«Ora esta situação brutal e sem disfarces, mais as suas consequências recessivas, no desemprego, no empobrecimento dos portugueses, devia ser o centro do debate político português e não é. Com dois partidos, PS e PSD, completamente subordinados a uma lógica mediática, e com uma comunicação social muito contente com a "produção" de eventos, desafios, ultimatos, "arrasamentos", prazos terminais, ameaças e contra-ameaças, a política soma-se ao futebol, mais o ocasional acidente, para facilitar a vida das redacções e permitir a "narrativa" espectacular do entretém que nos distrai da realidade. O domínio da coreografia é total, ocasionalmente interrompido por um pico de realidade que obriga a mais um PEC qualquer, mas, no dia-a-dia, o alheamento dos agentes políticos dos problemas reais do país chega a ser afrontoso. O efeito é dar da política portuguesa um espectáculo de irrealidade e distância que traduz não só defeitos antigos, que se acentuaram geracionalmente, como seja o fascínio de "viver na imprensa", mas é também um efectivo espectáculo de impotência.»
(José Pacheco Pereira, Público, 11-09-2010)
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