Barack Obama tem sido alvo de muitos dos meus posts num registo invariavelmente muito crítico. Talvez se esperasse por isso que esta fosse uma oportunidade para saudar a grande derrota eleitoral que acaba de sofrer nas eleições intercalares. Não é assim. Na frente interna, à parte um ou outro sinal de "diferença" (como o pipeline Keystone), o mais provável é que o garrote da regulação se limite a abrandar o ritmo do seu crescimento e que um programa como o Obamacare seja rebaptizado após sofrer uma qualquer cosmética envolta numa tão vigorosa como vazia retórica. Na frente externa, há todas as razões para temer que o intervencionismo se agrave seriamente (com mais tropas colocadas no "terreno"). Parecem-me assim certeiros os tweets de Ron Paul. O grande Gordon Tullock, falecido na véspera do acto eleitoral, já havia sentenciado a sua opinião quanto à (in)utilidade das eleições neste vídeo de há seis anos atrás (num outro registo, um clip célebre de George Carlin). Sheldon Richman, vice-presidente da Foundation for Economic Freedom, também invoca Tullock no texto que escolhi hoje partilhar e onde expressa o seu pensamento sobre a arrogância dos políticos e a pretensão do conhecimento que lhes subjaz.
Por Sheldon Richman
6 de Novembro de 2014
Eleições 2014 nos EUA: Boas e Más Notícias
Das eleições intercalares de 2014 resultaram duas notícias: uma boa e uma má. A boa notícia é que os vencidos perderam. A má é que os vencedores ganharam.
O jornalista Mike Barnicle diz que nunca assistiu a umas eleições em que as pessoas se sentissem tão distantes da governação. Eu gostava que o diagnóstico dele estivesse correcto, mas suspeito que não esteja. É verdade que a afluência às urnas não terá provavelmente estabelecido recordes para umas eleições intercalares. Mas isso, mais do que um sinal de alienação do processo eleitoral, é um indicador de repulsa para com o elenco particular de incumbentes. Quem não sentiria repulsa?
Sheldon Richman
Apesar do que os eleitores possam pensar, isto não tem nada a ver com a personalidade e o carácter. Respeita antes aos limites da natureza humana. Ninguém está qualificado para nos governar, considerando o que se entende hoje por "governar". Os governos - federal, estadual e local - tentam administrar todos os aspectos das nossas vidas. De várias maneiras, propõem-se "pôr a economia em movimento" e a mantê-la a "trabalhar". Além disso, o governo federal mantém um império global ao serviço do qual o aparelho de segurança nacional tem a pretensão de gerir sociedades estrangeiras.
Mesmo se estas fossem coisas moralmente correctas - que indubitavelmente não são - elas excederiam a capacidade dos seres humanos. Nenhuma pessoa ou grupo poderia possuir o conhecimento necessário à gestão de uma sociedade - esta [a norte-americana – NT] ou outra em solo estrangeiro. Todo o "líder" que se apresente como apto para esse empreendimento é um mentiroso enfatuado. Ninguém está qualificado para fazer o que os políticos de hoje aspiram fazer.
Isto tanto vale para os republicanos como para os democratas. Os republicanos falam em diminuir o estado, mas não acreditam no que dizem. Eles não têm de todo a intenção de diminuir o império norte-americano, muito menos de o desmantelar. Bem pelo contrário. E quando falam em libertar a economia, isso geralmente significa remover restrições a interesses económicos privilegiados sem que também sejam eliminados os privilégios. Os republicanos dão uma má reputação ao livre-mercado porque as suas políticas, com demasiada frequência, não passam de corporatismo descarado. Mas, depois, os democratas não são diferentes. Ambos os partidos têm todo o interesse em manter o essencial do status quo, independentemente das suas diferenças marginais.
É no período eleitoral que mais ouvimos hossanas à democracia. Toda a figura pública, incluindo a do supostamente impassível jornalista, exorta-nos a votar. "Cada voto conta", dizem.
Disparate.
Como o falecido Gordon Tullock explica: "É mais provável que você morra a caminho da cabine de voto, do que ser o seu voto a alterar o resultado das eleições." Pense o leitor nas eleições em que participou. Nem uma teria sido diferente caso tivesse feito outra coisa nesse dia.
Como nenhum voto é decisivo, a maioria das pessoas não têm incentivo para investir tempo e dinheiro para obter o conhecimento necessário para agir de forma responsável no dia das eleições. (A coisa responsável bem poderia ser ficar em casa.) A governação a todos os níveis impõe encargos sobre as nossas actividades económicas - a denominada economia não é mais do que as pessoas e as suas actividades. Quantos eleitores estudam economia para que possam de forma competente avaliar o que os candidatos prometem fazer? E quantos estudam filosofia moral para melhor decidir se as políticas existentes e as prometidas são morais ou imorais? O grande crítico social americano H. L. Mencken afirmou: "Cada eleição é uma espécie de hasta pública antecipada de venda de bens roubados." Como decidir se ele tem ou não razão?
Para de facto se tornar num eleitor informado, não restaria tempo ao leitor para fazer outra coisa que não fosse estudar esses e outros assuntos. Mas uma vez que o seu voto não será decisivo, por que razão iria retirar tempo à família, aos amigos, ao trabalho e às actividades comunitárias voluntárias, onde as suas escolhas são decisivas?
O leitor não o faria, e não o faz.
Além disso, os custos e benefícios associados à eleição dos candidatos em quem vai votar estão dispersos por um sem-número de pessoas, pelo que mesmo que a sua escolha vença, a sua quota-parte é minúscula.
Deste modo, o seu voto não tem praticamente nenhumas consequências materiais a nível pessoal e nenhuma influência no resultado. Por conseguinte, permanecer ignorante e votar de acordo com os seus preconceitos e sentimentos acaba por ser a coisa racional a fazer.
Por outras palavras, votar premeia a irresponsabilidade. Este é apenas um dos problemas da democracia.
No final, a representação democrática - o ópio das massas - é apenas uma maneira de nos impedir de reclamar. Os que se sentam em Washington não são os nossos representantes. São os nossos governantes.
Mas não temais. A alternativa não é a ditadura. É a liberdade individual, a responsabilidade, o contrato, e a ajuda mútua voluntária.
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