quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Pat Buchanan: Não nos metamos nas guerras dos outros

Pat Buchanan, em Staying Out of Other People’s Wars, percorrre alguns dos principais focos de tensão que, pelo mundo fora, arriscam vir a desencadear novos e perigosos conflitos armados. O messianismo wilsoniano, que arrastou os EUA para a I Guerra Mundial e lançou os fundamentos para o intervencionismo americano pelas quatro partidas do mundo, permanece hoje bem vivo no seio do que Buchanan, muito justamente, designa pelo "Partido da Guerra". No Verão passado, assistiu-se a um muito improvável recuo por parte dos "falcões" em resultado directo da surpreendente derrota de Cameron no Parlamento britânico e subsequente revolta cívica que impediu que o Partido da Guerra voltasse a vencer na "Terra dos Livres e Lar dos Bravos". Evitou-se assim que a terrível guerra na Síria aumentasse ainda mais a sua intensidade e internacionalização. Falhando Cameron, entretanto, sobrou Hollande, outro membro do Partido da Guerra "de um país que se acostumou a humilhar outros durante 400 anos de guerras e agressões" (palavras de Hunt Tooley) e que reclama a grandeur de outrora. Buchanan termina o artigo exortando os republicanos (enfim, parte deles) a regressar às práticas que já foram as do Grand Old Party. Que o oiçam.

A tradução do texto é da minha responsabilidade assim como da inserção dos links e imagens.
Por Patrick J. Buchanan
7 de Fevereiro de 2014

Não nos metamos nas guerras dos outros (Staying Out of Other People’s Wars)

"Se estas negociações [com o Irão] falharem, há duas alternativas sombrias​​", afirmou o senador Richard Durbin, "um Irão nuclear, ou a guerra, ou talvez ambos".

Patrick J. Buchanan
Os senadores John McCain e Lindsey Graham regressaram da conferência de segurança de Munique declarando que até mesmo John Kerry concorda que a política do presidente Obama relativamente à Síria falhou. Eles exortam à reconsideração do recurso a ataques aéreos.

A Coreia do Norte vem avisando que, caso os exercícios militares anuais entre os EUA e a Coreia do Sul se venham a concretizar no próximo mês de Março, isso poderia significar a guerra, possivelmente uma guerra nuclear.

O presidente das Filipinas, Benigno Aquino III, comparou esta semana a situação do seu país com aquela que, em 1938, enfrentava a Checoslováquia, e as ilhotas sob disputa ao largo da sua costa no Mar do Sul da China, à região dos Sudetas. Tal como Hitler na Europa, Aquino está a dizer que a China está em marcha na Ásia.
Aquino quer que o mundo, ou seja, nós, façamos frente à China.

Em Davos, o primeiro-ministro Shinzo Abe comparou o confronto entre o Japão e a China, sobre as ilhas Senkaku no Mar da China Oriental, às tensões germano-britânicas em vésperas da I Guerra Mundial. Apesar de serem na altura importantes parceiros comerciais, como também sucede hoje com a China e o Japão, afirmou Abe, a Alemanha e a Grã-Bretanha entraram em guerra.

O ministério dos Negócios Estrangeiros chinês acusou Abe de "fazer declarações desta natureza com o objectivo de fazer esquecer o historial de agressão do Japão".

A China ficou enfurecida com a visita de Abe ao santuário Yasukuni onde se veneram  os japoneses que morreram em conflitos, inclusive Hideki Tojo e treze outros condenados por crimes de guerra.

A Ásia hoje é como a "Europa do século XIX, em que o conflito militar não está excluído", declarou Henry Kissinger em Munique.

A advertência de Cal Coolidge quanto a não se entrar em pânico - "Se acaso se der conta da aproximação de dez problemas vindos pela rua abaixo, tenha a certeza que nove irão cair na valeta antes que os atinjam a si" - é com frequência um sábio conselho. No entanto, qualquer uma destas cinco situações pode provocar uma guerra, uma guerra que nos venha a envolver.

Porque, por tratado, somos obrigados a defender a Coreia do Sul, o Japão e as Filipinas. E o "pivot" de Obama para a Ásia é visto por Beijing como uma movimentação estratégica dos EUA para impedir a ascensão da China ao estatuto de superpotência.

A possibilidade de a América ser arrastada para uma nova guerra está a crescer.


Porque não se trata apenas da intimidação de Beijing sobre os seus vizinhos do litoral, o Médio Oriente está a mergulhar num turbilhão.

A Líbia está a desintegrar-se. O Egipto dirigi-se para uma nova ditadura militar. O Sinai é uma terra de ninguém. A Síria está há três anos profundamente envolvida numa guerra civil sectária onde já perderam a vida 130.000 pessoas. Grupos sunitas e do Hezbollah fazem detonar carros-bomba entre si no Líbano. O Iraque está a ser dilacerado por islamistas sunitas em Anbar, uma nova frente de luta contra o regime xiita em Bagdad.

O tribalismo ameaça o Iémen. O Afeganistão pode assistir ao retorno do Talibãs quando de lá sairmos.

O Paquistão, dotado de armas nucleares, está a tentar reconciliar-se com os seus próprios Talibãs. A Al-Qaeda denunciou o Estado Islâmico do Iraque e da Síria pelas atrocidades cometidas e pelas divisões que provocaram na causa rebelde na Síria.

Até mesmo os terroristas jihadistas estão a lutar entre si.

Por trás destes conflitos está um despertar muçulmano, uma luta pela supremacia entre sunitas e xiitas, a rivalidade entre o Irão e a Arábia Saudita pela primazia no Golfo, e os sonhos étnico-nacionais dos Pashtum, Balúchi, Curdos e de outras tribos.

De qualquer modo, é difícil descortinar a existência de algum interesse vital dos EUA de tal modo ameaçado por esses conflitos que possa justificar que mergulhemos numa outra guerra naquela região prenhe de ódio e encharcada de sangue. A sugestão de Sarah Palin, "Deixemos o assunto nas mãos de Alá", começa a soar como o sábio conselho de George Kennan.

Por duas vezes desde o Verão passado, os anti-intervencionistas conseguiram desviar o Partido da Guerra. Primeiro, por via da revolta popular que submergiu os apelos para atacar a Síria. Depois,  neste Inverno, com o bloqueio à imposição de novas sanções contra o Irão que poderiam ter torpedeado as negociações.

Mas, em ambos os casos, os anti-intervencionistas tiveram sucesso porque Obama nunca foi, no seu íntimo, um presidente partidário da guerra. E também porque o país não quer mais guerras.

Um sinal dos tempos foi o do ex-redactor de discursos de Reagan e veterano congressista Dana Rohrabacher ter declarado à C-SPAN que os meios de comunicação dos EUA dão demasiado tempo de antena a McCain e a Graham, pessoas que não transmitem a posição do Partido Republicano quando apelam à acção militar. Eles falam apenas em seu nome.

No entanto, apesar das vitórias dos anti-intervencionistas, os Estados Unidos continuam  reféns da guerra. Remontando aos anos iniciais da Guerra Fria, na década de 1950, assinámos tratados que nos obrigam a lutar por um enorme número de países nos cinco continentes. Só a NATO exige-nos hoje que defendamos 25 países europeus, da Islândia à Estónia.

Dessas garantias em tempo de guerra, quantas são vitais para a segurança dos EUA?

Quantos desses tratados, que podem exigir-nos que entremos em guerra contra potências com armas nucleares como a Rússia e a China devido a disputas sobre pequenas ilhotas e minúsculas nações, a meio mundo de distância, são verdadeiramente do interesse nacional dos Estados Unidos?

As primárias de 2016 são o cenário para o Partido Republicano debater e adoptar uma nova política externa para o século XXI, uma política que rejeite o intervencionismo irracional dos McCains e que nos conduza a circundar, não a defrontar, as guerras do futuro que seguramente irão surgir.

É chegada a hora do conservadorismo anti-guerra - não nos metermos nas disputas dos outros e nas guerras das outras nações - uma das tradições mais antigas e de maior orgulho da república, recuperar o seu legítimo lugar no Grand Old Party.

3 comentários:

JS disse...

Obg. Excelente chamada de atenção. Tema importante.
Mas serão só umas ilhitas, nem sabemos onde, ou "reservas" exploráveis de crude, no meu quintal?.

Eduardo Freitas disse...

Caro JS,

Se olharmos para trás na história, suponho que haverá de tudo.

Saudações

Eduardo Freitas

Floribundus disse...

os gringos sempre intervieram nos conflitos do Novo Mundo,
actuaram em Cuba e nas Filipinas.

a China há muito que seguiu o exemplo nas Filipinas e em África

seguir-se-à a falida Europa

mentem-nos, escondem os factos