segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O plano inclinado dos aquecimentistas

Durante anos (décadas, na realidade) as legiões da fé aquecimentista, aka "alterações climáticas", fustigaram todos aqueles que se atreveram a sugerir a existência de um constatado desfasamento empírico entre o que era possível assistir pelas janelas e se sentia nos ossos (para além das imagens e medições dos satélites) com o que os "modelos" climáticos continuavam a profetizar ("é mais grave do que supúnhamos!"). Esse era o tempo em que, do alto da cátedra cuja lema era "science is settled", se ensinava, com cada vez menos paciência para uns quantos tão teimosos quanto ignaros, que uma coisa era "o tempo" e outra, completamente diferente, era "o clima". E ai de quem misturasse uma coisa com outra! 

Wikipedia
Eis senão quando, perante a passagem sucessiva dos anos sem que as temperaturas subissem (entre 14 a 17 anos, dependendo das diferentes séries estatísticas - "datasets" - utilizadas), o establishment não teve forma de evitar o reconhecimento de que existia de facto uma "pausa" apesar de, assim nos garantiam, isso em nada alterava a "ciência estabelecida" já que o calor em falta (?!) tinha que estar algures (nas profundezas dos oceanos, no espaço sideral, etc.). Mas isto não era afinal suficiente pelo que, para além da continuação das salvas de insultos sobre os "negacionistas" (até o Príncipe de Gales chegou ao ponto de apodar os cépticos de membros de "brigadas de galinhas sem cabeça"), havia que explorar novos (?) caminhos.

Foi pois com muito interesse que dei conta deste artigo: As dúvidas em relação aos modelos climáticos (no original, aqui), através do qual me dei conta que aquela distinção, que se julgava definitivamente estabelecida, talvez não seja tão distinta assim. Depois de se admitir a existência da "pausa" e do embaraço do IPCC perante os "recentes desenvolvimentos" (leia-se, a não subida das temperaturas) confessa-se algo pior que o embaraço: a preocupação com a possibilidade de os políticos deixarem de acreditar na "ciência estabelecida". Que fazer então para recuperar a credibilidade abalada? Pois, é isso mesmo: há que "transferir a tecnologia" da meteorologia para a climatologia até porque aquela melhorou em muito na última dúzia de anos a sua capacidade de previsão a... 3, 5, 7 e 10 dias.

E  o artigo termina procurando convencer os cépticos descansar os crentes:
Significa isto que se pode confiar nas previsões climáticas? Sim. [Como não?]

O sistema da Terra é tão complicado e é regido por tantos retornos [efeitos de retroacção] subtis que é um feito deslumbrante conseguir-se fazer previsões realistas. Ainda assim, muitas previsões climáticas importantes foram confirmadas [Assim mesmo. Ponto final!]. Reduzir os modelos climáticos – ou as complexas técnicas de previsão do estado do tempo em que eles se baseiam – a algo como "fundamentalmente imperfeito" pelo facto de não terem previsto o menor aumento das temperaturas globais na última década seria uma patetice.

Podemos não estar inclinados para confiar nos políticos, mas temos de levar muito a sério a produção destes algoritmos aperfeiçoados. Ao contrário de muitos de nós, os nossos modelos climáticos são cada vez mais capazes de aprender com os seus próprios erros.

2 comentários:

LV disse...

@Eduardo,
Aproveito para lembrar o trabalho de Rui Moura relativamente a este tema. Para além da informação sempre rica em detalhes, do seu sábio cepticismo e ironia sente-se muita falta. Da academia à "esquina de qualquer discussão comum", aquela atitude é muito rara. Podemos sempre (até quando?) regressar ao seu Mitos Climáticos e aprender.
A frase que o Eduardo compôs:
"...as legiões da fé aquecimentista, aka "alterações climáticas", fustigaram todos aqueles que se atreveram a sugerir a existência de um constatado desfasamento empírico entre o que era possível assistir pelas janelas e se sentia nos ossos…" é tão próxima do registo a que Rui Moura nos habituou.
Kudos!
Saudações,
LV

Eduardo Freitas disse...

Luís,

Oportuna e justíssima a referência ao saudoso Engº Rui Moura e ao seu legado blogosférico - o Mitos Climáticos - minha leitura obrigatória deste o seu início (2005), que continua, hoje ainda, a proporcionar uma preciosa fonte de ensinamento científico aliada a numa verticalidade ética de que poucos se podem reclamar.

Saudações