segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Uma mentira sustentada mas insustentável

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Consumada a "reforma da fiscalidade verde", já se conhecem quais serão os seus impactos: mais 350 milhões de euros de impostos e regulamentações várias que irão onerar o custo da gasolina e do gasóleo em +6,5 e +5,1 cêntimos por litro, respectivamente. Enquanto ajuda à competitividade das empresas, não está nada mal, não senhor! De resto, Jorge de Vasconcelos, o mesmo que se demitiu de presidente da ERSE quando não obteve do governo de então o acréscimo nas tarifas eléctricas que defendia ser devido pelos consumidores, agora na pele de presidente da Comissão que reviu a "fiscalidade verde" acha que a coisa, na parcela "Fundo de Carbono", "é quase imperceptível" face às oscilações dos preços do petróleo nos mercados internacionais. Moreira da Silva - o "ministro do CO2" na feliz expressão de Mira Amaral - o verdadeiro mentor de tudo isto, nunca escondeu aliás ao que vinha e qual era o objectivo que tinha em mente: "alterar comportamentos" de modo a "conferir padrões de consumo e produção "mais sustentáveis". No fundo, no fundo - como à superfície... - apenas uma variante na busca de um "homem novo" que erige como valor absoluto o "respeito" pela Mãe Natureza e o combate ao aquecimento global às "alterações climáticas".

O estimável Público rejubila, como de resto a generalidade dos nossos media convencionais, tanto mais que o estadista "artesão" acaba de arrancar uma "vitória" em Bruxelas (cf. imagem de notícia do jornal de ontem) que resultou da sua indomável persistência: uma intenção declarada, não vinculativa, de aumentar as interligações da rede eléctrica pan-europeia (com a qual o estadista sonha para "escoar" o excesso de produção eólica de que padecemos e cujos efeitos - défice tarifário combinado com contínuos aumentos nas tarifas de electricidade-, ao contrário do propagandeado, continuam a aumentar).

Portanto, caros leitores, é fácil prever o que ocorrerá no próximo mês de Janeiro: 1) caso os preços do petróleo se mantenham nos níveis actuais por mais uns meses, os preços dos combustíveis irão, grosso modo, regressar aos valores que se observavam antes da recente e acentuada descida da cotação do crude ou, 2) logo que o preço do crude recupere para os nos patamares anteriores, podemos antever as manchetes da nossa imprensa: "os preços da gasolina e do gasóleo atingem valore recorde entre nós!". A culpa, está bem de ver, será do mercado e dos tenebrosos especuladores.

Adenda 1: o descaramento não tem mesmo limites.

Adenda 2: é verdade que cerca de 1/3 do aumento projectado nos combustíveis decorre de novo acréscimo na designada "Contribuição Rodoviária" cuja receita é consignada à Estradas de Portugal. Mas não o é menos, na "filosofia" do ministro do CO2, que seja um imposto "verde" já que naturalmente desencoraja a utilização de veículos nas estradas ao torná-la mais dispendiosa.

3 comentários:

SAC disse...

Caro Eduardo,
É este um ministro de um governo dito liberal? Este governante, que praticamente não se dá por ele no elenco que nos (des)orienta, brinda-nos com mais uma série de regulamentações que mais não fazem do que nos aliviar, via taxas e demais contribuições, do pouco que nos vai restando.
Mas tão mau quanto estas “medidas verdes” em tons laranja, é a alternativa rosa que emerge, e que apesar de em silêncio, não augura nada, mas mesmo nada de bom.
Saudações

Unknown disse...

Ainda se vão sabendo algumas tramoias; no entanto a corporação já se dá ao desplante de aprovar que é secreto os privilégios dos dirigentes.
O Salazar deve dar voltas e mais voltas no estado a que isto chegou.

Eduardo Freitas disse...

Caro SAC,

Subscrevo, naturalmente, o essencial do seu amável comentário. Não obstante, confesso que me interrogo, e com cada vez mais frequência, se não seria melhor que o "Grande Incumprimento", na expressão de Gary North, ocorra mais cedo do que mais tarde...

Caro António Cristóvão,

As maiores mentiras - e de consequências mais devastadoras -ocorrem frequentemente à frente do nosso próprio nariz sem que nos demos conta que assim seja. Modestamente, este blogue tem pretendido lançar alguma iluminação sobre algumas delas.

Saudações,

Eduardo Freitas