segunda-feira, 14 de julho de 2014

Acção na periferia da periferia

No início de uma semana importante - e seguramente intensa nos bastidores - traduz-se o último artigo de Doug Noland. Nele se articulam alguns dos mais recentes episódios em Portugal relativamente ao sistema bancário e potenciais relações com problemas de carácter mais sistémico, de âmbito nacional ou europeu. Naquilo que parece ser uma revisitação da Grande Crise Financeira de 2007 (para usar a terminologia do BIS). A tradução e a edição do artigo que aqui se apresenta deve ser vista como um convite à leitura integral do mesmo (assim como o artigo de Ben Stein).
Parece tornar-se claro que, a manter-se a actual conjuntura, bastarão incidentes (aparentemente) mais pequenos e insignificantes para a deflagração de uma nova Crise. Que faria, segundo muitos, a de 2007 parecer apenas uma pequena réplica que antecipa fenómenos tectónicos mais abrangentes e intensos.
Doug Noland, "2014 vs. 2007" - 11 de Julho de 2014

"Não pude deixar de relembrar o artigo de Ben Stein no Verão de 2007, enquanto os especialistas estiveram, na última semana, a desvalorizar o facto de Portugal poder ter algum impacto na gigantesca economia dos EUA e nos inflacionados mercados financeiros.(...) Na periferia, as coisas pareciam estar boas.



Durante este ano, vários indicadores de percepção do risco no mercado desceram aos níveis mínimos da Crise de Crédito de 2007. Recordação desagradável da segunda parte de 2007, os juros da dívida pública desceram, inesperadamente, numa situação em que o mercado se revela de risco elevado.
Assim, ainda recuperando 2007, a exuberância no mercado foi alimentada pelas percepções de uma infindável e acessível liquidez, bem como pela acção, supostamente, inteligente das autoridades que tudo tinham sob controlo. De um modo simples, hoje aceita-se como indiscutível que os bancos centrais, por esse mundo fora, não vão tolerar o regresso da crise financeira.
O maior problema, passada metade de 2014, é que os bancos centrais não tenham, afinal, a situação sob controlo. Sim, eles podem continuar a criar moeda agressivamente, alimentando as bolhas dos mercados financeiros. Mas isto nada ajuda a corrigir as deficiências económicas estruturais. De modo nenhum, a inflação monetária pode corrigir os desiquilíbrios económicos e financeiros.
Como tal, a liquidez dos bancos centrais e as constantes interferências nos mercados, estabeleceram o palco para inevitáveis e problemáticos ajustamentos do mercado. (...)
O resultante colapso histórico nos juros da periferia europeia não são menos do que milagrosos. Infelizmente, este disparo nos mercados pode ter enriquecido os especuladores, mas pouco fez para reparar os estragos estruturais na economia.
Suspeito que assim que a energia da Bolha se dissipar, os medos relativos à solidez do sistema bancário europeu vão, rápida e seguramente, reaparecer. De facto, a divergência entre mercados financeiros e as pobres perspectivas económicas terão criado fragilidades graves.
As fragilidades surgiram esta semana no sistema bancário português. Problemas no Banco Espírito Santo, rapidamente se espalharam pelos índices europeus e, respectivos, juros de dívida.
Pode ser demasiado cedo para ficar excitado com efeitos de contagio. No entanto, a comunidade de especuladores, enormemente alavancada, pode ser um mecanismo de transmissão para os mercados globais de risco. Os mercados europeus – em claro momento de bolha – parecem, a este ponto, uma aposta de alto risco.
Em Portugal, a dívida pública (130%) é suplantadapela dívida das empresas (250% do PIB). A economia portuguesa vai provavelmente contrair em 2014. Irá apresentar mais um importante déficite fiscal e uma teimosa taxa de desemprego nos 15%. Os inflacionados mercados de activos têm mascarado muita da ansiedade económica, social e política por todo o continente.
Segundo a minha perspectiva analítica, o mercado português reside na periferia da periferia - um devedor exposto às inflexões do mercado ou da liquidez. Por isso, estarei atento aos desenvolvimentos desta semana."

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