai encontrando pelo caminho.
Até à próxima correcção.


Caro JS,

Exacto! Discutir seriamente os problemas e as soluções presentes e passadas, diferentes valores e princípios, isso é que não pode ser.
Até porque tal "novidade" equivaleria a um questionar da legitimidade de que se vêem investidos os personagens políticos.
Estou cada vez mais convencido que o cidadão comum faria escolhas muito diferentes, caso pudesse aceder a informação tão importante quanto aquela que a intervenção no vídeo veicula.
Que se busque, por aqui e com participações dos nossos leitores, algo mais do que apenas sonhar.

Saudações,
LV

Lura do Grilo disse...

Peter Shift afirma estar a chegar uma tempestade económica arrasadora

Eduardo Freitas disse...

Luís,

Tenho uma grande expectativa que o resultado deste referendo prossiga a via da sabedoria seguida noutros dois importantes referendos já ocorridos este ano na Confederação Helvética: 1) o chumbo, em Abril, da proposta que fixava um salário mínimo nacional em cerca de 3200 € e, há dois domingos atrás, 2) a derrota da estatização da prestação de cuidados de saúde.

A ser aprovado, isso não constituirá por si só nenhuma revolução, mas creio que constituiria um importante "pontapé" na grande manipulação das percepções.

Saudações,

Eduardo Freitas

LV disse...

Caro Eduardo,

Já somos dois a esperar que os suíços confirmem uma atitude avisada. Ainda que, relativamente a este tema (reservas de ouro), se tenham desviado muito de um comportamento previdente. Veremos se emendam a mão e dão visibilidade europeia a uma mudança que se tem vindo a verificar, de modo muito dissimulado, nas aquisições soberanas de ouro e pedidos de repatriação efectuados no último ano, pelo menos.
Não seria uma revolução, seria apenas um sinal bem forte de que são necessários disciplinadores monetários e seguros face ao mar de papel que teima em ganhar dimensão e profundidade.

Lura do Grilo,

Peter Schiff passou um mau bocado quando alertava para o que ia acontecer em 2007/08, alvo de chacota e má-fé pelos "donos da verdade económica e suas vozes domesticadas". Nem tiveram a humildade de reconhecer o erro, retratando-o. Mas, sinceramente, espero que ele não esteja completamente certo desta vez.
A tempestade pode ser muito mais devastadora.

Saudações a ambos,
LV