A verdade de muitas mentiras
A entrevista que a seguir se propõe é-me muito querida. Em primeiro lugar, pela sabedoria que dela se pode tirar. Há uma naturalidade, uma disponibilidade em traduzir, de modo simples e elegante, os desafios e obstáculos que enfrentamos na economia global, poluída por governos, bancos centrais e demais interesses especiais a eles associados.
Em segundo lugar, pela coragem (terá alcance moral) de defender, não só aquilo em que se acredita, mas aquilo que é racionalmente justificado, numa adequação entre princípios, meios e fins. Assistir a este exercício de desmontagem dos mitos e da dissimulação que povoam o discurso político (económico e financeiro, igualmente) com tamanha elegância e humor é invulgar. Exemplos? Que tal a frase: "Macroeconomia é política mascarada de álgebra". Ou ainda: "Ser bom investidor é ter toda a gente a concordar comigo. No futuro".
O entrevistado é Jim Grant que, para além da inteligência e do laço que exibe, se faz também acompanhar de uma pequena porção de "trabalho condensado".
A entrevista contempla vários temas, dos quais se destacam:
- inflação e deflação - esclarecimentos conceptuais e exemplos práticos;A entrevista que a seguir se propõe é-me muito querida. Em primeiro lugar, pela sabedoria que dela se pode tirar. Há uma naturalidade, uma disponibilidade em traduzir, de modo simples e elegante, os desafios e obstáculos que enfrentamos na economia global, poluída por governos, bancos centrais e demais interesses especiais a eles associados.
Em segundo lugar, pela coragem (terá alcance moral) de defender, não só aquilo em que se acredita, mas aquilo que é racionalmente justificado, numa adequação entre princípios, meios e fins. Assistir a este exercício de desmontagem dos mitos e da dissimulação que povoam o discurso político (económico e financeiro, igualmente) com tamanha elegância e humor é invulgar. Exemplos? Que tal a frase: "Macroeconomia é política mascarada de álgebra". Ou ainda: "Ser bom investidor é ter toda a gente a concordar comigo. No futuro".
O entrevistado é Jim Grant que, para além da inteligência e do laço que exibe, se faz também acompanhar de uma pequena porção de "trabalho condensado".
A entrevista contempla vários temas, dos quais se destacam:
- as taxas de juro como instrumentos de deturpação económica;
- as voltas nos balanços dos bancos a convite da FED (a "economia virtual");
- não obstante o publicitado abrandamento do programa QE americano, a FED continua a injectar liquidez pela compra de activos;
- o mercado da arte também tem ciclos;
- a exigência de considerar o dinheiro como um padrão das relações económicas;
- 2007/8 foi uma crise do crédito, mais do que do dinheiro;
Por fim, Grant faz referência ao seu próximo livro. Terá a atenção focada na esquecida depressão americana de 1920, ponto fulcral para compreender a década seguinte.
Pouco mais de trinta minutos imperdíveis.
Terão os leitores identificado a porção "de trabalho condensado"?
4 comentários:
Anónimo,
E acrescenta muito bem. O artigo que indica é surpreendente a vários níveis.
Por um lado, só agora o Económico começa a dar mais visibilidade a "visões mais realistas". Pergunto-me (porque não tenho acompanhado, de perto, o referido jornal) se também deu visibilidade às declarações do BIS e de um dos seus mais importantes directores J. Caruana, que descrevem - com muito mais profundidade que o World Gold Council, diga-se - o problema em que a Economia mundial se encontra. Sem rodeios para um alto responsável internacional, especialmente de uma instituição tão discreta quanto o BIS.
O casino "vai em alta roda" sem dúvida e os juros dos papéis soberanos, o preço de títulos de empresas (e por aí fora) estão para lá do que a economia real pode fazer corresponder na produção de riqueza.
Por outro lado, o artigo parece indiciar aquilo que a FED deseja (e que afirma de modo subtil e ambíguo) de uma transição que não seja rápida e desordenada. A correcção tem de operar-se e será "bem-vinda" se for ordeira. Será que o Missionário (http://espectadorinteressado.blogspot.pt/2014/06/o-fim-desta-narrativa.html) está a dizer-nos algo?
Saudações,
LV
Anónimo,
Esqueci-me de perguntar se descobriu a "porção de trabalho condensado"?
LV
Caro LV,
Creio que já deve ter assistido ao documentário The Money Masters (http://www.youtube.com/watch?v=HfpO-WBz_mw), parece que tanto os autores como Jim Grant sabem bem que as principais crises económicos foram sempre despoletadas pelo mesmo gatilho, as políticas da FED.
Como bem sabemos têm sido as políticas da FED a insuflar as bolhas desde 2007, será então que o missionário quer alterar o jogo ou apenas tenta limpar a água do capote? Não nos esqueçamos que um dos principais motivos da sua criação era mesmo evitar os ciclos de recessão, que pelos vistos têm sido criados por esta.
Estará então a FED a tentar organizar uma transição que não seja rápida e desordenada? Pois não me parece, esta transição era para Ontem e não para Amanhã. Estamos a lutar contra uma bomba relógio em que ainda teremos que lidar com o facto de estarem espalhados vários detonadores que poderão explodir esta bomba antecipadamente, um exemplo a bolha imobiliária colossal que a China detém e nem mesmo a ordem política do país parece conseguir ocultar.
O que nos resta então como Nação? O default, a sáída da zona euro e regresso a uma moeda própria? E então o que nos resta como indivíduos perante uma população massivamente desinformada. Talvez isso mesmo informar, como bem fazem o LV, Jim Grant e tantos outros. Mas temos que ser realistas e perceber que estes não passam de pequenas pérolas isoladas numa ilha. Teremos então duas saídas: uma o colapso financeiro global a uma escala que a Humanidade nunca assistiu e a partir daí a reconstrução das bases primordiais, a outra seria a apresentada no documentário que referi acima a qual de momento está fora de questão sem o apoio das massas. Uma coisa é certa iremos assistir na nossa geração ao que será um ponto incontornável da nossa civilização, mesmo que me custe a admitir talvez seja mesmo a velha teoria da conspiração de uma Nova Ordem Global controla por uma Elite já existente.
Seria a porção de "trabalho condensado" de Jim Grant alguma anotação em suas mãos ou facto de estar tão bem preparado para a entrevista ao ponto de acautelar-se e trazer uma moeda física para representar uma das desvantagens das BitCoins?
Cpts
Anónimo,
Comecemos pelo seu último parágrafo: a porção de trabalho condensado é, efectivamente, a American Golden Eagle (AGE) de 1 onça; essa porção não representa um risco para ninguém, não é uma promessa ou um título e, para existir, teve de resultar do esforço e trabalho de alguém. Dinheiro honesto, portanto.
Mesmo que se considerem os contributos da perspectiva "freegold" - em que nada pode ser simultaneamente uma Reserva de Valor (RdV) e Meio de Troca (MdT), nem mesmo o ouro -, é inegável a relevância de algo poder traduzir um esforço de poupança ao longo de milhares de anos. Mas, aqui, divago.
Repare que a história económica, monetária e financeira mundial dos últimos cem anos está ligada às políticas da FED. Não é apenas desde 2007, é desde a sua concepção. E não precisamos de tentar compreender a história a partir de uma visão conspirativa (se bem que o tempo vá passando e as "teorias da conspiração" passem a ser "factos conspirativos").
Há uma intencionalidade na construção institucional de todos os bancos centrais (tomemos a FED como tal, ainda que seja detida por instituições privadas) que não devia escapar-nos. Ela está inscrita na história, basta saber interpretar as ligações entre causas e efeitos. Julgo que a cobertura dada a políticas desastrosas por parte dos bancos centrais, deve-se à lente ideológica que, tanto estes como os governos, possuem para compreender a realidade económica e social. Por outro lado, julgo que há um consenso muito alargado entre aqueles que participam, caucionando e legitimando pelo voto, nos processos políticos relativamente àquela visão ideológica. O que surpreende é que, tendo vindo a dor do confronto com a realidade a aumentar consideravelmente, muitos pareçam insistir em dar mais poder às "soluções" que nos trouxeram até aqui.
A possibilidade de um default. Bem, impossível não será. Inédito também não seria ("jubileus há muitos"), mas as máquinas de controlo da percepção estão bem oleadas para impedir discussões sérias e consequentes. Passei, há pouco, por um estabelecimento comercial que tinha uma televisão a transmitir… a marcha interminável de carros funerários com os restos mortais das vítimas da tragédia aérea da Ucrânia com os comentários de Fareed Zakaria…
Ora responder a questões como:
Analisar os últimos relatórios do BIS?
As intervenções de Jaime Caruana?
Hipótese de novo pacote de ajuda (FMI, EU, EUA) à Ucrânia?
Discutir as revisões em baixa, por parte do FMI, das perspectivas de crescimento das mais importantes economias?
Nacionalização de bancos cipriotas?
É viável o modelo de negócio bancário?
Viabilidade da dívida portuguesa?;
entre tantas outras de relevante importância, isso é que não pode ser. Mas os sinais estão por aí. Há que dar-lhes atenção e ser consequente.
Saudações,
LV
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