O tempo dilui os referenciais da nossa percepção
No cumprimento das tarefas domésticas, deparei-me hoje com a seguinte constatação: aproximadamente há vinte anos, quando fazia as compras do mês, gastava o equivalente a cem euros. Compras essas que enchiam a bagageira (que era gigante, garanto-vos) do veículo que aparece na primeira fotografia. E, por vezes, alguns sacos ainda acabavam por vir nos bancos traseiros.
No cumprimento das tarefas domésticas, deparei-me hoje com a seguinte constatação: aproximadamente há vinte anos, quando fazia as compras do mês, gastava o equivalente a cem euros. Compras essas que enchiam a bagageira (que era gigante, garanto-vos) do veículo que aparece na primeira fotografia. E, por vezes, alguns sacos ainda acabavam por vir nos bancos traseiros.
Vinte anos volvidos e cumprindo a mesma tarefa, acabo de gastar 150 euros e o resultado dessas compras cabe na bagageira do veículo que surge nesta segunda foto.
Essa constatação suporta a conclusão de que, não obstante a maior variedade de bens disponíveis e a superior qualidade relativa de alguns dos produtos comprados, estes vinte anos não podem ser, de modo simplificado, entendidos como um período de enriquecimento e prosperidade generalizada. Esta crença, que políticos e tecnocratas nacionais ou europeus tanto se esforçam por promover, é falsa.
O aumento de salários numa moeda que parece comprar cada vez menos coisas, não pode ser sinónimo de enriquecimento. Pelo menos para aqueles cujo salário depende da escolha livre dos demais cidadãos.
Dificilmente esquecerei este episódio na próxima vez que ouvir algum político ou burocrata a dizer-me que será positivo que a inflação seja positiva em dois pontos percentuais. Até porque ele me arde na carteira.
Reconheçamos, todavia, a qualidade destes "mágicos" - sejam políticos, economistas ou iluminados burocratas dos bancos centrais - na capacidade de ir, mansamente, diluindo os referenciais que temos para proceder a uma percepção objectiva da realidade em que vivemos. Até ao dia...
Nota: trocou-se a segunda imagem, pois havia dificuldades ao carregar a imagem original; o modelo é, obviamente, o mesmo.
O aumento de salários numa moeda que parece comprar cada vez menos coisas, não pode ser sinónimo de enriquecimento. Pelo menos para aqueles cujo salário depende da escolha livre dos demais cidadãos.
Dificilmente esquecerei este episódio na próxima vez que ouvir algum político ou burocrata a dizer-me que será positivo que a inflação seja positiva em dois pontos percentuais. Até porque ele me arde na carteira.
Reconheçamos, todavia, a qualidade destes "mágicos" - sejam políticos, economistas ou iluminados burocratas dos bancos centrais - na capacidade de ir, mansamente, diluindo os referenciais que temos para proceder a uma percepção objectiva da realidade em que vivemos. Até ao dia...
Nota: trocou-se a segunda imagem, pois havia dificuldades ao carregar a imagem original; o modelo é, obviamente, o mesmo.
6 comentários:
Mt bom. Claramente no alvo. O nível de vida melhorou, mas com equidade?.
A prova provada do que o pudim dito União(!) Europeia / Moeda Única(!)Euro não é grande coisa ... para muitos.
Claro que em ouvidos cheios de clubite política a alegria é ganhar uma eleição (!). Pura anedótica clubite.
Por um lado nunca poderá haver "uniões", política/moeda, enquanto houver dois garnizés na capoeira:
Um culturalmente, germanicamente euro-hegemónico.
O outro xenófobo intransigente, militante.
Por outro repare-se: como podem cantar em uníssono os PMs dos "Países" da dita UE/MU se estão todos em tempos de mandato diferentes.
Uns predulários porque perto de eleições, outros a desculpar-se com um "encontrar a casa toda de pernas para o ar" e a trocar de "boy"...?.
Todos acossados pelos Srs. do dinheiro, os que pagaram os festins eleitorais.
Será que perante estes recentes factos algo poderá acontecer?.
Corrigir esta UE/MU ?. Reduzir, circunscrever ?. Estaca zero?.
Saudações.
Caro JS,
Os dados para fazer comparações são muitos, mas o tempo (e a magia que assinalei no texto) faz com que não tenhamos presentes os referenciais mais objectivos. E se falarmos no preço das habitações, uiii! No final dos anos setenta, uma casa custa dois mil contos. Neste século, volvidos trinta anos (aprox.) a mesma é vendida por 270 mil euros sem obras de manutenção ou melhoramentos estruturais. Carros? Vários artigos alimentares essenciais? É melhor ficar por aqui.
No caso das casas, algo me diz que, para além daquilo que podia ser uma dinâmica de mercado relativa à relação entre a procura e a oferta e consequente mudança nos seus preços, a grande razão da subida do seu preço (sem correspondente qualidade na construção, especialmente no parque habitacional mais recente) é a maturidade dos créditos bancários. Marosca que foi vantajosa para construtores (e associados políticos, claro!) e para os bancos. Que acabam por prender e parasitar o cliente por mais tempo e por quantidades maiores do fruto do seu esforço e trabalho.
Quanto ao pudim europeu que refere, tem toda a razão. Este episódio da Grécia - especialmente as declarações dos mais elevados representantes políticos de ambos os lados - deveriam ser um "case study" do que de pior a Europa representa. Deveria fazer-nos acordar do sono dogmático em que vivemos face ao projecto europeu.
Se ele pode encerrar potencialidades inegáveis, tomou proporções e modos semelhantes aos mais asfixiantes regimes totalitários. Mesmo se os mais crentes ficam escandalizados com esta comparação, basta seguir este recente episódio em torno das negociações da situação grega. É, inegavelmente, a emergência de um zombie que estava adormecido, mas estava lá. Entenda-se por zombie esta tendência totalitária de concretizar pela ameaça, chantagem e ofensa algumas duvidosas (e nunca escrutinadas democraticamente) ideias acerca da Europa...
Alguns tentarão ganhar eleições com os argumentos que sobram de ambos os lados deste problema grego. Sejam os socialistas comuns, ou os nacionalistas de diferentes origens (igualmente socialistas, mas menos comuns).
Ambos podem ganhar alguma coisa com o momento. Mas durará pouco. O próximo abalo será suficiente para uma derrocada mais abrangente.
Para quando o fim desta doença, lenta e asfixiante?
Saudações,
LV
Há vinte anos 1/3 das suas compras tinha iva 0% isento, outro 1/3 tinha iva 8% e o restante era 15%.
Hoje até produtos que antigamente eram considerado de 1ª necessidade são taxados a 23%.
Julgo que este factor seja o mais importante.
Luís Barreiro,
Efectivamente, os impostos aumentaram. Considero que qualquer análise séria e descontaminada de politiquices acerca do custo de vida tem de incluir, justamente, os aumentos consideráveis dos impostos que nos pesam nos bolsos.
Por coincidência há um estudo publicado hoje, creio, por um especialista (manchado pela politiquice, é certo) que dá uma imagem mais completa do círculo que fizemos após 25 anos de CEE/ZE. De sublinhar, todavia, que o argumento de termos uma carga fiscal elevada, mas apesar de tudo mais leve que os parceiros europeus, não nos deve deixar bem na foto. Já que somos, desde o início do sonho dogmático europeu, receptores de verbas consideráveis para "viver à europeu (leia-se alemão)". O que nos deveria ter aliviado a carga fiscal.
Veja um artigo acerca do estudo aqui.
Os impostos explicam muito, mas não explicam tudo.
Saudações,
LV
LV. Não se podia ser mais claro.
A dita União Europeia, em Portugal, tem que ser analizada pelo que realmente tem sido para o cidadão comum português.
Os gregos já poderam dizer o que pensavam do "circo"...
Ps. Se a UE fosse assim tão boa os gregos teriam votado como votaram?
Não será que esta UE é só boa (quiçá muito boa) para alguns, poucos?.
Espectador e, mas, obviamente interessado. Saudações.
Não se podia ser mais claro.
Euro-Skeptic William Hague: "I Was Right In 1998, And I Am Right Today"
http://www.zerohedge.com/news/2015-07-09/euro-skeptic-william-hague-i-was-right-1998-and-i-am-right-today
Três frases:
"... The first is that this crisis is not the fault of the Greek people....". (notar: "people").
"... The third and final truth will be the hardest one of all for those responsible for the euro to accept: that this is not just about one country ...." (sabemos por "saber de exeperiência feito")
"... their textbook is likely to say that the Greek debacle of 2015 was not the end of the euro crisis, but its real beginning.".
Será assim tão difícil, hoje em dia, perceber isto?.
Em vez de tentar caricatamente salvar(?) este "insalvável" euro, não seria melhor poupar os povos das Nações europeias deste negro ex-presságio ?.
A história julgará severamente muitas das recentes e actuais egocêntricos, senão paranóicas, políticas e, sobretudo, políticos.
PS. Diga-se em abono da verdade que é para o lado que dormirão melhor, nas suas "vilas" no Sul de França, Espanha ... Grécia, Portugal ou nas quintas sobranceiras ao Douro ....
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