Rui Ramos está preocupado com o alheamento ("humanitário", claro) que antevê por parte do mundo ocidental com o fim da
Pax Americana, que a expulsão dos terroristas (ele preferirá "rebeldes") de Alepo-Leste seria um seu indício, agora que Donald Trump protesta a sua vontade de acabar com a já antiga política de "mudança de regime", entretanto abertamente prosseguida com inaudita veemência no século XXI.
Pois desde a década de 1990 que o poder imperial não tem tentado fazer outra coisa. Desde os Balcãs e o Cáucaso na década de 1990, para onde caminharam os então excedentários "combatentes da liberdade" no Afeganistão, que logo aí se exercitaram no corte de cabeças, até ao paroxismo após o 11 de Setembro. Com o retomar da guerra no Afeganistão, agora contra os Talibã, e desencadeada que foi – na base de uma mentira convenientemente fabricada – a desastrosa (ou criminosa?) guerra no Iraque, os antigos “combatentes da liberdade” retomaram o seu estatuto de terroristas, até que tornaram à condição de “combatentes da liberdade” quando deram jeito. Primeiro na Líbia para ajudar ao derrube de Kadhafi e depois na Síria para alimentar convenientemente a farsa de uma “guerra civil”.
No ínterim, sob a inspiração teórica do cientista político
Gene Sharp, decorreu toda uma longa campanha de “golpes suaves” que se iniciou em 2000 com o derrube de Slobodan Milošević pela actuação da Otpor (‘Resistência’, em sérvio). Aí foi criado o
template e o conjunto de formadores para os activistas das revoluções coloridas (Geórgia, Ucrânia, Quirquistão, Birmânia) com a prestimosa ajuda de numerosas NGO, entre as quais a generosamente financiada OSI de George Soros. Este template, com a ajuda das novas tecnologias, esteve depois presente nas “primaveras árabes” com os resultados que se conhecem, e onde gigantes tecnológicos como a Google, o Facebook e o Twitter cumpriram papéis relevantes (no caso desta última, chegou ao ponto de ajustar as horas de manutenção da plataforma!).
Estamos assim, quinze anos volvidos sobre a “guerra ao terror”, com sete (7) países a serem bombardeados com regularidade – Afeganistão, Paquistão, Iraque, Síria, Líbia, Iémen e Somália. Só no Afeganistão e no Iraque estima-se que o custo das intervenções militares seja da ordem dos seis milhões de milhões de dólares (um ‘6’ seguido de doze zeros). As vítimas contam-se pelas dezenas de milhões, entre mortos, feridos e deslocados. Os países atingidos viram as suas infra-estruturas quase totalmente destruídas, o que significa longas décadas de reconstrução. E o que têm os intervencionistas e os supostamente afligidos por questões humanitárias para mostrar? Que Saddam Hussein e Kadhafi estão mortos?
É disto que Rui Ramos já está nostálgico? Do não alheamento ocidental?