sábado, 1 de novembro de 2014

Inflação - estatísticas oficiais e o exemplo do desporto

Por que razão uma decisão de aumentar (ainda mais) a insana impressão de dinheiro digital parece conduzir directamente à acumulação de recordes sobre recordes nos índices bolsistas? Terá o leitor dado conta que, por exemplo, o NASDAQ regressou aos valores que tinha em Março de 2000 quanto rebentou a bolha dotcom? Por que razão assistimos em paralelo ao estabelecimento de novos recordes no mercado da arte? No imobiliário e particularmente na altura dos arranha-céus? E nos mercados desportivos, objecto do artigo de Simon Black que hoje me propus partilhar? Porquê esta inflação direccionada mas galopante dos preços quando, em simultâneo, ouvimos incessantes avisos contra o iminente perigo da deflação?

Por Simon Black
31 de Outubro de 2014

Como as remunerações e passes dos atletas revelam a verdadeira taxa de inflação
(No inflation Friday: How sport salaries reveal the true rate of inflation)

A nova temporada da NBA [principal liga americana de basquetebol profissional - NT] começou esta semana. E com ela uma nova massa salarial para 2014-15. Corresponde a um aumento de 7,5% e atinge agora um nível recorde de 63 milhões de dólares.

Mais um "recorde de todos os tempos" num mundo onde tudo parece estar a chegar à Lua.

A massa salarial na NBA aumentou apenas marginalmente nos sete anos anteriores. Passou de 55,6 milhões de dólares por equipa na temporada 2007-08, para 58,7 milhões em 2013-14, um aumento de 5,6%.

Foto daqui
O aumento agora verificado superou em muito este último. Acréscimos semelhantes têm vindo a verificar-se nos diferentes desportos. Tomemos o desporto mais popular em todo o mundo - o futebol - como um exemplo credível.
Os montantes das transferência e dos salários no futebol subiram acentuadamente, especialmente desde que o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, prometeu fazer há dois anos atrás "o que fosse preciso" para salvar o euro e desde que o Banco da Inglaterra inundou o mercado de libras à taxa de crescimento anualizada de mais de 20% nos últimos anos.

Toda a gente pensou tratar-se de uma aberração gigantesca quando o Real Madrid resolveu pagar 94 milhões de euros em 2009 pela estrela portuguesa do Manchester United, Cristiano Ronaldo, e que esse recorde se iria manter por muitos anos.

No entanto logo foi ultrapassado no ano passado, quando o Real gastou 100 milhões de euros por Gareth Bale, até então jogador do Tottenham. Das dez maiores transferências no futebol de todos os tempos, sete ocorreram desde o Verão do ano passado.

Foto daqui
Vinte clubes da Premier League [o campeonato inglês da primeira divisão - NT] gastaram um recorde de 1,3 mil milhões de dólares durante a última época de transferências de Julho e Agosto. Foi assim afastado o máximo anterior de um pouco mais de mil milhões que tinha sido estabelecido no ano anterior.

O que é particularmente impressionante é constatar como quantias na casa das dezenas de milhões entraram em espiral e são agora facilmente despendidas com jogadores que de modo algum podem ser considerados de topo, como foi o caso dos 100 milhões gastos pelo Zenit de São Petersburgo com Axel Witsel e Hulk, vindos do [Benfica e] do Porto, respectivamente.

Ou os 32 milhões de euros despendidos pelo Real Madrid num praticamente desconhecido Asier Illaramendi no ano passado, como os 40 milhões de euros gastos pelo Manchester United no último Verão com o jogador de 19 anos, Luke Shaw, tornando-o no adolescente mais caro do futebol mundial, que ganha agora cerca de 200 mil dólares por semana no United.

O rápido aumento dos salários dos desportistas bem como dos montantes envolvidos nas suas transferências são apenas mais uma indicação da grande quantidade de dinheiro injectada em circulação pelos bancos centrais de todo o mundo nos últimos anos.

De acordo com o BLS [equivalente ao INE no âmbito do emprego, remunerações e índices de preço ao consumidor – NT], a inflação nos EUA está em 1,7%.

Instintivamente, o leitor sabe que este é um valor que está longe da verdade. Os preços de praticamente tudo estão a  aumentar. Alimentação. Propinas. Cuidados de saúde. Bilhetes de cinema.

Curiosamente, o crescimento dos salários não acompanhou esta evolução (a menos que se seja atleta profissional). Feito o ajustamento à inflação, o indivíduo médio está pior do que estava há 14 anos.

E isto utilizando a taxa oficial de inflação. Se a taxa de inflação fosse hoje calculada da mesma forma como o era até aos anos da década de 1980, ela estaria hoje perto dos 9,4%.

Desde então, o governo mudou a forma como mede a inflação por duas vezes porque uma série de programas governamentais inclui ajustamentos automáticos nos pagamentos por conta do aumento dos preços.

Estão deliberadamente a manter as pessoas mal informadas e a roubá-las.

E os que mais têm a perder são aqueles que na realidade..., sabem, poupam e produzem mais do que consomem, bem como os que vivem de rendimentos fixos - são os que serão mais atingidos pela constante diminuição do poder aquisitivo dos seus dólares.

(...)

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