quinta-feira, 26 de junho de 2014

Zonas não conhecidas do nosso universo monetário

Acabado de publicar, o relatório anual da equipa da Incrementum é uma ferramenta muito útil para compreender os "tempos económicos" em que vivemos. Ou experimentar uma cartografia das zonas inéditas do universo monetário que, sem ilusões, habitamos. Especialmente quando se procura compreender quem ganha e quem perde com as políticas actuais dos governos e bancos centrais. FMI incluído, claro.
O relatório possui, igualmente, análises de variados cenários económicos e geoestratégicos futuros, o papel do ouro e da prata em carteiras de investimento diversificado (comparações com dólares, petróleo, acções em diferentes combinações). Complementando o conteúdo e o interesse dos mais recentes comentários dos nossos leitores, traduz-se a seguinte passagem (o relatório é uma versão mais extensa do que o habitual), acrescentando-se o sublinhado.
Ronald-Pete Stoeferle & Mark J. Valek (Junho, 2014), “In Gold We Trust” - Incrementum p.19

"No actual sistema monetário, profundamente fraccionário, um fenómeno deflacionário no crédito teria consequências importantes para a economia real, em particular no sistema bancário. A permanente expansão da oferta de moeda e crédito tornam-se fins em si mesmos no actual sistema de moeda-crédito.
Esta é a verdadeira razão pela qual a deflação é, nos dias de hoje, a nemesis dos governadores dos bancos centrais.
O objectivo de todos os organismos, de todos os seres humanos e de toda a burocracia é maximizar as suas hipóteses de sobrevivência. Nesta perspectiva, a deflação representa uma ameaça existencial ao actual sistema monetário, que tem de ser combatida por todos os meios. Por forma a esconder a instabilidade inerente do sistema de crédito, as políticas extremamente expansivas dos bancos centrais continuarão a compensar a deflação no crédito.
Na nossa opinião, isto representa um acto de equilibrismo sobre o fio da navalha."

5 comentários:

voza0db disse...

Se querem manter este sistema monetário por mais uns tempitos então resta cessar de imediato com os QE's, aumentar as taxas de juros, e desfraccionar o papel-moeda!

Caso contrário, resta esperar pelo colapso... E se observar-mos os tempos que nos últimos +- 100 anos cada forma de sistema monetário se aguentou, então estamos já a dever tempo à casa!

LV disse...

voza0db,

A primeira hipótese que avança não me parece possível. Já se passou o Rubicão há muito. Veja: parar os programas QE - veja o Japão a parar de comprar títulos de dívida e não há mais agentes a comprar; os títulos americanos a dois anos (leilão esta semana, creio) também registaram um procura muito débil; a FED está (segundo JRickards) a estrangular a liquidez com a economia a abrandar; se aumentar as taxas de juro, bem então é que vai ser uma vaga de defaults na dívida, que fica demasiado cara para pagar; "desfraccionar" o papel moeda é contranatura no actual sistema e implica mudanças que apenas o reconhecimento do buraco permitiria… os políticos não querem ter de pagar o custo político e moral da admissão.

Quanto a esperar pelo colapso, bem ele há-de parecer longínquo, distante. Até ter acontecido. Mas há ainda a possibilidade de as elites burocráticas, políticas e financeiras apostarem num aprofundamento da centralização e encaminhamento para um banco central global, uma moeda única global e - quem sabe! - um governo mundial.
É essa a conclusão a que chego quando oiço e leio James Rickards… e não fico nada descansado.
E o voza0db, fica descansado com essa hipótese?
Estamos mesmo a viver com tempo emprestado.

Saudações,
LV

JS disse...

Sem "inimigo" externo, o que é que alimentaria a propaganda "estatal" dos burocratas com semelhante poder "mundial"?. Esse governo (também) soçobraría, não sem antes causar mossa.

A "defesa" das moedas (Dolar, Euro, Rublo, Renminbi) está a desempenhar o papel de causa nobre, suporte de vida, "causa comum", das diferentes burocracias no poder. Sendo que os respectivos "Banqueiros Centrais", como se tem assistido, até obtêm o privilêgio de imunidade judicial! ....
O Pendão Euro suporta, a burocracia UE.
Resulta que por cá o mexilhão é carne para canhão. Paciência. Mas já não morre. Apenas passa mal. Definitivamente um progresso civilizacional.
(Os cozinheiros, esses, sempre ficavam na base e entretinham-se as fazer pitéus).
Saudações.

voza0db disse...

Como é lógico as soluções que escrevi não vão ser de certeza absoluta implementadas... Afinal de contas eles estão melhor que nunca! As fortunas não param de insuflar, ao sabor das bolhas mobiliárias e do HFT...

E se eles estão bem para quê andar a criar maremotos?

Resta-nos esperar pelas declarações de "surpresa" que vão acontecer daqui por uns meses quando se ouvir o POP de uma das primeiras bolhas que rebentar!

Será algo semelhante ao evento de 2007 mas devidamente ampliado pois o volume das bolhas é superior ao de 2007!

Só em derivativos no final de 2013 a coisa ia nuns modestos > $219 triliões!

Pelos vistos algo se estará a passar pois a agência do Treasury americano ainda não publicou dados do 1T14!

Mas enfim... O que importa é ir distraindo a malta com futebol e agora uns concertos de verão, que depois quando tudo rebentar, eles apresentam a factura e nós PAGAMOS!

Cumps

LV disse...

JS,

"Mas já não morre. Apenas passa mal. Definitivamente um progresso civilizacional. " - Muito bom! Não se esqueça que a hipótese de governo mundial encerra todas as maravilhas de um "mundo controlado, afinado e mantido" segundo os ditames de uma Razão.

voza0db,

Derivativos rima com bombas ao retardador, efectivamente. E é no plural, pois elas estão por todo o lado.
Mas espere… já oiço um som distante… dos concertos de verão. "Sigam não há nada para ver aqui" é o que parece dizer uma voz em off, nesta peça monumental.

Saudações,
LV