sábado, 1 de outubro de 2011

A lúgubre ciência e seus intérpretes

«Os economistas e espécies análogas, com a sua incerta ciência1 e a sua prática de explicar o inexplicável, têm feito muito mal ao mundo. A crise, infelizmente, multiplicou a espécie ou, pelo menos, fê-la sair dos buracos universitários e outros por onde andava escondida, escrevendo livros e artigos que ninguém lia ou a que ninguém ligava. Agora, pontifica pela televisão e pelos jornais, onde vende opiniões com a convicção com que antigamente os boticários e os médicos vendiam ervas para doenças incuráveis. O público, aterrorizado, ouve e acredita e não pergunta por que razão aqueles sábios dizem isto em vez daquilo ou, mais precisamente, porque ainda se atrevem a dizer seja o que for, quando, com toda a sua erudição e importância, nos levaram a um enorme desastre, que era seu dever evitar.

O único que nos preveniu, durante anos e com a força que as circunstâncias mereciam, acabou por ser o dr. Medina Carreira. Ora, Medina Carreira, para a agente que se acumulava nos bancos, nas universidades e no Estado (quando nãos nos três sítios ao mesmo tempo), era um excêntrico e um desequilibrado e não se devia tomar a sério.»

Vasco Pulido Valente, Público, 2011-10-01
Certíssimo no que aos media tradicionais respeita. Injusto para a não consideração de um punhado largo de bloggers (que devem inexistir, suponho, para Pulido Valente) nomeadamente os próximos da escola austríaca. Esta realidade é, também, um sinal da ortodoxia keynesiana e da "síntese neoclássica" que se mantêm, intocáveis, nos pedestais das nossas faculdades de ensino da Economia. Hoje, como há 35 anos atrás.
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Thomas Carlyle designou-a de "dismal " que talvez se possa traduzir por "lúgubre".

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