Metais preciosos em perspectiva – o ano de 2013
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China 2/01/2014 |
À medida que vão sendo consolidados os números relativos ao mercado dos metais preciosos para o ano de 2013, eles não podem deixar de surpreender mesmo aqueles que seguem o mercado e as suas dinâmicas. As imagens que se seleccionaram para acompanhar este artigo (cortesia de Koos Jansen) demonstram bem a avidez com que se procura comprar metais preciosos na China. Dir-me-ão que se aproximava o ano do cavalo, mas isso não explica a continuidade de todo o fenómeno e dinâmica que o mercado revela. Já noutro artigo se apontou para os valores relativos à importação de ouro por parte da China (aqui) que quase corresponderam à totalidade da produção mundial.
Para satisfazer este apetite por parte da China (mas houve mais países na Ásia a comprar), só de Londres saíram 1,425 toneladas (t), das quais 152 t com destino aos Emirados Árabes Unidos, 145 t para Hong Kong e 1,128 t para a Suíça. Já agora uma palavra sobre a Suíça, já que muitos poderão estranhar a presença da Suíça nestas contas, em particular quando nos começámos por referir à procura por parte da China. No ano de 2013, a Suíça importou umas extraordinárias 3,082 t de ouro e exportou 2,786 t. É simples, as refinarias suíças nunca trabalharam tanto para refinar e fabricar tantas barras de ouro com destino à... China. Há descrições que dão conta das refinarias suíças terem passado a operar, em 2013, em três turnos (24h), aumentando a capacidade para satisfazer a procura asiática de ouro, procurando manter o volume de negócio que já tinham.
Curiosamente, muito do novo trabalho que passaram a ter está relacionado com barras recebidas, durante 2013, que obedeciam às condições LGD (London Good Delivery) para refinar e reproduzir em pesos mais adequados às novas necessidades. É que estes novos compradores (China e Emirados Árabes Unidos, entre outros) querem barras de 1 quilo e de pureza 9999, não as de pureza mais baixa 9995 e de 400 oz. (barras LGD). O que só por si exemplifica as mudanças que estão a operar-se no mercado do ouro, indiciando outras implicações para o sistema monetário mundial.
Considere-se agora o que se passou com a Índia em 2013. A Índia sempre esteve no lugar cimeiro do consumo de ouro (por razões culturais, religiosas e políticas), mas o governo indiano impôs severas restrições às importações do metal em 2013 (imposto de 10% e leis para obrigar à exportação de 20% do ouro previamente importado pelos operadores). Segundo inúmeros relatos isso só terá impedido a importação oficial e comercial do metal, pois os indianos têm encontrado soluções para ultrapassar esses obstáculos (desde passageiros a aterrar em aeroportos com 1 ou 2 quilos de ouro nas malas – lá isso é legal, desde que para uso pessoal, digamos – ou o contrabando que parece estar na ordem das 10 a 20 toneladas semanais).
Outra solução que os indianos encontraram para corresponder às suas necessidades económicas e políticas (não esquecer a quebra da rupia durante 2013) foi a aquisição de prata. Os números são assombrosos: a Índia importou 6,125 toneladas. Se compararmos com os números de toda a procura mundial para efeitos de investimento em 2013 (7,860 t), é perceptível a dimensão do movimento no mercado indiano relativamente à prata. Este ano haverá eleições na Índia e o actual Ministro do Comércio já avançou a hipótese das restrições à aquisição de ouro serem levantadas. Este será um assunto importante nas eleições, não tenhamos dúvidas. O que será do mercado e do metal disponível, caso os indianos retomem a procura que sempre manifestaram quando não havia sérias restrições?
Para concluir uma rápida espreitadela a 2014. Retomando o caso da China, as importações de ouro até à data correspondem a 369 toneladas. Sendo que na oitava semana de 2014 (17-02-2014 a 21-02-2014) o valor foi de 49 toneladas. Não esqueçamos que a China já é a maior produtora de ouro do mundo (aprox. 430 t) e que não vendem nenhuma porção dessa produção. Em função destes dados, julgo que a hipótese das festividades do novo ano chinês como razão para o aumento da procura não é suficiente.
É caso para perguntar: para que querem tanto metal?
Fontes:
- Koos Jansen
- The Silver Institute
- World Silver Survey 2013
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China 2/01/2014 |
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China 2/01/2014 |
2 comentários:
A escala a que tudo cresce na China (aos milhões ) explica que tambem os milionários e classe media cresçam anualmente em valores pouco usuais para os nossos padrões. tambem os consumos desses milhões devem ser encarados como normais se forem da mesma grandeza.O crescimento "anemico" foi de 7,5%, dando razão ao sempre oportuno FT de que houve retração no crescimento da China
António Cristóvão,
A escala, quando considerada, não ilude a grandeza absoluta de todos estes números.
O que parece é que esta procura (que não tem paralelo na história mundial recente) pode estar relacionada com dois pontos:
- a situação económica e financeira chinesa ameaça desmoronar; ao contrário do que se fez passar por cá logo após a crise de 2008/09, num vídeo em que um responsável chinês defendia que a crise de crédito e dívida que acabava de acontecer no Ocidente seria impossível na por lá, a China está à beira de um valente choque de incumprimentos vários (o banco central já teve de "entrar" - leia-se, colocar dinheiro - em dois fundos que lidavam com crédito a diferentes regiões para efeitos de construção de infra-estruturas; e parece que vem aí um terceiro e muito maior default. Logo...
- por outro lado, com a dívida associada ao papel-moeda (especialmente dólares) a crescer, uma recessão a cristalizar-se nos EUA e Europa, com as dúvidas relativas à saúde das instituições financeiras americanas e europeias há movimentações para criar um novo sistema monetário internacional (a hipótese dos SDR tem muitos adeptos), logo os dólares em que são transaccionados os bens no mercado internacional, tenderão a possuir um valor a tender para zero e, havendo dúvidas, os metais preciosos são uma apólice de seguro.
Por fim, não esqueçamos que o Ocidente foi, nos últimos 500 anos (aprox.), o grande acumulador de ouro. E essa função está a mudar para Oriente. Num ritmo muito rápido, especialmente desde 2009.
Assumiremos, por ingenuidade, que isso é um acaso? Ou que é apenas o consumo daqueles chineses que chegam a poder auferir um salário melhor?
Saudações,
LV
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